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Crítica
"Aline" tenta parecer moderna, mas se perde em meio a clichês
Na TV, personagem baseada em tira de Adão Iturrusgarai não mantém força
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Será que a rede de TV
mais tradicional do país,
a poderosa TV Globo,
consegue ser moderna? Bem, o
seriado "Aline", que estreou na
última quinta-feira, mostra
duas coisas:
1) Eles estão tentando.
2) Eles ainda não conseguiram. Na tentativa de alcançar a modernidade perdida, a
rede pegou alguns ingredientes
óbvios: uma personagem bacana, a Aline, do Adão Iturrusgarai, quadrinista da Folha, um
cenário "descolado", misturou
isso com animação, uma trilha
sonora "do rock" e um figurino
"de brechó". Se ficou moderno?
Por enquanto, não.
Aline, a das histórias em quadrinho, tem dois namorados,
Pedro e Otto, e é principalmente isso que faz da moça uma libertária (ou uma "moderna").
Na TV, o caso de amor a três é
apenas sugerido de leve.
Eles
moram juntos e, no meio dos
diálogos, o fato de Pedro e Otto
serem os dois namorados da
protagonista é falado apenas
por alto.
Na hora em que eles
podiam dormir juntos na cama
(e o caso ficar explícito), isso é
escamoteado, já que a personagem passou um creme no rosto
e, por isso, os meninos preferem nem chegar perto dela.
O que apareceu mesmo no
primeiro capítulo do seriado
foi uma trama (sem graça) envolvendo três jovens de 20 e
poucos anos, de São Paulo, que
moram em um prédio legal (o
famoso Copan), têm internet
sem fio, gostam de rock e não
trabalham direito nem estudam.
Até que uma hora a grana
acaba e eles precisam se virar
para continuar bancando seus
luxos de classe média.
Clichês "moderninhos"
Claro, Aline tem um emprego em uma loja de discos e um
psicanalista. Aí, sobram clichês.
"Toda" garota moderna trabalha em loja de discos. E o psicanalista, bem, ele é um tarado
que não ouve o que Aline fala
em uma das sessões porque ela
não pagou a consulta.
Porque,
como se sabe, "todo" psicanalista é "mão de vaca".
Aline é simpática até. Mas
quem conhece a personagem
das tirinhas percebe que, por
enquanto, na TV, ela perde boa
parte da personalidade.
Tudo
bem, ela se joga em um chafariz
porque gosta de fazer uma coisa "bem louca" quando está deprimida e é fofa. Mas a graça do
seriado (que teoricamente é de
humor) ainda não existe. Se ela
vai aparecer nos próximos episódios, ainda vamos ter que esperar. O mesmo vale para a
"modernidade". Não basta apenas colocar trilha sonora do
CSS (o Cansei de Ser Sexy, a
banda brasileira que faz sucesso na cena indie daqui e de fora)
para fazer com que alguma coisa seja moderna.
Roteiro cafona
Engraçado é que Aline é exibido após a série "A Grande Família", onde a trama é "careta":
uma família de classe média de
subúrbio tentando levar a vida.
Mas a personagem Nenê (Marieta Severo), a mãe de classe
média de subúrbio, e a manicure Matilde (Andréa Beltrão),
uma mulher solteira que tem
vários casos, até com o filho da
amiga Nenê, são muito mais
engraçadas, inteligentes e, porque não dizer, modernas do que
o programa que mostra os paulistanos de 20 e poucos anos de
elite.
E nisso, sem querer, Aline
acaba acertando. Ser moderno
não tem nada a ver com idade.
Nem com trilha sonora.
ALINE
Quando: às quintas, depois de "A Grande Família"
Onde: na TV Globo
Classificação: não informada
Avaliação: regular
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