São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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28ª MOSTRA

Longa de Epstein tem trilha

Clássico ganha som eletrônico ao vivo

DA REDAÇÃO

"Durante um dia inteiro de outono, escuro, sombrio, silencioso, em que as nuvens pairavam baixas e opressoras nos céus, passava eu a cavalo, sozinho, por uma região singularmente monótona -e, quando as sombras da noite se estendiam, finalmente me encontrei diante da melancólica Casa de Usher. Não sei como foi -mas, ao primeiro olhar lançado à construção, uma sensação de insuportável tristeza me invadiu o espírito."
Assim tem início um dos mais conhecidos -e angustiantes- contos de Edgar Allan Poe (1809-49), "A Queda da Casa de Usher". O narrador recebera uma carta de um antigo amigo, Roderick Usher, chamando-o à sua casa, num local afastado, onde vive com a irmã, Lady Madeline. O fantástico e o terror (ou o medo) dominam a história, em que Roderick, obcecado pela irmã gêmea, retrata-a em quadro, a fim de preservá-la.
Nascido na Polônia, o francês Jean Epstein (1897-1953) transpôs o conto para o cinema, em 1928, neste que é tido como o primeiro filme fantástico feito na França. Epstein tinha como assistente de direção Luis Buñuel.
Em seu longa, mudo, o cineasta alterou sutilmente a história: aqui, Roderick e Madeline são marido e mulher (Epstein temia, na época, insinuações de incesto).
Tão assustador quanto em livro, o filme foi lançado em DVD por aqui neste ano. Hoje, será apresentado dentro da Mostra, em exibição única, acompanhado, ao vivo, por uma trilha sonora composta pelo DJ francês Joakim.
Joakim é um dos principais nomes da eletrônica francesa no momento. É um dos "capos" do selo/site Tigersushi (www.tigersushi.com), referência da nova música produzida na Europa.
A idéia da junção filme-trilha aconteceu há um ano e meio, a convite de um festival parisiense. "Não tinha visto o filme. Tive que assisti-lo umas dez vezes, fazendo anotações, formatando idéias. Depois tive só dois meses para concluir o projeto", disse à Folha.
"É uma atmosfera fantástica, com efeitos visuais incríveis para a época", diz Joakim, sobre como produziu a trilha. "O filme usa "slow motion", então tento seguir esse ritmo com a música, aumentando e diminuindo sua intensidade. Uso samples de orquestras, sons concretos, barulhos de relógio, de utensílios de cozinha..."
A interação sincronizada entre um filme clássico e uma trilha ao vivo de eletrônica não é coisa nova. Jeff Mills fez ("Metrópolis", de Fritz Lang), Pet Shop Boys fez ("Encouraçado Potemkin", de Eisenstein, ao vivo na Trafalgar Square, em Londres), para ficar só em alguns exemplos.
Joakim afirma não ter feito esta apresentação mais do que dez vezes -uma delas em Cannes. "Há uma estrutura básica. Durante a exibição, altero e utilizo alguns efeitos. Mas as pessoas estão ali para assistir ao filme; a música não pode ser tão ou mais importante do que o filme." (TN)


A QUEDA DA CASA DE USHER. Direção: Jean Epstein. Produção: França/EUA, 1928. Quando: hoje, às 22h, no Cinesesc.


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