São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010

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música

CRÍTICA MPB
Jeneci estreia com disco derramado


PRODUZIDO POR KASSIN, ÁLBUM TRAZ PARCERIAS DO MÚSICO COM ARNALDO ANTUNES, JOSÉ MIGUEL WISNIK, LUIZ TATIT E CHICO CÉSAR


MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

O compositor paulista tem pudor do sucesso. Salvos Rita Lee, Guilherme Arantes, algumas bandas de rock dos anos 1980 e poucos outros, são raros os filhos desta cidade que, de 30 anos para cá, topem seduzir um público grande escancarando o coração sem culpa e vergonha, sem medo da catarse. Quando ousa pisar nesse terreno, o compositor paulista disfarça o "pecado" escondendo-se sob máscaras da ironia, da crítica. Só se permite falar de sentimentalidades se vierem devidamente processadas pelo cérebro.
"Feito pra Acabar", trabalho de estreia do compositor paulista Marcelo Jeneci, corre justamente na contramão de tudo isso.
Coautor do hit romântico "Amado", que estourou há dois anos na voz de Vanessa da Mata, Jeneci não tem qualquer problema em seduzir o ouvinte, em puxá-lo pela corda direta do coração.
Essa comunicação imediata faz com que seu álbum tenha o mesmo potencial radiofônico de alguns dos clássicos do rock brasileiro dos anos 1980 -de Ultraje a Rigor a Legião Urbana. Aqueles que chegavam a emplacar seis, sete faixas no rádio.
Apesar de todas essas características populares, não há nada no repertório do disco que desça à anemia criativa de outros hitmakers em cartaz no mercado atual de música, que consagra Maria Gadú como compositora.

REFERÊNCIAS
As referências aqui são Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Luiz Gonzaga e outros tantos figurões do pop histórico brasileiro, o que faz de "Feito pra Acabar" um álbum de caminhos múltiplos.
"Quarto de Dormir", parceria de Jeneci com Arnaldo Antunes, é puro Odair José.
"Felicidade", feita a quatro mãos com Chico César, soa como os melhores momentos de Evinha e do Trio Esperança, no começo da década de 1970. Esse é outro trunfo.
Acostumado a acompanhar, no palco, artistas como Chico César, Arnaldo Antunes, Luiz Tatit e toda a nova cena paulistana, Jeneci não tem dificuldade em transitar pelos gêneros.
Aqui, faz com destreza rock ("Copo D'Água"), moda de viola ("Pra Sonhar"), música havaiana ("Jardim do Éden), balada ("Por que Nós?"), jovem guarda ("Pense Duas Vezes").
Além de Antunes, Tatit e Chico César, a lista de parceiros inclui Carlos Rennó e José Miguel Wisnik.
A doçura é uma constante no trabalho -o que contribui muito no processo sedutor.
Contam muito para isso os arranjos de cordas do veterano maestro Arthur Verocai -que foi apresentado a Jeneci por Kassin (Orquestra Imperial), produtor do disco. Mas o ponto mais forte no quesito fofura é a voz da cantora Laura Lavieri, que divide com Jeneci os vocais em quase todas as faixas.

DUPLAS
Juntas, as duas vozes timbram de maneira confortável ao ouvinte, como as antigas duplas de jovem guarda.
Também unidas, não escondem o sotaque paulistano -esse que é considerado um "defeito de fabricação" no país acostumado aos "erres" e "esses" da TV Globo.

FEITO PRA ACABAR

ARTISTA Marcelo Jeneci
LANÇAMENTO Slap
QUANTOa definir
AVALIAÇÃO ótimo


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