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O papel contra-ataca
Editoras e
gráficas brasileiras apostam na edição
e impressão de
livros sob encomenda; nova tecnologia permitiu melhorar
o acabamento e diminuir custos, o que pode tirar do limbo milhares de títulos atualmente
esgotados
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto todos aguardam a
"revolução do digital", que pode esvaziar as prateleiras e mudar o conceito de leitura, uma
outra transformação está em
curso no mundo editorial, e no
sentido inverso. É a aposta na
impressão sob encomenda ("on
demand"), que está mobilizando editoras e gráficas e pode tirar do limbo milhares de títulos
fora de catálogo.
O grupo Ediouro, um dos
maiores do país, é um dos principais apostadores. Lançou a
editora Sinergia para resgatar
títulos esgotados do próprio
grupo e de outras editoras também. Em dois meses de atividade, incluiu 110 títulos e vendeu
1.000 exemplares.
"Para todos os livros tem um
comprador", diz Alberto
Schprejer, editor da Sinergia.
"Isso tem a ver com a teoria da
"cauda longa" [do livro homônimo de Chris Anderson]. Segundo essa estratégia de negócios,
a meta é vender poucas unidades de muitos e variados itens.
Antiga parceira da Ediouro, a
gráfica paulista Bandeirantes,
uma das pioneiras na área,
também está apostando de forma pesada no segmento.
"Foram quase 15 anos para
fazer a maturação", diz Enrique
Reyna, gerente de contas da
empresa, que atende editoras
como Ática, Scipione, Global,
Annablume, Elsevier e Pearson. Ele diz que a chave para a
transformação foi a evolução
da qualidade gráfica -atualmente igual à da impressão tradicional- e a queda dos custos.
"Nos Estados Unidos e na Europa a tendência é que as tiragens caiam. Algumas editoras e
gráficas já têm o foco apenas na
impressão digital."
A Bandeirantes lança na segunda um serviço batizado de
BandBook, em que o usuário
poderá comprar os títulos diretamente do portal da empresa.
O títulos ainda se limitam
àqueles já negociados com as
editoras conveniadas, mas a
gráfica pretende fechar acordo
com um grande número de editoras.
Pretende absorver a
gestão do livro desde a comercialização e impressão até
a entrega ao leitor.
Uma das editoras
que mais promete
se beneficiar da tecnologia é a universitária Unesp. Ela foi
uma das pioneiras.
Em 1995 chegou a
ter impressora própria, mas desistiu
oito anos depois.
Voltou ao sistema
há três anos.
"Pelos avanços
técnicos o cenário
mudou", diz Jézio
Hernane Bomfim
Gutierre, diretor-executivo da editora. "Estamos notando há algum tempo. Com catálogo grande, com mais de 1.000
títulos, você tem uma faixa de
20% a 30% de livros que ficam
esgotados. Não temos recursos
para reimprimir. Esse sistema
é uma maneira de viabilizar e
manter todo o catálogo vivo."
Segundo ele, em menos de um
ano "todo o catálogo de 1.200
títulos será vivo".
Outra editora pioneira no setor foi a gaúcha L&PM, que introduziu a impressão sob demanda em 1996 e a manteve
por três anos. "Nós trabalhamos muito nisso, introduzimos
ganhos tecnológicos", diz o editor Ivan Pinheiro Machado.
A L&PM é a editora mais
bem-sucedida no segmento de
livro de bolso do país. Machado
diz que a impressão de baixas
tiragens permitiu a diversificação e a experimentação, importantes para o desenvolvimento
do segmento. "Se não fosse essa
máquina não teríamos feito a
nossa coleção de bolso", diz.
Mas ele se mostra cético. Segundo ele, a impressão sob encomenda "é uma utopia. Não dá
para revogar a lei da economia
de escala".
É a mesma opinião de Sérgio
Machado, presidente da Record, a maior editora do país,
que acaba de anunciar investimentos de R$ 10 milhões. O objetivo é dobrar a capacidade de
impressão, para 10 milhões de
exemplares por ano.
Para isso, a editora apostou
tanto nas altas tiragens como
na impressão digital -a mesma
que permite edições unitárias.
"Para pequenas tiragens o digital é a melhor solução", diz.
Mas, em baixas tiragens, a Record pretende investir em títulos com 600 ou 800 exemplares, e não partir para a edição
sob encomenda. Para Machado, essa impressão vai beneficiar sobretudo as editoras universitárias e jurídicas e os títulos sob domínio público. "A
questão é de modelo de negócio", diz.
Para ele, o que impede o Brasil de avançar na impressão sob
demanda é uma questão legal.
"Desde a Lei de Direitos Autorais [nº 9.610/98],
os autores passaram a migrar para
contrato por tempo
determinado, o que
não ocorre nos
EUA. No nosso modelo trabalhamos
cinco anos, daí precisamos recomprar
o livro."
Se no Brasil a impressão sob encomenda ainda está se
esboçando, nos
EUA está em franca
expansão. Segundo
a revista "Publishers Weekely", o
número de títulos
lançados pelo sistema nos EUA superou em 2008 pela
primeira vez a cifra
de títulos da impressão tradicional.
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