São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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Crítica

"Aline" tenta parecer moderna, mas se perde em meio a clichês

Na TV, personagem baseada em tira de Adão Iturrusgarai não mantém força

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Será que a rede de TV mais tradicional do país, a poderosa TV Globo, consegue ser moderna? Bem, o seriado "Aline", que estreou na última quinta-feira, mostra duas coisas:
1) Eles estão tentando.
2) Eles ainda não conseguiram. Na tentativa de alcançar a modernidade perdida, a rede pegou alguns ingredientes óbvios: uma personagem bacana, a Aline, do Adão Iturrusgarai, quadrinista da Folha, um cenário "descolado", misturou isso com animação, uma trilha sonora "do rock" e um figurino "de brechó". Se ficou moderno?
Por enquanto, não. Aline, a das histórias em quadrinho, tem dois namorados, Pedro e Otto, e é principalmente isso que faz da moça uma libertária (ou uma "moderna"). Na TV, o caso de amor a três é apenas sugerido de leve.
Eles moram juntos e, no meio dos diálogos, o fato de Pedro e Otto serem os dois namorados da protagonista é falado apenas por alto.
Na hora em que eles podiam dormir juntos na cama (e o caso ficar explícito), isso é escamoteado, já que a personagem passou um creme no rosto e, por isso, os meninos preferem nem chegar perto dela.
O que apareceu mesmo no primeiro capítulo do seriado foi uma trama (sem graça) envolvendo três jovens de 20 e poucos anos, de São Paulo, que moram em um prédio legal (o famoso Copan), têm internet sem fio, gostam de rock e não trabalham direito nem estudam.
Até que uma hora a grana acaba e eles precisam se virar para continuar bancando seus luxos de classe média.

Clichês "moderninhos"
Claro, Aline tem um emprego em uma loja de discos e um psicanalista. Aí, sobram clichês. "Toda" garota moderna trabalha em loja de discos. E o psicanalista, bem, ele é um tarado que não ouve o que Aline fala em uma das sessões porque ela não pagou a consulta.
Porque, como se sabe, "todo" psicanalista é "mão de vaca". Aline é simpática até. Mas quem conhece a personagem das tirinhas percebe que, por enquanto, na TV, ela perde boa parte da personalidade.
Tudo bem, ela se joga em um chafariz porque gosta de fazer uma coisa "bem louca" quando está deprimida e é fofa. Mas a graça do seriado (que teoricamente é de humor) ainda não existe. Se ela vai aparecer nos próximos episódios, ainda vamos ter que esperar. O mesmo vale para a "modernidade". Não basta apenas colocar trilha sonora do CSS (o Cansei de Ser Sexy, a banda brasileira que faz sucesso na cena indie daqui e de fora) para fazer com que alguma coisa seja moderna.

Roteiro cafona
Engraçado é que Aline é exibido após a série "A Grande Família", onde a trama é "careta": uma família de classe média de subúrbio tentando levar a vida. Mas a personagem Nenê (Marieta Severo), a mãe de classe média de subúrbio, e a manicure Matilde (Andréa Beltrão), uma mulher solteira que tem vários casos, até com o filho da amiga Nenê, são muito mais engraçadas, inteligentes e, porque não dizer, modernas do que o programa que mostra os paulistanos de 20 e poucos anos de elite.
E nisso, sem querer, Aline acaba acertando. Ser moderno não tem nada a ver com idade. Nem com trilha sonora.


ALINE

Quando: às quintas, depois de "A Grande Família"
Onde: na TV Globo
Classificação: não informada
Avaliação: regular




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