São Paulo, sexta, 3 de outubro de 1997.




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Jaess remonta 'Bonde' de Tennessee Williams

ANNA LEE
free-lance para a Folha

O diretor Kiko Jaess, 48, apresenta a sua segunda montagem para a peça "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams, depois de 23 anos de sua primeira encenação, a partir de hoje, no teatro Tereza Rachel (Copacabana, zona sul do Rio).
"Resolvi montar de novo porque acho que da primeira vez não fiz direito. Eu tinha apenas 25 anos e não tinha pulmão para respirar a profundidade da obra de Tennessee Williams", disse Jaess.
"Um Bonde Chamado Desejo" conta a história de Blanche Dubois, que, mesmo arruinada, obrigada a morar no pequeno e pobre apartamento de sua irmã Stella, insiste em manter os modos de garota mimada.
O marido de Stella, Stanley Kowalski, tenta destruir o mundo de ilusões de Blanche até levá-la à loucura. O cenário é Nova Orleans, sul dos Estados Unidos.
Jaess explica que a maior diferença entre sua atual montagem e a primeira está no enfoque. "As mudanças são conceituais. A experiência de vida me trouxe lucidez. Só hoje entendo o real significado de algumas palavras de Tennessee", disse.
Segundo Kiko Jaess, são frases como: "Eu nunca digo a verdade, sempre digo aquilo que deveria ser a verdade", "Relações com estranhos eram as únicas coisas capazes de encher meu coração vazio" e "O desejo é o oposto da morte" que o ligam à obra de Williams.
"Ele trata da condição humana. Fala da crueldade e das mazelas das pessoas, sem condená-las. De certa forma glorifica o marginal. É isso que me apaixona na obra dele. Eu sou um marginal", disse Jaess.
O desejo de montar a peça de Tennessee Williams levou Jaess a Nova York, em 1974. Ele não conhecia o autor, mas partiu decidido a conseguir o direito de encenar "Um Bonde Chamado Desejo".
Após várias tentativas sem sucesso de falar com Tennessee Williams, acabou encontrando-o num bar. Jaess se aproximou do autor e disse uma das frases da peça ("Acabei de lavar meus cabelos"). Williams quis saber se ele estava falando de sua Blanche.
A pergunta foi suficiente para que começassem a conversar.
"Foi uma situação tão fantástica que não sei quanto tempo durou nossa conversa. Tennessee tomou vários Martinis", disse Jaess.
O diretor saiu do bar com um guardanapo no qual Williams lhe dava o direito de encenação não só de "Um Bonde Chamado Desejo", mas de outras peças. Entre elas, "Gata em Teto de Zinco Quente".
Na primeira montagem de Kiko Jaess, Eva Wilma fez o papel de Blanche Dubois. Antes, três outras atrizes brasileiras conseguiram interpretações marcantes da personagem: Henriette Morineau, na direção de Ziembinski, no início da década de 50, Maria Fernanda, dirigida por Augusto Boal, em 1965, e Tereza Rachel, na direção de Maurice Vaneau, em 1985.
Kiko Jaess fará uma homenagem a essas atrizes na estréia.


Peça: Um Bonde Chamado Desejo
Direção: Kiko Jaess
Com: Flávia Pucci, Roberto Bontempo e Irving São Paulo
Onde: Teatro Tereza Rachel (rua Siqueira Campos, 143, sobreloja 49, tel. 021/235-1113)
Quando: estréia hoje, às 21h30. Qui a sáb, às 21h30, matinê na qui, às 17h, dom, às 20h30
Quanto: R$ 10 a R$ 20



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