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Cinemas/estréias - Crítica/"Coisas que Perdemos pelo Caminho"
Diretora cria melodrama à la Dogma
Susanne Bier usa vantagens e vícios do movimento dinamarquês em sua estréia nos EUA, com Halle Berry e Benicio Del Toro
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O melodrama é um dos
gêneros mais resistentes da história do cinema. As comédias já tiveram altos e baixos, os musicais e os filmes de gângsteres ficaram no
passado. Já as histórias de vidas
partidas, movidas a sentimentos frágeis e intensos, continuam a ocupar lugar essencial
no jogo de sedução de platéias.
O tema da solidão feminina,
seja por morte ou por abandono, é um manancial do melodrama e uma oportunidade para atrizes desde os tempos de Griffith até os mais recentes de
Almodóvar. É disso que se nutre "Coisas que Perdemos pelo
Caminho", estréia da diretora
dinamarquesa Susanne Bier
em território hollywoodiano,
depois de ter se tornado reconhecida como uma das praticantes dos cânones de despojamento do Dogma 95.
A função da diretora fica evidente no tratamento desdramatizado que dá a uma situação
emocional demais: com a perda
do companheiro, uma mulher
enfrenta a realidade de criar sozinha dois filhos pequenos e
encontra forças na presença de
um amigo do marido, um viciado em heroína que se esforça
para abandonar a dependência.
A viúva é encarnada por
Halle Berry, num papel que devolve sua fulgurância, apagada
desde o Oscar por "A Última
Ceia". Ao seu lado, Benicio Del
Toro faz o viciado, que serve de
outro suporte da estrutura do
melodrama, com sua história
de decadência e redenção.
Do encontro dessas duas forças, a diretora dinamarquesa
explora as vantagens e os tiques
desenvolvidos nos filmes do
Dogma, com a câmera predominantemente na mão como
signo de "realismo", o esvaziamento emocional do ápice dramático por meio de uma apresentação não-linear dos fatos logo no início do filme e um trabalho de atores mais físico e
menos psicológico que o habitual no cinema americano.
COISAS QUE PERDEMOS PELO
CAMINHO
Direção: Susanne Bier
Produção: Reino Unido/ EUA, 2007
Com: Halle Berry, Benicio Del Toro e
David Duchovny
Onde: estréia hoje nos cines Bristol,
UOL Lumière, Villa-Lobos e circuito
Avaliação: regular
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