São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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Última Moda

@ - Alcino Leite Neto

Made in Portugal

Semana fashion no Porto mostra o melhor da moda portuguesa; empresas do país iniciam investida no Brasil

VIVIAN WHITEMAN
ENVIADA ESPECIAL AO PORTO

Portugal está redescobrindo o Brasil. Em busca de novos consumidores de moda, empresas portuguesas estão iniciando uma grande investida no mercado brasileiro com o objetivo de transformá-lo, ao lado dos países do Leste Europeu, num dos principais focos de exportação dos produtos têxteis lusitanos.
Os esforços nesse sentido ganharam peso em julho deste ano, com a presença dos estilistas portugueses Anabela Baldaque e Miguel Vieira na São Paulo Fashion Week. "A participação deles na próxima edição da SPFW já está praticamente fechada", afirma Paulo Nunes de Almeida, presidente da ATP (Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal).
As peças desfiladas pelos dois criadores, que estão entre os mais bem-sucedidos em seu país, já estão à venda na loja Clube Chocolate. "Vamos usar essa experiência com o consumidor brasileiro como um termômetro para as nossas novas ações", acrescenta Almeida. O projeto de ação dos portugueses prevê ainda outras ações de pesquisa. "Queremos que os compradores brasileiros venham ver nossos desfiles e, ao mesmo tempo, estamos mandando equipes ao Brasil para investigar de perto as preferências do mercado", diz Maria Alberta Canizes, diretora do Icep (Instituto das Empresas para os Mercados Externos).
A ATP, ao lado do Icep e da Anje (Associação Nacional de Jovens Empresários), organiza o Portugal Fashion, evento que acontece na cidade do Porto desde 1995. Os desfiles da temporada verão 2007 ocorreram na última semana, juntamente com o Brand-up, showroom de grifes locais, que, a partir desta edição, passou a integrar o calendário paralelo do evento.
Espremida entre o poder de Paris e a tradição de Milão, a moda portuguesa ainda está procurando seu estilo, o que ficou evidente nas passarelas do Portugal Fashion.
Entre os grandes nomes da moda do país, como Miguel Vieira e Fátima Lopes, reina um estilo ornamental, pautado por um tipo de luxo feito sob medida para a elite tradicional, mas sem nenhuma novidade.
Já entre os jovens criadores desponta uma vontade de inovar e levar à moda a mesma vibração das ruas do Porto, por onde circula uma juventude moderna e cheia de estilo. Nesse bloco, destacam-se Felipe Oliveira Baptista, que desfila na alta-costura de Paris, a grife Pedro Waterland, que neste ano fez uma promissora estréia no prêt-à-porter parisiense, e os novatos Pedro Pinto e Filipe Trindade, que mostraram peças joviais e comercialmente viáveis, apontando o caminho da renovação.


A jornalista Vivian Whiteman viajou ao Porto a convite do Icep Portugal.

Um português na alta-costura

Com um trabalho que se destaca pelas construções arquitetônicas bem realizadas, o estilista português Felipe Oliveira Baptista, 31, desponta como um dos jovens criadores mais promissores da moda mundial.
Nos últimos anos, o talento de Baptista ultrapassou os limites da moda portuguesa e ganhou destaque na França, o que rendeu ao designer um lugar no restrito calendário de moda da alta-costura, em Paris.
Influenciado por Balenciaga, um de seus ídolos e inspiradores, o designer conversou com a Folha após a sua apresentação no Portugal Fashion.

FOLHA - Como você começou sua carreira internacional?
FELIPE OLIVEIRA BAPTISTA -
Estudei na Inglaterra e, após a faculdade, acabei recebendo algumas ofertas de trabalho. Na Itália, trabalhei para a Max Mara. Na França, para as maisons Christophe Lemaire e Cerruti. Passei pelo prêt-à-porter parisiense e, desde 2005, estou na alta-costura, apadrinhado pela Hermès e por Jean-Paul Gaultier.

