São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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Gore "estrela" documentário político

Vice-presidente dos EUA no governo Clinton é foco de longa sobre os perigos do aquecimento global

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano antes de se tornar vice-presidente dos EUA (na administração Bill Clinton), o senador Al Gore esteve no Rio. Na Eco-92, Gore discutia as perspectivas do futuro do planeta do ponto de vista ambiental.
Este continua sendo o seu assunto em "Uma Verdade Inconveniente", documentário de Davis Guggenheim que estreou ontem no Brasil, já com o rótulo de filme-fenômeno.
Desde "Fahrenheit 11 de Setembro" (2004), de Michael Moore, um documentário não atraía tanta atenção. A diferença, a favor de "Uma Verdade Inconveniente", é que o filme teve acolhida unânime entre os críticos de cinema mais importantes dos EUA e dos demais países onde já foi exibido.
O curioso é que nem Gore nem Guggenheim planejaram fazer esse filme. Depois de perder a eleição presidencial para George W. Bush, Gore voltou às suas atividades extra política partidária -como professor universitário, conselheiro da Apple e do Google e, sobretudo, presidente da Generation Investment Management, empresa dedicada à causa do desenvolvimento sustentável.
Ao assistir a uma das mil apresentações da palestra de Gore sobre o aquecimento global -e a necessidade de adotar medidas políticas para detê-lo-, um grupo de produtores viu a chance de um bom filme.
Entre esses produtores está Jeff Skoll, da Participant Productions, o amigo-sócio de George Clooney em "Boa Noite e Boa Sorte". Para a tarefa de transformar novamente um assunto espinhoso em sucesso, Skoll e cia convidaram Guggenheim, diretor de séries de TV ("24 Horas", "Alias") com passado, aparentemente enterrado, de documentarista. Guggenheim começou tratando Gore por "senhor vice-presidente" e se sentia intimidado de olhar "o cara que vai estar no livro de história de seus netos", como conta em texto distribuído à imprensa.
Mas a aproximação entre os dois evoluiu o bastante para o diretor tocar em assuntos da vida privada do "personagem", que Guggenheim usa no filme como contraponto emocional à racionalidade da palestra, que ocupa o centro da "ação".
Sim, "Uma Verdade Inconveniente" é basicamente uma palestra filmada. Mas não qualquer palestra. Na forma, Gore e Guggenheim lançam mão da multimídia, como a animação, e de "efeitos" para, por exemplo, fazer Gore elevar-se junto de um índice de um gráfico.
Mas o que interessa no documentário é mesmo o seu discurso verbal. Com a apresentação de estudos, Gore primeiro define o aquecimento global e sustenta que não há, no universo científico, um único trabalho sério que coloque em dúvida a existência do fenômeno.
A partir daí, ele usa exemplos para demonstrar como a situação vem se agravando exponencialmente e aponta o nó da questão ou a inconveniente verdade: encaradas como entrave ao desenvolvimento econômico-industrial, medidas essenciais para conter o aquecimento global são recusadas por países e governos e países, EUA à frente. Mas, se esse processo não for revertido, o planeta caminha para a destruição. Porém "Uma Verdade..." não é um filme-catástrofe. Gore deixa claro que não quer tirar os cidadãos do estado de negação do problema diretamente para o pânico do fim iminente.
O que ele pede é engajamento civil para forçar mudanças. Enfim, política no dia-a-dia.


UMA VERDADE INCONVENIENTE
Direção:
Davis Guggenheim
Produção: EUA, 2006
Quando: em cartaz nos cines Bristol 5, Reserva Cultural 2 e circuito


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