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CRÍTICA MPB
Saudade mal cozida faz de Reginaldo Rossi ídolo brega
MIGUEL DE ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ele não é bonito (seria
feio?): cabelo crespo, armação de óculos do tempo do
Onça, calça com vinco, camisa de balconista, Reginaldo
Rossi, 66, é um fenômeno
brega muito antes de existir a
definição. É do tempo do cafona e do kitsch.
Sucesso nas penteadeiras
de putas (leia-se: jukebox)
desde o final dos 1970, a partir do Norte/Nordeste, seu tipo elabora-se a cada novo
trabalho: ora afoga as mágoas de amores nos braços
de outras, sem pudor de se
assumir como traído -um
dos destaques neste "Cabaret do Rossi" é "Aceito Tudo
de Você (Dor de Corno)"-,
ora é o gostosão de plantão.
A potência brega, assumida como tal, é de corte interiorano ou da periferia das
grandes cidades -palco de
signos conservadores, de linguagem viciada, da saudade
mal cozida e da carência atávica aguçada nos descampados desabitados.
A construção do personagem macho ferido ou macho
conquistador é emblemática
no universo brega. Por ser
um tipo galanteador, está sujeito à caça predatória de outros semelhantes. Lembremos do mestre Waldick Soriano: "Eu Não Sou Cachorro
Não".
Ao contrário de outros ícones da constelação brega,
Reginaldo Rossi é dos poucos
que assume sua condição de
diluidor de emoções baratas,
no embalo do sax renitente e
acompanhado por baterista
de puteiro (aquele que dá
uma e tenta duas ou outras).
INVENTOR
Pela definição de Ezra
Pound, Reginaldo Rossi seria
uma espécie de inventor. Ele
captura vertente ali da Jovem
Guarda (guitarra chorosa,
sax-comentário e batida-baile) e apimenta o figurino com
o despudor da autoironia
-sou corno, e daí?- e da
chacota: "Bebi demais/e não
me lembro sequer/o nome
daquela mulher".
O brega é o Brasil e o Brasil
é o brega. Dizia o poeta Oswald de Andrade: o Brasil é
um monte de gente dando
adeus. Não é de hoje, portanto, que imagens desgastadas
de amores vãos adoçam nossa alma cabocla e melancólica. Foi assim no passado e é
agora com o brega sertanejo
estampado em "Caras".
Rossi é inventor porque
também não se envergonha
do que encarna, do que canta
e do que espelha. Assume-se
como brega e posa como o
xerife do quarteirão.
Como um Woody Allen de
gafieira, lá pelas tantas, no
DVD, confessa: "Nos últimos
tempos tenho brochado bastante". A galera vibra. E ele
sorri: o ídolo brega é de carne
e está sujeito a falhas.
MIGUEL DE ALMEIDA é escritor, editor e
foi repórter de Ilustrada nos anos 1980.
CABARET DO ROSSI
ARTISTA Reginaldo Rossi
GRAVADORA EMI
QUANTO R$ 28
CLASSIFICAÇÃO livre
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