São Paulo, quarta-feira, 04 de janeiro de 2006

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Mistério no Vaticano


Com direitos vendidos para mais de 50 países, romance "O Último Papa" reacende a tese de que João Paulo 1º foi assassinado; autor é comparado a Dan Brown
Associated Press
Papa João Paulo 1º, que morreu de infarto em 28 de setembro de 78, 33 dias após iniciar o pontificado, segundo a versão oficial; livro português fala em conspiração


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Albino Luciani, que morreu no dia 28 de setembro de 1978, 33 dias após iniciar seu pontificado como papa João Paulo 1º, foi assassinado.
Quem defende a teoria é o escritor português Luís Miguel Rocha, 29, cujo romance "O Último Papa" já teve seus direitos vendidos para mais de 50 países, entre os quais o Brasil, onde, depois de uma disputa travada por seis editoras, sai pela Objetiva, por meio do selo Sumo de Letras.
O livro, no entanto, não foi lançado nem sequer em Portugal. Chegará às livrarias do país somente em março ou abril, num lançamento simultâneo com Estados Unidos e Reino Unido.
"O Último Papa", vale ressaltar, não é o primeiro livro a levantar teorias conspiratórias sobre o suposto assassinato de João Paulo 1º (leia abaixo). Rocha sustenta que João Paulo 1º foi morto porque pretendia ser o último pontífice rico e planejava redistribuir os bens da Igreja Católica.
Outras razões para o crime levantadas pelo autor seriam a vontade de João Paulo 1º de permitir que mulheres entrassem para o sacerdócio e a intenção do papa de autorizar o controle da natalidade com contraceptivos.
O assassinato de Albino Luciani teria sido resultado de uma conspiração de uma organização não mais existente, a Loja P2, ligada à Maçonaria (uma sociedade fechada, de origem remota, voltada para finalidades filosóficas, filantrópicas etc.) com tentáculos na cúria romana, no governo italiano e até na América do Sul.

Anti-religioso?
"Não faço idéia de qual será a reação da Igreja Católica. Se houver um leitor em todo o mundo que abra os olhos e comece a ver as coisas pela sua cabeça, e não por aquilo que lhe dizem, já será muito bom", disse Rocha em entrevista à Folha.
"No entanto, esse livro não é anti-religioso. Tinha em mente a reposição da verdade."
"O Último Papa" é fruto de um ano de pesquisa e seis meses de escrita baseada em documentos que Rocha afirma ter conseguido de uma fonte do Vaticano, que estariam nas mãos do papa no momento de sua morte.
"Há inúmeras provas que suportam o meu trabalho, mas não vamos falar sobre elas antes do tempo", diz o autor.
Versão romanceada dos fatos, segundo Rocha, a trama tem como estopim um personagem que, nos dias de hoje, se vê apanhado por um turbilhão de acontecimentos, provocado pela morte do papa. Karol Wojtyla, que viria a ser o papa João Paulo 2º, e Joseph Ratzinger, o atual papa Bento 16, também fazem parte do enredo do livro, que, de acordo com Rocha, tem uma extensa lista de personagens reais.

Rocha que voa
Nascido no Porto, Luís Miguel Rocha foi autor, durante anos, de roteiros para a televisão portuguesa. Tradutor de escritores ingleses em Portugal, lançou em 2003 o seu primeiro romance, "Um País Encantado".
"É um romance histórico que fala do Estado Novo [período ditatorial em Portugal, de 1933 a 1974] e de um país perdido, hipnotizado. Realça também as suas relações com o Brasil, parte fundamental da saga", conta Rocha.
Não bastasse a polêmica, o livro é apresentado por um senhor cartão de visitas: um comentário para a capa assinado por Dan "O Código Da Vinci" Brown, que leu 40 páginas do romance, enviadas a ele pela agente literária de Rocha, Jessica Woolard.
"Ele gostou do que leu e ofereceu-se. Foi simpático da parte dele", diz o autor. "A única coisa que posso facultar é o comentário dele que figurará na capa: "Escrita poderosa. Um livro cativante". Em termos promocionais, é muito bom para o livro."
A imprensa portuguesa tem rotulado Rocha de "o novo Dan Brown". Seu editor português, Luís Corte Real, da Saída de Emergência, disse à agência de notícias France Presse que o autor recebeu adiantamentos de 60 mil [mais de R$ 160 mil] da espanhola Santillana, acionista da Objetiva, e que apenas na Inglaterra a expectativa inicial de vendas supera 2 milhões de exemplares.


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