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ERUDITO
Obras inéditas serão editadas em CD e mostradas em concertos pelo país
Projeto põe em circulação acervo de música colonial
IRINEU FRANCO PERPETUO
ENVIADO ESPECIAL A MARIANA
Gravações de discos, edições de
partituras e um site estão colocando em circulação material de um
dos mais importantes e fechados
acervos de música colonial brasileira: o do Museu da Música, que
funciona no Palácio Arquiepiscopal de Mariana (MG).
Patrocinado pela Petrobras, que
investiu R$ 900 mil na iniciativa
neste ano, o Projeto Acervo da
Música Brasileira Restauração e
Difusão de Partituras, desenvolvido pelo Bureau Cultural, começou em janeiro, com pesquisa no
acervo de cerca de 2.000 obras
musicais do museu.
Coordenada por Paulo Castagna, a equipe é integrada ainda por
Vítor Gabriel de Araújo, André
Guerra Cotta, Carlos Alberto Figueiredo, Aluízio José Viegas,
Marcelo Campos Hazan e Maria
Teresa Gonçalves Pereira.
A eles coube selecionar as 15 primeiras obras, todas inéditas, a serem restauradas, gravadas e editadas. Elas estão presentes em três
CDs, com lançamento em concertos em Belo Horizonte (hoje), Mariana (dia 8), São Paulo (Cultura
Artística, dia 10) e Rio de Janeiro
(Sala Cecília Meireles, dia 12).
Os discos foram organizados de
forma temática. O Coro de Câmera da UFMG, regido por Afrânio
Lacerda, registrou obras escritas
para Pentecostes; Naomi Munakata, à frente da Orquestra de Câmera Engenho Barroco e Coral de
Câmera de São Paulo, gravou
missas; e peças do Sábado Santo
ficaram a cargo do grupo Calíope.
"Está em negociação uma parceria com a gravadora Paulus para lançar os discos comercialmente", afirma o regente e professor
da Unesp Vítor Gabriel, que
atuou como produtor dos CDs.
Mais conhecido entre os autores
que viveram em Minas na época
colonial, Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805) também teve
uma obra recuperada, as "Matinas do Sábado Santo". Resgataram-se compositores desconhecidos, como Miguel Teodoro Ferreira (1788-1818) e Frutuoso de
Matos Couto (séc. 19). Encontra-se representado ainda Francisco
Manuel da Silva (1795-1865), autor do Hino Nacional.
Mas talvez o maior destaque seja para o principal compositor
brasileiro do período colonial, o
padre carioca José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). De sua autoria, o regente Carlos Alberto Figueiredo restaurou a "Missa em Si
Bemol", que consta com o número 118 no catálogo do compositor
organizado por Cleofe Person de
Matos, com a observação de que
é, na realidade, a mais difundida
das obras do compositor. Contudo, permanecia inédita até agora.
Em fevereiro do ano que vem,
serão lançados três livros contendo as partituras gravadas nos
CDs. A Petrobras deve investir
mais R$ 1,4 milhão para que, em
agosto, sejam lançados mais três
discos, com três edições de partituras correspondentes. O projeto
está previsto para durar até 2003,
quando devem sair outros três
volumes de CDs e partituras.
O Museu da Música está sob a
guarda da Fundação Cultural e
Educacional da Arquidiocese de
Mariana. Seu acervo fica na residência do arcebispo de Mariana,
d. Luciano Mendes de Almeida.
O musicólogo Paulo Castagna,
professor da Unesp e coordenador técnico do projeto, diz que o
acervo original de Mariana era
muito pequeno quando foi iniciado o trabalho de catalogação, em
71, pelo compositor José Penalva.
"Há duas gavetas com manuscritos de Mariana e mais quatro
com o que veio de Barão de Cocais (MG)", diz. "Mas o bispo da
época, d. Oscar de Oliveira, começou a viajar e a estimular doações.
Hoje, são quase mil pastas, com
cerca de 2.000 obras de 35 cidades." A maioria é de música sacra
brasileira dos séculos 18 e 19. Castagna estima entre 30% e 40% o
número de obras anônimas ou de
autoria desconhecida.
O jornalista Irineu Franco Perpetuo
viajou a convite da Fundação Cultural e
Educacional da Arquidiocese de Mariana
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