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Em nome da mãe
"Maysa - Quando Fala o Coração", minissérie sobre a vida turbulenta da cantora de "Meu Mundo Caiu", dirigida por seu filho, Jayme Monjardim, estreia amanhã na Globo
L. Alberto/ Reprodução do livro 'Maysa'
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Maysa em intervalo da gravação da novela 'O Cafona', da TV Globo
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Jayme Monjardim, 53, é conhecido, entre outros trabalhos, pela direção inovadora na
novela "Pantanal" e pelo filme
"Olga". A partir de amanhã, será o filho da cantora Maysa.
Diretor da Globo, ele leva ao
ar na emissora o grande projeto
de sua vida: uma minissérie de
nove capítulos sobre a turbulenta vida de sua mãe (1936-1977), estrela da música brasileira de carreira internacional,
celebrizada pela interpretação
de "Meu Mundo Caiu", entre
outros grandes sucessos do
samba-canção e da bossa nova.
Fora dos palcos, sua vida foi
marcada por atitudes controversas, paixões polêmicas, abuso de álcool, de moderadores de
apetite e tentativas de suicídio.
Morreu aos 40, em um acidente
de carro na ponte Rio-Niterói.
Monjardim tinha apenas
dois anos quando Maysa se separou de seu pai, o bilionário
André Matarazzo, e foi deixado
na casa de avós, sendo criado
por uma empregada. Aos seis,
quando o pai morreu, o "jogaram" em um colégio interno na
Espanha por quase dez anos.
Uma cena criada pelo autor
da minissérie, Manoel Carlos
(leia entrevista à pág. E3), tenta
resumir o sofrimento e a sensação de abandono: em uma rara
visita ao internato, Maysa se
depara com o filho pequeno
doente e diz que não irá beijá-lo
para não correr o risco de se
resfriar e prejudicar sua voz.
Monjardim, que diz nunca
ter feito análise, contou à Folha como se manteve "congelado" ao rever -e dirigir- cenas
tão dramáticas de seu passado.
FILHO X DIRETOR
Consegui separar o filho do diretor, ter um distanciamento
suficiente para não sofrer ou
me emocionar. Sem isso, não
poderia ter feito esse trabalho.
Já imaginou gravar essa cena
[em que Maysa não beija Monjardim no internato] e começar
a chorar? Me dediquei a esse
projeto, talvez o mais importante na minha vida, para contar uma linda história de amor.
O projeto é tão elevado, já sofri
tanto por ser um menino sozinho, que parece outra encarnação. Mas, quando assistir na
TV, não sou mais diretor, e sim
o filho. Aí não me responsabilizo pelo que vou fazer, porque
até agora estou congelado.
CENAS FORTES
A minissérie é um resumo muito sutil do que aconteceu. Aquilo foi um beijo, mas imagina
passar dez anos em um colégio
interno sozinho. Os dez anos
foram tão violentos que essa
cena não é mais violenta para
mim. O que tinha que chorar já
foi. [A cena em que Maysa é encontrada em uma banheira
cheia de sangue após cortar os
pulsos] Não vi, mas vi muitas
outras. Vivi cenas muito difíceis. Mas isso não é um problema para mim. Não tenho defeitos de fabricação por causa disso. Todos os filhos de artistas
passam por problemas não tão
diferentes dos que eu passei. As
grandes estrelas são complicadas, polêmicas, intensas. Algo
tem de especial, não são normais. Acabam fazendo besteiras e vivendo loucuras.
ABANDONO
Nunca fiz análise. Na minha vida inteira me virei sozinho.
Imagina ficar sozinho em um
colégio interno, sem sair nem
para as férias, durante dez anos.
Não falava português direito e
até hoje não sei escrever em
português. Mas foram 30 anos
de análise em dois anos que estou nesse projeto da minissérie. Não tenho por que ficar me
lamentando. Eu sou tão realizado. Tenho três filhos lindos,
uma mulher linda, ganho muito bem para fazer o que gosto.
Por que reclamar do meu passado? Trabalhei anos para acabar com os meus monstrinhos.
ACERTO DE CONTAS?
[Sobre cena em que André Matarazzo cobra de Maysa atenção ao filho: "Um dia ele vai
crescer e há de julgar a boa mãe
que você foi ou deixou de ser"]
É lógico que já a julguei mal pra
caramba. Tinha raiva, era revoltado, pô, como minha mãe
me largou em um colégio? Mas,
à medida em que cresci, fui entendendo que Maysa agia assim
por milhões de motivos. Entendia por que ela bebia, por que a
vida dela era difícil. E vivi os
dois últimos anos da vida dela
muito bem, como grandes amigos. Consegui admirá-la.
HOMENAGEM
Acho que ela ia achar [a minissérie] uma graça, ficar impressionada de andar no Projac e
ver um carrinho com o nome
dela. Ela morreu endividadíssima, tadinha, ferrada. Eu me
sinto à vontade. A minissérie é
para cima, não uma lavação de
roupa, é uma purificação, uma
recuperação de nossa memória
e uma homenagem à música
brasileira. O país estava esquecendo um patrimônio nacional.
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