São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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comentário

Vida intensa é burilada com apuro visual

FLÁVIA CESARINO COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há muitos riscos quando as minisséries contam a vida de gente famosa. Um pouco de endeusamento, um resumo dos principais altos e baixos das vidas envolvidas, uma rica produção e atuações exageradas bastam para esvaziar as histórias em clichês conhecidos. Não é o que acontece com "Maysa - Quando Fala o Coração".
A intensidade da vida da cantora é burilada com cuidado visual e dramatúrgico, evitando ciladas que os grandes orçamentos oferecem. O resultado é um primor de adequação entre o mito e o relato.
O fato de o diretor Jayme Monjardim acalentar há tanto tempo o projeto de contar a vida da mãe contribuiu para que tudo fosse feito com cuidado -e o resultado fosse deslumbrante. Monjardim já tinha filmado a vida de Maysa em duas oportunidades, num curta em 1979 e num especial da Band em 1983.
Talvez por ter sido tão pensada e repensada antes, a minissérie consegue juntar a excelência da fotografia de Affonso Beato, o texto equilibrado de Manoel Carlos e atores com carreira no teatro. Monjardim acumulou durante anos enorme quantidade de material, como diários da mãe, mais de 3.000 fotos e recortes de jornais e arquivos da TV e do cinema. Não é uma biografia cronológica, mas um benfeito mosaico de idas e vindas no tempo, em que a trajetória e as emoções da cantora tecem uma vida de ousadia.
A gaúcha Larissa Maciel fez não uma imitação, mas uma interpretação pessoal, emocionante por não ser exagerada. Como em outras minisséries da Globo, optou-se por uma visualidade mais próxima à do cinema do que à da TV. A câmera digital Arriflex 21 e o pós-tratamento da imagem produzem uma sofisticada gama de cores e de luzes, amplos enquadramentos e a valorização de detalhes de vestuário e de cenografia. Permitiram a sofisticada realização da cena do acidente em que morreu Maysa, na ponte Rio-Niterói, feita com recursos avançados de computação gráfica que não devem nada a Hollywood.


FLÁVIA CESARINO COSTA é professora de audiovisual no Centro Universitário Senac e autora de "O Primeiro Cinema" (ed. Azougue, 2005)



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