São Paulo, terça, 3 de novembro de 1998

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FESTIVAL - CRÍTICA
Chorões homenageiam seus mestres em tributo

especial para a Folha

Nem mesmo um indesejável blecaute, provocado por falta de energia elétrica, diminuiu a animação. A penúltima noite do festival "Chorando Alto" -anteontem, no Sesc Pompéia- terminou com uma eufórica versão de "Chega de Saudade", cantada em coro pela platéia e todo o elenco musical.
Foi uma noite repleta de homenagens e muita emotividade. A começar pela lembrança do histórico espetáculo que reuniu, 30 anos atrás, os estilos aparentemente refratários de Jacob do Bandolim, da cantora Elizeth Cardoso (ambos já mortos), do Zimbo Trio e do regional Época de Ouro.
Exibidas em dois telões, entrevistas com os estudiosos cariocas Sérgio Cabral e Hermínio Bello de Carvalho funcionaram como uma agradável e instrutiva introdução às homenagens da noite.
Primeiro a entrar no palco, o Zimbo Trio abriu sua apresentação com um "pout-pourri" de canções do repertório de Elizeth, seguido por um de seus próprios sucessos: o tema do popular documentário "Canal 100", que levava às salas de cinema de todo o país a emoção dos jogos de futebol no Maracanã.
A platéia do Sesc Pompéia reagiu como se estivesse num estádio: até levantou-se para aplaudir o trio, especialmente depois de ouvir "Lamento" (Pixinguinha) e "Bebê" (Hermeto Pascoal), em versões que mostraram evidentes afinidades do choro com o jazz.
O tributo a Jacob do Bandolim seguiu com a entrada de um de seus discípulos, o bandolinista carioca Déo Rian, que uniu-se ao Zimbo para lembrar "Carolina" (Chico Buarque) e "Chega de Saudade" (Tom Jobim), em versões instrumentais.
Mais emocional, até por contar com a presença do próprio homenageado, a comemoração dos 80 anos do violonista Dino 7 Cordas marcou toda a apresentação do Época de Ouro, provocando lágrimas no palco e na platéia.
Choros clássicos de Jacob do Bandolim, como "Alvorada" e "Treme-Treme", além de composições do próprio Dino 7 Cordas, como "Aperto de Mão" e "Gingando", orientaram a parte do concerto que mais agradou aos tradicionalistas.
O jazz voltou a dialogar com o choro e a bossa nova durante a deliciosa apresentação da cantora Joyce com o pianista Gilson Peranzzetta, especialmente quando se juntou à dupla o flautista norte-americano Herbie Mann.
Apesar de, inicialmente, mostrar-se um tanto preso às partituras, Mann acabou se soltando na acelerada versão de " Samba de Uma Nota Só" (de Jobim), que Joyce preferiu vocalizar em "scat" -sem palavras.
Por noites como essa, o festival Chorando Alto sugere que veio para ficar.
(CARLOS CALADO)


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