FOLHA - Você ficou surpreso com a repercussão muito positiva de suas coleções de alta-costura?
BAPTISTA -
É claro que eu me esforcei desde o início para apresentar um trabalho de altíssima qualidade, porque isso é o mínimo que se espera de um estilista que consegue chegar nesse circuito tão concorrido. Mas quando vieram as boas críticas fiquei surpreso, sim, além de muito feliz e aliviado!

FOLHA - O mercado brasileiro está nos seus planos?
BAPTISTA -
Está. As brasileiras têm um grande senso de estilo, e acredito que elas poderiam se identificar muito bem com as minhas criações. Atualmente busco ampliar meus pontos de venda nos Estados Unidos e na China, mas o Brasil certamente está dentro das metas para o futuro da minha marca.

Casa de Criadores

Evento recupera o fôlego no último dia

A Casa de Criadores decidiu se mudar do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, para o Hotel Renaissance, um dos mais caros dos Jardins, onde aconteceram nesta semana, de segunda a quarta, os desfiles da temporada verão 2007.
A mudança trouxe bons resultados: o evento ficou mais sintético e menos confuso; a apresentação, mais organizada; e a preocupação com os desfiles foi mais forte do que o desejo de inventar performances para ocupar o espaço público.
Mas a mudança também deixou a Casa de Criadores menos divertida e com uma certa afetação nouveau-riche, que parece ter atingindo em cheio parte dos estilistas. Com efeito, o que se viu nos dois primeiros dias do evento foi uma série de exibicionismos extravagantes, com projetos de moda antiquados e pretensiosos, sem falar nas imagens femininas kitsch.
É compreensível que costureiros queiram criar roupas sofisticadas, mas é preciso fazê-lo com um olho na atualidade, sobretudo do país, buscando uma linguagem própria e atenta às demandas atuais da mulher. Simplicidade e boas idéias podem fazer mais pela moda brasileira do que alguns rolos de tafetás, rendas e cetins.
Dois estilistas se destacaram nos primeiros dias: Gustavo Silvestre, com uma coleção pequena e elegante, e Walério Araújo, com charmosas construções minimalistas entremeadas -para quebrar o gelo- por peladonas carnavalescas.
Graças às grifes Coletivo, Laundry e Thiago Marcon, o terceiro dia, enfim, resgatou para o evento aquele que deveria ser o seu tom geral: antenado, jovial e pragmático.

Amni Hot Spot

Desfiles irregulares encerram projeto

"Viver é a melhor roupa", dizia o slogan de uma performance da última edição do Amni Hot Spot, evento com jovens estilistas que, depois de cinco anos, encerrou na semana passada as atividades e será substituído por um prêmio nacional de moda para novos talentos.
O slogan é bom e libertário, mas infelizmente não serve de consolo para quem está interessado em atuar no mercado de moda brasileiro. Para estes, criar a melhor roupa é o que vai ajudar a viver. E, para tanto, é preciso muito trabalho, personalidade e inventividade.
Os estilistas do Amni Hot Spot devem saber disso. Jovens e vibrantes, eles demonstram ter um verdadeiro desejo de fazer moda. Mas é preciso que eles se esforcem ainda mais, tanto para definir com firmeza um estilo próprio e original, quanto para terem uma visão clara e objetiva do seu público.
De poucas coleções do evento se pode dizer que têm interesse e tragam novidades. Grifes se perderam em repetições das próprias fórmulas. Outras esgotaram o fôlego no meio do caminho, com coleções muito irregulares. Algumas marcas simplesmente não se acharam.
Vale ressaltar aquelas que revelaram mais maturidade, melhor acabamento e um esforço de definição de uma imagem particular: Amapô e Amonstro (que, porém, precisam partir para novas pesquisas), Depeyere (que acertou sobretudo nos looks masculinos), Eduardo Inagaki (apesar de alguns excessos infantis) e Wilson Ranieri, que criou a imagem feminina mais elegante e forte do último Amni Hot Spot.


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