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Última Moda
@ - Alcino Leite Neto
Made in Portugal
Semana fashion no Porto mostra o
melhor da moda portuguesa; empresas
do país iniciam investida no Brasil
VIVIAN WHITEMAN
ENVIADA ESPECIAL AO PORTO
Portugal está redescobrindo
o Brasil. Em busca de novos
consumidores de moda, empresas portuguesas estão iniciando uma grande investida
no mercado brasileiro com o
objetivo de transformá-lo, ao
lado dos países do Leste Europeu, num dos principais focos
de exportação dos produtos
têxteis lusitanos.
Os esforços nesse sentido ganharam peso em julho deste
ano, com a presença dos estilistas portugueses Anabela Baldaque e Miguel Vieira na São Paulo Fashion Week. "A participação deles na próxima edição da
SPFW já está praticamente fechada", afirma Paulo Nunes de
Almeida, presidente da ATP
(Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal).
As peças desfiladas pelos dois
criadores, que estão entre os
mais bem-sucedidos em seu
país, já estão à venda na loja
Clube Chocolate. "Vamos usar
essa experiência com o consumidor brasileiro como um termômetro para as nossas novas
ações", acrescenta Almeida.
O projeto de ação dos portugueses prevê ainda outras
ações de pesquisa. "Queremos
que os compradores brasileiros
venham ver nossos desfiles e,
ao mesmo tempo, estamos
mandando equipes ao Brasil
para investigar de perto as preferências do mercado", diz Maria Alberta Canizes, diretora do
Icep (Instituto das Empresas
para os Mercados Externos).
A ATP, ao lado do Icep e da
Anje (Associação Nacional de
Jovens Empresários), organiza
o Portugal Fashion, evento que
acontece na cidade do Porto
desde 1995. Os desfiles da temporada verão 2007 ocorreram
na última semana, juntamente
com o Brand-up, showroom de
grifes locais, que, a partir desta
edição, passou a integrar o calendário paralelo do evento.
Espremida entre o poder de
Paris e a tradição de Milão, a
moda portuguesa ainda está
procurando seu estilo, o que ficou evidente nas passarelas do
Portugal Fashion.
Entre os grandes nomes da
moda do país, como Miguel
Vieira e Fátima Lopes, reina
um estilo ornamental, pautado
por um tipo de luxo feito sob
medida para a elite tradicional,
mas sem nenhuma novidade.
Já entre os jovens criadores
desponta uma vontade de inovar e levar à moda a mesma vibração das ruas do Porto, por
onde circula uma juventude
moderna e cheia de estilo.
Nesse bloco, destacam-se Felipe Oliveira Baptista, que desfila na alta-costura de Paris, a
grife Pedro Waterland, que
neste ano fez uma promissora
estréia no prêt-à-porter parisiense, e os novatos Pedro Pinto e Filipe Trindade, que mostraram peças joviais e comercialmente viáveis, apontando o
caminho da renovação.
A jornalista Vivian Whiteman viajou ao Porto a
convite do Icep Portugal.
Um português na alta-costura
Com um trabalho que se destaca pelas construções arquitetônicas bem realizadas, o estilista português Felipe Oliveira
Baptista, 31, desponta como um
dos jovens criadores mais promissores da moda mundial.
Nos últimos anos, o talento
de Baptista ultrapassou os limites da moda portuguesa e ganhou destaque na França, o que
rendeu ao designer um lugar no
restrito calendário de moda da
alta-costura, em Paris.
Influenciado por Balenciaga,
um de seus ídolos e inspiradores, o designer conversou com a
Folha após a sua apresentação
no Portugal Fashion.
FOLHA - Como você começou sua
carreira internacional?
FELIPE OLIVEIRA BAPTISTA - Estudei
na Inglaterra e, após a faculdade, acabei recebendo algumas
ofertas de trabalho. Na Itália,
trabalhei para a Max Mara. Na
França, para as maisons Christophe Lemaire e Cerruti. Passei
pelo prêt-à-porter parisiense e,
desde 2005, estou na alta-costura, apadrinhado pela Hermès
e por Jean-Paul Gaultier.
