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LITERATURA
"O Preço da Leitura" será lançado hoje em SP
Livro detalha as dimensões econômicas da criação literária
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem produto fresquinho no
mercado das letras. Tem 204 páginas, custa R$ 29 e é de autoria de
Marisa Lajolo e Regina Zilberman. E por que esses detalhes antes da apresentação do conteúdo
do livro em questão? Porque são
exatamente esses os elementos
que ele traz para as prateleiras.
"O Preço da Leitura", que a dupla de pesquisadoras lança hoje
em São Paulo, vai por um caminho muito pouco trilhado nos estudos literários, a idéia de que o
autor de um livro é também o
produtor de uma mercadoria.
"Literatura é mercadoria e, como mercadoria, tem um preço e
está sujeita a leis de mercado, como vários outros produtos", explica Marisa Lajolo, professora da
Unicamp e "produtora" de uma
dezena de livros.
Para esmiuçar a dimensão econômica da criação literária, as autoras percorrem toda a trajetória
da escrita, desde os tempos do
pergaminho até a internet.
Nessa viagem, as principais escalas são feitas em questões como
os diferentes modos como o autor
foi remunerado pelo que criou,
com destaque para a revolução
representada pela criação de mecanismos legais para demarcar a
propriedade literária.
O chamado direito autoral só
nasce em 1710, quando o parlamento inglês promulga o documento conhecido como "Estatuto
de Ana", que define que: "...O autor de qualquer livro ou livros já
impressos (...) terá o direito exclusivo e liberdade de imprimi-los
pelo prazo de 21 anos".
"A Inglaterra foi a pioneira na
questão dos direitos autorais.
Portugal, e por consequência
também o Brasil, foi dos mais
atrasados", diz Lajolo.
Se "O Preço da Leitura" parte
das questões envolvendo autor,
propriedade e valor em âmbito
mundial, o Brasil é sempre o foco
final da pesquisa.
As autoras trabalham detalhadamente, por exemplo, a relação
entre brasileiros e portugueses
nas demarcações do território literário e editorial, enfatizando o
momento (tardio, diga-se) em
que Portugal autoriza a impressão na colônia, com a vinda da família real ao Brasil, em 1808.
"Uma das nossas grandes descobertas foi a do caráter conflitivo
das relações culturais entre Brasil
e Portugal no século 19. Encontramos uma série de evidências de
que o Brasil era o grande mercado
do autor português", conta Lajolo. "Isso permite que se possa reequacionar as discussões de influências entre a literatura produzida no Brasil e em Portugal."
Entre os achados do livro também está a pesquisa sobre a formação de associações de escritores no Brasil para conseguir implementar leis que os favorecessem. "Poucos sabem, mas a criação da Academia Brasileira de Letras, hoje tida como conservadora
e honorífica, é ligada a esse ideal."
"O PREÇO DA LEITURA". Autoras:
Marisa Lajolo e Regina Zilberman.
Editora: Ática. Lançamento: hoje, 18h30.
Onde: livraria Cultura (av. Paulista, 2.073,
tel. 0/xx/11/3285-4033, São Paulo).
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