São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

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ERUDITO

Obras inéditas serão editadas em CD e mostradas em concertos pelo país

Projeto põe em circulação acervo de música colonial

IRINEU FRANCO PERPETUO
ENVIADO ESPECIAL A MARIANA

Gravações de discos, edições de partituras e um site estão colocando em circulação material de um dos mais importantes e fechados acervos de música colonial brasileira: o do Museu da Música, que funciona no Palácio Arquiepiscopal de Mariana (MG).
Patrocinado pela Petrobras, que investiu R$ 900 mil na iniciativa neste ano, o Projeto Acervo da Música Brasileira Restauração e Difusão de Partituras, desenvolvido pelo Bureau Cultural, começou em janeiro, com pesquisa no acervo de cerca de 2.000 obras musicais do museu.
Coordenada por Paulo Castagna, a equipe é integrada ainda por Vítor Gabriel de Araújo, André Guerra Cotta, Carlos Alberto Figueiredo, Aluízio José Viegas, Marcelo Campos Hazan e Maria Teresa Gonçalves Pereira.
A eles coube selecionar as 15 primeiras obras, todas inéditas, a serem restauradas, gravadas e editadas. Elas estão presentes em três CDs, com lançamento em concertos em Belo Horizonte (hoje), Mariana (dia 8), São Paulo (Cultura Artística, dia 10) e Rio de Janeiro (Sala Cecília Meireles, dia 12).
Os discos foram organizados de forma temática. O Coro de Câmera da UFMG, regido por Afrânio Lacerda, registrou obras escritas para Pentecostes; Naomi Munakata, à frente da Orquestra de Câmera Engenho Barroco e Coral de Câmera de São Paulo, gravou missas; e peças do Sábado Santo ficaram a cargo do grupo Calíope.
"Está em negociação uma parceria com a gravadora Paulus para lançar os discos comercialmente", afirma o regente e professor da Unesp Vítor Gabriel, que atuou como produtor dos CDs.
Mais conhecido entre os autores que viveram em Minas na época colonial, Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805) também teve uma obra recuperada, as "Matinas do Sábado Santo". Resgataram-se compositores desconhecidos, como Miguel Teodoro Ferreira (1788-1818) e Frutuoso de Matos Couto (séc. 19). Encontra-se representado ainda Francisco Manuel da Silva (1795-1865), autor do Hino Nacional.
Mas talvez o maior destaque seja para o principal compositor brasileiro do período colonial, o padre carioca José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). De sua autoria, o regente Carlos Alberto Figueiredo restaurou a "Missa em Si Bemol", que consta com o número 118 no catálogo do compositor organizado por Cleofe Person de Matos, com a observação de que é, na realidade, a mais difundida das obras do compositor. Contudo, permanecia inédita até agora.
Em fevereiro do ano que vem, serão lançados três livros contendo as partituras gravadas nos CDs. A Petrobras deve investir mais R$ 1,4 milhão para que, em agosto, sejam lançados mais três discos, com três edições de partituras correspondentes. O projeto está previsto para durar até 2003, quando devem sair outros três volumes de CDs e partituras.
O Museu da Música está sob a guarda da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese de Mariana. Seu acervo fica na residência do arcebispo de Mariana, d. Luciano Mendes de Almeida.
O musicólogo Paulo Castagna, professor da Unesp e coordenador técnico do projeto, diz que o acervo original de Mariana era muito pequeno quando foi iniciado o trabalho de catalogação, em 71, pelo compositor José Penalva.
"Há duas gavetas com manuscritos de Mariana e mais quatro com o que veio de Barão de Cocais (MG)", diz. "Mas o bispo da época, d. Oscar de Oliveira, começou a viajar e a estimular doações. Hoje, são quase mil pastas, com cerca de 2.000 obras de 35 cidades." A maioria é de música sacra brasileira dos séculos 18 e 19. Castagna estima entre 30% e 40% o número de obras anônimas ou de autoria desconhecida.


O jornalista Irineu Franco Perpetuo viajou a convite da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese de Mariana



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