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FESTIVAL - CRÍTICA
Chorões homenageiam seus mestres em tributo
especial para a Folha
Nem mesmo um indesejável blecaute, provocado por falta de energia elétrica, diminuiu a animação.
A penúltima noite do festival
"Chorando Alto" -anteontem,
no Sesc Pompéia- terminou com
uma eufórica versão de "Chega de
Saudade", cantada em coro pela
platéia e todo o elenco musical.
Foi uma noite repleta de homenagens e muita emotividade. A começar pela lembrança do histórico
espetáculo que reuniu, 30 anos
atrás, os estilos aparentemente refratários de Jacob do Bandolim, da
cantora Elizeth Cardoso (ambos já
mortos), do Zimbo Trio e do regional Época de Ouro.
Exibidas em dois telões, entrevistas com os estudiosos cariocas Sérgio Cabral e Hermínio Bello de
Carvalho funcionaram como uma
agradável e instrutiva introdução
às homenagens da noite.
Primeiro a entrar no palco, o
Zimbo Trio abriu sua apresentação com um "pout-pourri" de canções do repertório de Elizeth, seguido por um de seus próprios sucessos: o tema do popular documentário "Canal 100", que levava
às salas de cinema de todo o país a
emoção dos jogos de futebol no
Maracanã.
A platéia do Sesc Pompéia reagiu
como se estivesse num estádio: até
levantou-se para aplaudir o trio,
especialmente depois de ouvir
"Lamento" (Pixinguinha) e "Bebê" (Hermeto Pascoal), em versões
que mostraram evidentes afinidades do choro com o jazz.
O tributo a Jacob do Bandolim
seguiu com a entrada de um de
seus discípulos, o bandolinista carioca Déo Rian, que uniu-se ao
Zimbo para lembrar "Carolina"
(Chico Buarque) e "Chega de Saudade" (Tom Jobim), em versões
instrumentais.
Mais emocional, até por contar
com a presença do próprio homenageado, a comemoração dos 80
anos do violonista Dino 7 Cordas
marcou toda a apresentação do
Época de Ouro, provocando lágrimas no palco e na platéia.
Choros clássicos de Jacob do
Bandolim, como "Alvorada" e
"Treme-Treme", além de composições do próprio Dino 7 Cordas,
como "Aperto de Mão" e "Gingando", orientaram a parte do concerto que mais agradou aos tradicionalistas.
O jazz voltou a dialogar com o
choro e a bossa nova durante a deliciosa apresentação da cantora
Joyce com o pianista Gilson Peranzzetta, especialmente quando
se juntou à dupla o flautista norte-americano Herbie Mann.
Apesar de, inicialmente, mostrar-se um tanto preso às partituras, Mann acabou se soltando na
acelerada versão de " Samba de
Uma Nota Só" (de Jobim), que Joyce preferiu vocalizar em "scat"
-sem palavras.
Por noites como essa, o festival
Chorando Alto sugere que veio para ficar.
(CARLOS CALADO)
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