|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reinvenção de si próprio é constante
de Washington
Os superlativos usados para des
crever a importância de Bob Dylan
parecem não ter limites nestes dias
apologéticos: Einstein da música,
encarnação da contracultura, Fe
llini do rock, compositor do século
são alguns dos apostos utilizados
por revistas e jornais nos EUA.
Nem sempre foi assim. Em 1963,
"Time" dizia que a voz de Dylan
"parece escapar das paredes de
um sanatório de tuberculosos".
Em 1970, seu disco "Self Portrait"
foi destroçado pela crítica. Em
1979, "Slow Train Coming", que
marcava sua conversão do judaís
mo para o cristianismo evangélico
(revertida poucos anos depois), foi
considerado o fim da linha.
Mas a constante reinvenção de si
próprio é a marca mais distinta
dos 35 anos de existência desse
personagem (em 1959, o estudante
universitário e aspirante a músico
Robert Zimmerman mudou o so
brenome para Dillon, em home
nagem ao herói do faroeste Matt
Dillon, e, em 62, para Dylan, em
honra do poeta Dylan Thomas).
Ele começou como redescobri
dor do folclore, passou para can
tor de protesto, inspirou o icono
clastismo, teve momentos líricos,
viveu a fase erótica, fez hinos de
louvor a Cristo e muito mais.
Há algumas linhas condutoras
de seu trabalho que, no entanto,
permaneceram estáveis. Como
seus versos enigmáticos mas car
regados de substância, evidente
produto de uma intensa experiên
cia existencial. Ou o tom anasala
do de sua voz, que parece indicar
ao ouvinte que o seu som não é
produzido no peito mas na cabeça.
Sua importância para a história
do rock é indiscutível. Apesar de
nunca ter sido artista de multi
dões, Dylan influenciou de manei
ra decisiva muitos deles, como os
Beatles. John Lennon creditava em
grande parte a Dylan a complexi
dade musical e poética que o grupo
adquiriu após 1965.
James Taylor, Paul Simon, Neil
Young, Joni Mitchell, sem falar em
Joan Baez, são produtos de Dylan.
A influência de Dylan chega até os
músicos de hoje, apesar do solene
desprezo com que ele os trata
("tudo o que eu ouço no rádio ho
je é muito fraco; os grandes astros
de hoje, você nem vai lembrar dos
seus nomes daqui a dois anos"),
no trabalho de artistas como Jewel
e Beck, sem falar de grupo Wallflo
wers, de seu filho Jakob.
(CELS)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|