São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

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LITERATURA

"O Preço da Leitura" será lançado hoje em SP

Livro detalha as dimensões econômicas da criação literária

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem produto fresquinho no mercado das letras. Tem 204 páginas, custa R$ 29 e é de autoria de Marisa Lajolo e Regina Zilberman. E por que esses detalhes antes da apresentação do conteúdo do livro em questão? Porque são exatamente esses os elementos que ele traz para as prateleiras.
"O Preço da Leitura", que a dupla de pesquisadoras lança hoje em São Paulo, vai por um caminho muito pouco trilhado nos estudos literários, a idéia de que o autor de um livro é também o produtor de uma mercadoria.
"Literatura é mercadoria e, como mercadoria, tem um preço e está sujeita a leis de mercado, como vários outros produtos", explica Marisa Lajolo, professora da Unicamp e "produtora" de uma dezena de livros.
Para esmiuçar a dimensão econômica da criação literária, as autoras percorrem toda a trajetória da escrita, desde os tempos do pergaminho até a internet.
Nessa viagem, as principais escalas são feitas em questões como os diferentes modos como o autor foi remunerado pelo que criou, com destaque para a revolução representada pela criação de mecanismos legais para demarcar a propriedade literária.
O chamado direito autoral só nasce em 1710, quando o parlamento inglês promulga o documento conhecido como "Estatuto de Ana", que define que: "...O autor de qualquer livro ou livros já impressos (...) terá o direito exclusivo e liberdade de imprimi-los pelo prazo de 21 anos".
"A Inglaterra foi a pioneira na questão dos direitos autorais. Portugal, e por consequência também o Brasil, foi dos mais atrasados", diz Lajolo.
Se "O Preço da Leitura" parte das questões envolvendo autor, propriedade e valor em âmbito mundial, o Brasil é sempre o foco final da pesquisa.
As autoras trabalham detalhadamente, por exemplo, a relação entre brasileiros e portugueses nas demarcações do território literário e editorial, enfatizando o momento (tardio, diga-se) em que Portugal autoriza a impressão na colônia, com a vinda da família real ao Brasil, em 1808.
"Uma das nossas grandes descobertas foi a do caráter conflitivo das relações culturais entre Brasil e Portugal no século 19. Encontramos uma série de evidências de que o Brasil era o grande mercado do autor português", conta Lajolo. "Isso permite que se possa reequacionar as discussões de influências entre a literatura produzida no Brasil e em Portugal."
Entre os achados do livro também está a pesquisa sobre a formação de associações de escritores no Brasil para conseguir implementar leis que os favorecessem. "Poucos sabem, mas a criação da Academia Brasileira de Letras, hoje tida como conservadora e honorífica, é ligada a esse ideal."


"O PREÇO DA LEITURA". Autoras: Marisa Lajolo e Regina Zilberman. Editora: Ática. Lançamento: hoje, 18h30. Onde: livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3285-4033, São Paulo).



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