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Jaess remonta 'Bonde' de Tennessee Williams
ANNA LEE
free-lance para a Folha
O diretor Kiko Jaess, 48, apresenta a sua segunda montagem para a peça "Um Bonde Chamado
Desejo", de Tennessee Williams,
depois de 23 anos de sua primeira
encenação, a partir de hoje, no teatro Tereza Rachel (Copacabana,
zona sul do Rio).
"Resolvi montar de novo porque acho que da primeira vez não
fiz direito. Eu tinha apenas 25 anos
e não tinha pulmão para respirar a
profundidade da obra de Tennessee Williams", disse Jaess.
"Um Bonde Chamado Desejo"
conta a história de Blanche Dubois, que, mesmo arruinada, obrigada a morar no pequeno e pobre
apartamento de sua irmã Stella, insiste em manter os modos de garota mimada.
O marido de Stella, Stanley Kowalski, tenta destruir o mundo de
ilusões de Blanche até levá-la à loucura. O cenário é Nova Orleans, sul
dos Estados Unidos.
Jaess explica que a maior diferença entre sua atual montagem e
a primeira está no enfoque. "As
mudanças são conceituais. A experiência de vida me trouxe lucidez.
Só hoje entendo o real significado
de algumas palavras de Tennessee", disse.
Segundo Kiko Jaess, são frases
como: "Eu nunca digo a verdade,
sempre digo aquilo que deveria ser
a verdade", "Relações com estranhos eram as únicas coisas capazes
de encher meu coração vazio" e
"O desejo é o oposto da morte"
que o ligam à obra de Williams.
"Ele trata da condição humana.
Fala da crueldade e das mazelas
das pessoas, sem condená-las. De
certa forma glorifica o marginal. É
isso que me apaixona na obra dele.
Eu sou um marginal", disse Jaess.
O desejo de montar a peça de
Tennessee Williams levou Jaess a
Nova York, em 1974. Ele não conhecia o autor, mas partiu decidido a conseguir o direito de encenar
"Um Bonde Chamado Desejo".
Após várias tentativas sem sucesso de falar com Tennessee Williams, acabou encontrando-o
num bar. Jaess se aproximou do
autor e disse uma das frases da peça ("Acabei de lavar meus cabelos"). Williams quis saber se ele estava falando de sua Blanche.
A pergunta foi suficiente para
que começassem a conversar.
"Foi uma situação tão fantástica
que não sei quanto tempo durou
nossa conversa. Tennessee tomou
vários Martinis", disse Jaess.
O diretor saiu do bar com um
guardanapo no qual Williams lhe
dava o direito de encenação não só
de "Um Bonde Chamado Desejo",
mas de outras peças. Entre elas,
"Gata em Teto de Zinco Quente".
Na primeira montagem de Kiko
Jaess, Eva Wilma fez o papel de
Blanche Dubois. Antes, três outras
atrizes brasileiras conseguiram interpretações marcantes da personagem: Henriette Morineau, na
direção de Ziembinski, no início
da década de 50, Maria Fernanda,
dirigida por Augusto Boal, em
1965, e Tereza Rachel, na direção
de Maurice Vaneau, em 1985.
Kiko Jaess fará uma homenagem
a essas atrizes na estréia.
Peça: Um Bonde Chamado Desejo
Direção: Kiko Jaess
Com: Flávia Pucci, Roberto Bontempo e
Irving São Paulo
Onde: Teatro Tereza Rachel (rua Siqueira
Campos, 143, sobreloja 49, tel.
021/235-1113)
Quando: estréia hoje, às 21h30. Qui a sáb,
às 21h30, matinê na qui, às 17h, dom, às
20h30
Quanto: R$ 10 a R$ 20
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