FOLHA - Você ficou surpreso com a
repercussão muito positiva de suas
coleções de alta-costura?
BAPTISTA - É claro que eu me esforcei desde o início para apresentar um trabalho de altíssima
qualidade, porque isso é o mínimo que se espera de um estilista que consegue chegar nesse
circuito tão concorrido. Mas
quando vieram as boas críticas
fiquei surpreso, sim, além de
muito feliz e aliviado!
FOLHA - O mercado brasileiro está
nos seus planos?
BAPTISTA - Está. As brasileiras
têm um grande senso de estilo,
e acredito que elas poderiam se
identificar muito bem com as
minhas criações. Atualmente
busco ampliar meus pontos de
venda nos Estados Unidos e na
China, mas o Brasil certamente
está dentro das metas para o futuro da minha marca.
Casa de Criadores
Evento recupera o fôlego no último dia
A Casa de Criadores decidiu
se mudar do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, para o Hotel Renaissance, um dos
mais caros dos Jardins, onde
aconteceram nesta semana, de
segunda a quarta, os desfiles da
temporada verão 2007.
A mudança trouxe bons resultados: o evento ficou mais
sintético e menos confuso; a
apresentação, mais organizada;
e a preocupação com os desfiles
foi mais forte do que o desejo de
inventar performances para
ocupar o espaço público.
Mas a mudança também deixou a Casa de Criadores menos
divertida e com uma certa afetação nouveau-riche, que parece ter atingindo em cheio parte
dos estilistas. Com efeito, o que
se viu nos dois primeiros dias
do evento foi uma série de exibicionismos extravagantes,
com projetos de moda antiquados e pretensiosos, sem falar
nas imagens femininas kitsch.
É compreensível que costureiros queiram criar roupas sofisticadas, mas é preciso fazê-lo
com um olho na atualidade, sobretudo do país, buscando uma
linguagem própria e atenta às
demandas atuais da mulher.
Simplicidade e boas idéias podem fazer mais pela moda brasileira do que alguns rolos de
tafetás, rendas e cetins.
Dois estilistas se destacaram
nos primeiros dias: Gustavo
Silvestre, com uma coleção pequena e elegante, e Walério
Araújo, com charmosas construções minimalistas entremeadas -para quebrar o gelo-
por peladonas carnavalescas.
Graças às grifes Coletivo,
Laundry e Thiago Marcon, o
terceiro dia, enfim, resgatou
para o evento aquele que deveria ser o seu tom geral: antenado, jovial e pragmático.
Amni Hot Spot
Desfiles irregulares encerram projeto
"Viver é a melhor roupa", dizia o slogan de uma performance da última edição do Amni Hot Spot, evento com jovens
estilistas que, depois de cinco
anos, encerrou na semana passada as atividades e será substituído por um prêmio nacional
de moda para novos talentos.
O slogan é bom e libertário,
mas infelizmente não serve de
consolo para quem está interessado em atuar no mercado
de moda brasileiro. Para estes,
criar a melhor roupa é o que vai
ajudar a viver. E, para tanto, é
preciso muito trabalho, personalidade e inventividade.
Os estilistas do Amni Hot
Spot devem saber disso. Jovens
e vibrantes, eles demonstram
ter um verdadeiro desejo de fazer moda. Mas é preciso que
eles se esforcem ainda mais,
tanto para definir com firmeza
um estilo próprio e original,
quanto para terem uma visão
clara e objetiva do seu público.
De poucas coleções do evento se pode dizer que têm interesse e tragam novidades. Grifes se perderam em repetições
das próprias fórmulas. Outras
esgotaram o fôlego no meio do
caminho, com coleções muito
irregulares. Algumas marcas
simplesmente não se acharam.
Vale ressaltar aquelas que revelaram mais maturidade, melhor acabamento e um esforço
de definição de uma imagem
particular: Amapô e Amonstro
(que, porém, precisam partir
para novas pesquisas), Depeyere (que acertou sobretudo nos
looks masculinos), Eduardo
Inagaki (apesar de alguns excessos infantis) e Wilson Ranieri, que criou a imagem feminina mais elegante e forte do
último Amni Hot Spot.
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