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CRÍTICA
Audacioso, disco soa chique demais
da Reportagem Local
Tem madame no samba. O desafio a que Olivia Byington se propôs
era duplamente audacioso: sua voz
aguda não é a de uma sambista
inata, nem tampouco Aracy de Almeida é figura fácil a encarar.
O que acontece é o encontro de
uma cantora que sempre pretendeu a sofisticação com a mais despudoradamente popular -e naturalmente sofisticada- de todas
que o Brasil já teve.
Choque
OK, o choque há. Ainda que Olivia adapte sua voz ao samba -ou
à voz impostada de Aracy-, não
há como haver termo de comparação. É como, para citar Noel, tentar plantar palmeira do mangue
em Copacabana.
Tudo ainda soa chique demais,
perdendo-se a espontaneidade da
voz triste de Aracy. Isso torna-se
até secundário no caso, porém.
Pois, afinal, alguém volta seus
olhos, nestes anos que correm, para a importância da pioneira e irascível musa de Noel Rosa.
Jurada ranzinza
Se em vida Aracy foi atirada ao
limbo e reduzida, no imaginário
popular, a jurada ranzinza do programa de calouros de Silvio Santos, depois de morta também não
vem sendo de fato muito bem tratada.
Se suas gravadoras -a Continental principalmente- não dão
a Aracy a atenção devida (quem
mais que Aracy merecia uma homenagem naquele formato caixa
de luxo?), ao menos temos o esforço de Olivia em formigar o interesse pela dama.
No mais, deixadas de parte as
rusgas históricas, oferece-se aqui
um banquete de canções insuperáveis da história popular nacional.
É o caso, por exemplo, de "Fez
Bobagem", de Assis Valente,
"Engomadinho", de Claudionor
Cruz e Pedro Caetano, "Menina
Fricote", de Marília e Henrique
Batista, ou "Rapaz Folgado", de
Noel.
De sobremesa, a Velha Guarda
da Portela enriquece "Com Que
Roupa" e "O Orvalho Vem Caindo". Quase mata a saudade de dona Aracy.
(PAS)
Disco: A Dama do Encantado - Tributo a
Aracy de Almeida
Artista: Olivia Byington
Lançamento: MPB/WEA
Quanto: R$ 18, em média
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