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comentário
Vida intensa é burilada com apuro visual
FLÁVIA CESARINO COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há muitos riscos
quando as minisséries contam a
vida de gente famosa. Um
pouco de endeusamento,
um resumo dos principais
altos e baixos das vidas envolvidas, uma rica produção e atuações exageradas
bastam para esvaziar as
histórias em clichês conhecidos. Não é o que
acontece com "Maysa -
Quando Fala o Coração".
A intensidade da vida da
cantora é burilada com
cuidado visual e dramatúrgico, evitando ciladas
que os grandes orçamentos oferecem. O resultado
é um primor de adequação
entre o mito e o relato.
O fato de o diretor Jayme Monjardim acalentar
há tanto tempo o projeto
de contar a vida da mãe
contribuiu para que tudo
fosse feito com cuidado -e
o resultado fosse deslumbrante. Monjardim já tinha filmado a vida de Maysa em duas oportunidades,
num curta em 1979 e num
especial da Band em 1983.
Talvez por ter sido tão
pensada e repensada antes, a minissérie consegue
juntar a excelência da fotografia de Affonso Beato,
o texto equilibrado de Manoel Carlos e atores com
carreira no teatro.
Monjardim acumulou
durante anos enorme
quantidade de material,
como diários da mãe, mais
de 3.000 fotos e recortes
de jornais e arquivos da
TV e do cinema. Não é
uma biografia cronológica,
mas um benfeito mosaico
de idas e vindas no tempo,
em que a trajetória e as
emoções da cantora tecem
uma vida de ousadia.
A gaúcha Larissa Maciel
fez não uma imitação, mas
uma interpretação pessoal, emocionante por não
ser exagerada. Como em
outras minisséries da Globo, optou-se por uma visualidade mais próxima à
do cinema do que à da TV.
A câmera digital Arriflex
21 e o pós-tratamento da
imagem produzem uma
sofisticada gama de cores e
de luzes, amplos enquadramentos e a valorização
de detalhes de vestuário e
de cenografia. Permitiram
a sofisticada realização da
cena do acidente em que
morreu Maysa, na ponte
Rio-Niterói, feita com recursos avançados de computação gráfica que não
devem nada a Hollywood.
FLÁVIA CESARINO COSTA é professora
de audiovisual no Centro Universitário
Senac e autora de "O Primeiro Cinema"
(ed. Azougue, 2005)
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