São Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 2002

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GUERRA À PIRATARIA

Empresário avalia que governo FHC não combateu os piratas porque isso agravaria o desemprego

Gravadoras já cobram promessas de Lula

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto se debate com denúncias internas, a indústria fonográfica brasileira procura olhar para o futuro cobrando, desde já, promessas feitas pelo PT durante a campanha presidencial.
Alguns executivos começam destacando o descontentamento com a política do governo FHC no combate à pirataria. É essa a avaliação do vice-presidente da EMI, Luiz Bannitz:
"O combate à pirataria é impopular porque os CDs piratas são muito baratos. Qual governante que precisa do apoio da massa vai apoiar o combate, se ele é tão antipático? O governo FHC deixou de apoiar porque não sabia como criar empregos para substituir o contingente da pirataria."

Bancas
Mesmo com tal avaliação, Bannitz discorda de que o perfil popular de Lula possa, então, levar a um agravamento da questão.
"Um problema sério que a indústria vive é o dos DVDs vendidos em bancas de jornal. Não vou entrar no mérito sobre se são piratas ou não, mas concorrem de forma irregular com nossos lançamentos. Pois o governo do PT no Rio Grande do Sul é o único do Brasil que proibiu a comercialização de DVDs em bancas."
Ele conclui: "Agora que vai ser Lula mesmo e não tem jeito, quem sabe não seja esta a hora da mudança, de a gente quebrar o círculo de nosso setor produtivo, cada vez mais desgastado".
O presidente da Sony, José Antonio Eboli, demarca expectativas: "Tivemos a oportunidade de participar de uma reunião com Aloizio Mercadante e notamos claramente uma forte determinação dele em combater a pirataria no país, por várias razões. Saímos realmente convencidos de que isso deveria ocorrer no governo Lula. Continuo acreditando".
O presidente da Warner, Cláudio Condé, volta indiretamente à questão do desemprego: "Lula tem todas as possibilidades do mundo de tomar iniciativas para criar empregos. Precisamos de mais gente no mercado legal ganhando decentemente e podendo se divertir e consumir música".
O presidente da Universal, Marcelo Castello Branco, concorda e vai além: "Não é que as pessoas gostem de comprar CD pirata. Ninguém se sente completamente digno dando CD falsificado para a namorada. Todo mundo tem direito ao legítimo".
Há quem esteja do outro lado, mesmo de dentro da ABPD -é o caso de José Lopez, da Novodisc, a empresa que vive litígio com o sistema a que pertence.
"A omissão na questão da pirataria não é do governo, mas de quem deveria combatê-la e não está fazendo isso. É a própria indústria. De onde vem o dinheiro da ABPD? Para onde ele vai?", questiona Lopez. A ABPD recusa-se a rebater tal questão.
Acuada, a Novodisc joga fogo numa das questões incendiárias da indústria -a discrepância de preços entre CDs oficiais e piratas.
"Todo mundo fala que está em crise, mas as grandes gravadoras vendem seus CDs no Carrefour a R$ 2,70. Se podem, por que não praticam sempre esses preços? É consenso que o preço do CD é muito alto, e não só no Brasil. Para ser razoável, o preço teria de ficar entre R$ 5 e R$ 10, e a indústria teria como fazer isso", diz o diretor Lucas Sacay.
Esse é outro dos tabus, que as gravadoras rebatem por todos os lados: o preço dos CDs não é alto; diminuir quebraria a indústria; os piratas são baratos porque não precisam pagar custos e direitos artísticos; o preço é uma falsa questão.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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