São Paulo, quinta-feira, 03 de dezembro de 2009

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A segunda vez de Mallu

Aos 17, cantora lança o segundo álbum de canções autorais, em que reserva quase metade do espaço para repertório em português

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Mallu Magalhães em São Paulo; para a cantora, algumas das experiências mais traumáticas da carreira aconteceram na TV

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre meados de novembro do ano passado, quando lançou seu álbum de estreia, e este dezembro de 2009 em que solta o segundo, Mallu Magalhães cresceu um bocado. Mais de dez centímetros. Dos 16 anos de então aos 17 de agora, a cantora foi de 1,61 m para 1,71 m "e meio", como faz questão de frisar. "E quero declarar que, apesar desse crescimento tão rápido, não tenho nenhuma estria."
Também cresceu em termos industriais. Aposentou as bandeiras de "artista independente" e "fenômeno da internet" que carregou com tanta propriedade nos primeiros tempos e partiu para o esquemão de uma multinacional. Este segundo "Mallu Magalhães" sai pela gravadora Sony Music.
"A internet é democrática, mas tem uma hora em que você fica perdido naquela liberdade toda. Acaba dependendo muito do que as pessoas falam", diz. "Cansei de ouvir história de gente achando que eu era uma coisa só porque leu aquilo nos comentários de um vídeo."
A liberdade de criação, Mallu garante, foi preservada. O álbum já estava pronto quando o contrato com a Sony foi fechado. A produção, que antes era de Mario Caldato, passou para as mãos de Kassin.
As canções, essas sim, estão muito mais livres, escapando da monogamia folk de antes. Não que ele não exista. Mas divide espaço com reggae ("Shine Yellow"), valsa ("É Você que Tem"), psicodelia à Beatles ("Bee on the Grass") e à tropicália ("O Herói, o Marginal").
As canções em português também aparecem em número maior: seis na nossa língua contra sete em inglês. Marcelo Camelo, namorado de Mallu durante a concepção deste álbum, tem alguma influência nisso?
"Não", garante. "A influência do "Marcelo artista" sobre mim já existia desde o primeiro disco, antes mesmo de eu o conhecer, porque sempre fui fã do Los Hermanos. Agora, o Marcelo me influencia como namorado, não como Marcelo Camelo. Não vou compor um samba só pra ele gostar mais de mim."
Também não se deve à relação com Camelo o fato de o novo "Mallu Magalhães" soar mais leve que o anterior. Foi, isso sim, uma questão de edição. A cantora revela que havia outras músicas com "questões um pouco mais pesadas", mas que, no final das contas, "a gente acabou decidindo não colocar".
O processo de autocensura, ela conta, é comum quando está criando. "É como alguns desenhos que faço e escondo. Escrevo e já penso: "Isso eu não posso contar, nem isso, nem isso". São segredos que todo artista tem. Corto", diz. "Trocentas coisas que faço ainda não cabem na minha personalidade pública. Talvez nunca caibam."
O grande medo é ser mal interpretada. Mallu diz ter sofrido bastante com isso nesse começo de vida artística -o que é típico de quem aprende a fazer fazendo. As experiências mais traumáticas foram na TV.
"Quando entro na televisão, passa um filme do medo, da insegurança, meu coração gela e fico inteira tremendo", diz. "Não dá pra sair uma palavra legal. É preciso ser muito forte, acreditar muito em você mesmo -o que é sempre difícil."
E continua: "O pior vem depois, quando os tropeços vão parar na internet. Não bastasse a dor do tropeço, ainda tem o comentário: "Essa menina é muito monga mesmo, idiota'".
Medos maiores, no entanto, ocupam bom espaço na cabeça de Mallu nos últimos tempos. Ela já havia operado, na pré-adolescência, um nódulo bem juntinho da amígdala. A partir dele, criou também uma rachadura e um calo. Há pouco, descobriu um cisto na corda vocal.
"Para uma cantora, isso é uma tristeza. É seu instrumento de trabalho e de expressão. É sua personalidade que tem um cisto", diz. Como descobriu o problema cedo, está conseguindo diminuir o prejuízo. Ainda assim, pensa no que poderia fazer se, um dia, a voz lhe faltar.
"Um amigo me disse que isso de "a vida é curta" é uma bobagem. A vida é longa, e há muitos talentos dentro da gente pra descobrir e usar, não acha?"
Mallu está só no começo.


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