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28ª MOSTRA
Longa de Epstein tem trilha
Clássico ganha som eletrônico ao vivo
DA REDAÇÃO
"Durante um dia inteiro de outono, escuro, sombrio, silencioso,
em que as nuvens pairavam baixas e opressoras nos céus, passava
eu a cavalo, sozinho, por uma região singularmente monótona
-e, quando as sombras da noite
se estendiam, finalmente me encontrei diante da melancólica Casa de Usher. Não sei como foi
-mas, ao primeiro olhar lançado
à construção, uma sensação de insuportável tristeza me invadiu o
espírito."
Assim tem início um dos mais
conhecidos -e angustiantes-
contos de Edgar Allan Poe (1809-49), "A Queda da Casa de Usher".
O narrador recebera uma carta de
um antigo amigo, Roderick Usher, chamando-o à sua casa, num
local afastado, onde vive com a irmã, Lady Madeline. O fantástico e
o terror (ou o medo) dominam a
história, em que Roderick, obcecado pela irmã gêmea, retrata-a
em quadro, a fim de preservá-la.
Nascido na Polônia, o francês
Jean Epstein (1897-1953) transpôs
o conto para o cinema, em 1928,
neste que é tido como o primeiro
filme fantástico feito na França.
Epstein tinha como assistente de
direção Luis Buñuel.
Em seu longa, mudo, o cineasta
alterou sutilmente a história:
aqui, Roderick e Madeline são
marido e mulher (Epstein temia,
na época, insinuações de incesto).
Tão assustador quanto em livro,
o filme foi lançado em DVD por
aqui neste ano. Hoje, será apresentado dentro da Mostra, em
exibição única, acompanhado, ao
vivo, por uma trilha sonora composta pelo DJ francês Joakim.
Joakim é um dos principais nomes da eletrônica francesa no
momento. É um dos "capos" do
selo/site Tigersushi (www.tigersushi.com), referência da nova
música produzida na Europa.
A idéia da junção filme-trilha
aconteceu há um ano e meio, a
convite de um festival parisiense.
"Não tinha visto o filme. Tive que
assisti-lo umas dez vezes, fazendo
anotações, formatando idéias.
Depois tive só dois meses para
concluir o projeto", disse à Folha.
"É uma atmosfera fantástica,
com efeitos visuais incríveis para
a época", diz Joakim, sobre como
produziu a trilha. "O filme usa
"slow motion", então tento seguir
esse ritmo com a música, aumentando e diminuindo sua intensidade. Uso samples de orquestras,
sons concretos, barulhos de relógio, de utensílios de cozinha..."
A interação sincronizada entre
um filme clássico e uma trilha ao
vivo de eletrônica não é coisa nova. Jeff Mills fez ("Metrópolis", de
Fritz Lang), Pet Shop Boys fez
("Encouraçado Potemkin", de Eisenstein, ao vivo na Trafalgar
Square, em Londres), para ficar só
em alguns exemplos.
Joakim afirma não ter feito esta
apresentação mais do que dez vezes -uma delas em Cannes. "Há
uma estrutura básica. Durante a
exibição, altero e utilizo alguns
efeitos. Mas as pessoas estão ali
para assistir ao filme; a música
não pode ser tão ou mais importante do que o filme."
(TN)
A QUEDA DA CASA DE USHER. Direção:
Jean Epstein. Produção: França/EUA,
1928. Quando: hoje, às 22h, no Cinesesc.
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