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Gore "estrela" documentário político
Vice-presidente dos EUA no governo Clinton é foco de longa sobre os perigos do aquecimento global
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano antes de se tornar vice-presidente dos EUA (na administração Bill Clinton), o senador Al Gore esteve no Rio. Na
Eco-92, Gore discutia as perspectivas do futuro do planeta
do ponto de vista ambiental.
Este continua sendo o seu assunto em "Uma Verdade Inconveniente", documentário
de Davis Guggenheim que estreou ontem no Brasil, já com o
rótulo de filme-fenômeno.
Desde "Fahrenheit 11 de Setembro" (2004), de Michael
Moore, um documentário não
atraía tanta atenção. A diferença, a favor de "Uma Verdade Inconveniente", é que o filme teve acolhida unânime entre os
críticos de cinema mais importantes dos EUA e dos demais
países onde já foi exibido.
O curioso é que nem Gore
nem Guggenheim planejaram
fazer esse filme. Depois de perder a eleição presidencial para
George W. Bush, Gore voltou às
suas atividades extra política
partidária -como professor
universitário, conselheiro da
Apple e do Google e, sobretudo,
presidente da Generation Investment Management, empresa dedicada à causa do desenvolvimento sustentável.
Ao assistir a uma das mil
apresentações da palestra de
Gore sobre o aquecimento global -e a necessidade de adotar
medidas políticas para detê-lo-, um grupo de produtores
viu a chance de um bom filme.
Entre esses produtores está
Jeff Skoll, da Participant Productions, o amigo-sócio de
George Clooney em "Boa Noite
e Boa Sorte". Para a tarefa de
transformar novamente um assunto espinhoso em sucesso,
Skoll e cia convidaram Guggenheim, diretor de séries de TV
("24 Horas", "Alias") com passado, aparentemente enterrado, de documentarista.
Guggenheim começou tratando Gore por "senhor vice-presidente" e se sentia intimidado de olhar "o cara que vai estar no livro de história de seus
netos", como conta em texto
distribuído à imprensa.
Mas a aproximação entre os
dois evoluiu o bastante para o
diretor tocar em assuntos da vida privada do "personagem",
que Guggenheim usa no filme
como contraponto emocional à
racionalidade da palestra, que
ocupa o centro da "ação".
Sim, "Uma Verdade Inconveniente" é basicamente uma palestra filmada. Mas não qualquer palestra. Na forma, Gore e
Guggenheim lançam mão da
multimídia, como a animação,
e de "efeitos" para, por exemplo, fazer Gore elevar-se junto
de um índice de um gráfico.
Mas o que interessa no documentário é mesmo o seu discurso verbal. Com a apresentação de estudos, Gore primeiro
define o aquecimento global e
sustenta que não há, no universo científico, um único trabalho
sério que coloque em dúvida a
existência do fenômeno.
A partir daí, ele usa exemplos
para demonstrar como a situação vem se agravando exponencialmente e aponta o nó da
questão ou a inconveniente
verdade: encaradas como entrave ao desenvolvimento econômico-industrial, medidas essenciais para conter o aquecimento global são recusadas por
países e governos e países, EUA
à frente. Mas, se esse processo
não for revertido, o planeta caminha para a destruição.
Porém "Uma Verdade..." não
é um filme-catástrofe. Gore
deixa claro que não quer tirar
os cidadãos do estado de negação do problema diretamente
para o pânico do fim iminente.
O que ele pede é engajamento
civil para forçar mudanças. Enfim, política no dia-a-dia.
UMA VERDADE INCONVENIENTE
Direção: Davis Guggenheim
Produção: EUA, 2006
Quando: em cartaz nos cines Bristol 5, Reserva Cultural 2 e circuito
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