São Paulo, quinta-feira, 04 de janeiro de 2007

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Filme de "O Caçador de Pipas" é rodado na China

Best-seller aborda amizade entre crianças afegãs; para parecer "autêntico", longa terá falas na língua dari e legendas em inglês

HOWARD W. FRENCH
DO "NEW YORK TIMES"

Há muitos desafios envolvidos no processo de transformar um romance de sucesso em um filme de Hollywood. Mas quando o romance tem por cenário principal o Afeganistão, e as cenas se estendem por diversas partes daquele país, que, com a possível exceção do Iraque, talvez seja o lugar mais perigoso do mundo para um ocidental, tudo se complica.
"O Caçador de Pipas", romance de Khaled Hosseini, oferece muitas dificuldades adicionais, já que sua adaptação será filmada em forma de épico, no passado uma das disciplinas básicas do cinema de Hollywood, mas hoje em dia uma arte cada vez menos familiar.
A história, que gira em torno da fatídica amizade entre dois meninos afegãos, se estende por gerações e por paisagens que vão muito além de Cabul e chegam a diversas partes do Paquistão e a San Francisco, onde exilados afegãos vivem unidos e acorrentados por um senso compartilhado de perda.
"Para mim, desde o começo o filme era uma história que precisava ser contada em escala épica, e narrar uma história em escala épica sempre envolve certa dose de medo", disse o diretor Marc Forster, cujo filme deve ser lançado pela Dreamworks e Paramount Vantage em novembro de 2007. Sua idéia era tentar recriar a sensação de Cabul nos anos 70, as ruas repletas de cores, e então revisitar a cidade passados alguns anos, depois da invasão soviética, e explorar o senso de perda de identidade.

"Autenticidade"
Hollywood não tem um retrospecto feliz no que tange à administração de dois dos problemas que se provaram mais difíceis no caso deste filme: encontrar a locação ideal para uma história passada em lugar distante, e narrar uma trama sobre pessoas de pele escura que se passa em um país remoto e pouco compreendido.
As necessidades de marketing tipicamente dispõem que os diálogos dos filmes sejam em inglês, o que freqüentemente resulta em sotaques inconsistentes ou estereotipados.
Para "O Caçador de Pipas", no entanto, os produtores decidiram apostar pesado na autenticidade. Eles acreditam, entre outras coisas, que seja possível convencer as audiências norte-americanas a manterem a atenção durante duas horas em uma história que será relatada com a ajuda de legendas.
E a parte crucial dessa aposta está em jogo aqui, em Kashgar, na China, onde vasta porção do filme foi rodada.
A equipe de produção passou três meses pesquisando locações. As possibilidades variavam da Índia ao Marrocos e África do Sul, mas E. Bennett Walsh, o encarregado desse trabalho, disse que as conversas sempre terminavam retornando a Kashgar, lugar de que pouca gente em Hollywood já tinha ouvido falar.
Kashgar sempre foi a melhor escolha em termos de aparência, a começar por sua população diversificada, mas majoritariamente muçulmana, e pela região rural vizinha, que pode se fazer passar convincentemente pelo Afeganistão.

Elenco
As ruas de Kashgar, repletas de homens barbudos e mulheres vestindo burcas, talvez convençam um espectador de que ele está vendo a cidade de Cabul, mas é bem mais difícil manter a ilusão sem atores capazes de falar dari.
Homayoun Ershadi, 59, um ator iraniano que desempenhou o papel principal em "Gosto de Cereja", foi selecionado em Teerã para ser Baba, pai do protagonista, Amir.
Khalil Abdalla, ator britânico de ascendência egípcia que estrelou em "Vôo United 93", interpretará Amir como adulto. E Shaun Toub, ator iraniano que trabalhou em "Crash - No Limite", fará o papel de Rahim Khan, mentor de Amir.
A tarefa de encontrar os dois meninos protagonistas da história levou a equipe a pesquisar grupos de exilados afegãos na Europa, mas essas crianças já estavam culturalmente distantes de sua terra de origem. Só após passar quase um mês visitando escolas e orfanatos de Cabul a equipe encontrou os intérpretes perfeitos.
Ahmad Khan Mahmiidzada, 10, menino dotado de senso de humor muito precoce, interpreta Hassan, o filho de criados que termina traído pelo melhor amigo, Amir. Kekiria Ebrahimi, 11, mais introvertido, ficou com o papel de Amir.
Os dois meninos não se conheciam antes de chegarem ao oeste da China para as filmagens, mas se tornaram amigos. Na entrevista, Ahmad se declarou "muito, muito saudoso de casa", e teceu considerações espontâneas sobre seu papel como vítima trágica. "Fui escolhido para ser Hassan porque me pareço mais com ele", diz, por meio do intérprete, soando como um veterano.
Kekiria, mais reservado, diz que "ele e eu seremos bons amigos na vida real". "Não sei por que Hassan tinha de sair ferido daquele jeito. Espero que vocês possam me dizer."
"Sim", diz Ahmad. "Também quero saber."


Tradução PAULO MIGLIACCI

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