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DVD/"Don Giovanni"
Restaurada, obra-prima de Losey arrebata até quem não é fã de ópera
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Don Giovanni" não é
um filme de ópera,
como esses que se
limitam a decalcar uma montagem de teatro. Também não é
um filme baseado em uma ópera que tenta superá-la.
"Don Giovanni" de Joseph
Losey é um filme que usa todos
os recursos do cinema para colocar em relevo a música de
Mozart, seus intérpretes e atores. E aquilo que o teatro não
pode mostrar tão bem: Veneza.
O encanto da abertura é único justamente por isso: as imagens são livres para circular pela paisagem veneziana, seus palácios, suas águas. Não parece
que Losey as ilustra, parece até
que Mozart escreveu a música
para essas imagens.
É depois que entram os atores e começa a ação propriamente dita. Não tenho a menor
condição de falar sobre a qualidade dos intérpretes, Ruggero
Raimondi (Don Giovanni), Kiri
Te Kanawa (Dona Elvira), Edda
Moser (Dona Anna), Teresa
Berganza (Zerlina), José van
Dam (Leporello) e a Orquestra
da Ópera de Paris, entre outros.
Tirando a orquestra, a primeira
coisa a garantir é que se trata de
um cast fotogênico, o que não é
pouco, tratando-se de cinema.
Isso é só uma parte das coisas. Porque a ópera no cinema
pode ser uma coisa insuportável, e quem viu, digamos, "La
Traviatta", versão Zeffirelli, sabe do que estou falando.
Joseph Losey (1909-1984)
faz aqui um filme raro. Começa
por ter uma vitalidade de garoto, não de um já então veterano
e consagrado diretor. Para que
suas três horas de duração não
possam se tornar aborrecidas,
lançará mão de todos os recursos do cinema: o alto e o baixo, o
distante e o próximo, o movimento e a estaticidade.
Todo mundo faz isso, claro. O
problema é fazer na hora certa.
Disse Godard que o cinema é
uma questão de distância. E todo "Don Giovanni" são distâncias e dimensões. Podemos ver,
num desses momentos memoráveis, o rosto em primeiro plano de Dona Elvira, no alto, que
caminha, e embaixo Don Giovanni e Leporello, que acompanham seus movimentos.
Ou, mais adiante, Leporello
começa a abrir o livro das conquistas de Don Giovanni, numa
longa cena, e, enquanto lista as
mulheres com quem transou, o
livro se desdobra ao longo de
uma escadaria, que prossegue
por um gramado.
Neste filme de 1980, Losey
sabe ser fiel à música e à imagem, às palavras e às expressões, às paisagens, a Veneza.
Toma um tipo de representação como a ópera, então fora de
moda, e a traz à tela com um
sentido de modernidade só
igualado pela fidelidade, também, ao tempo representado.
É uma obra-prima que volta
a circular, muito tempo depois,
restaurada, em dois discos, com
edição cuidada. Quem gosta de
ópera vai adorar. Quem não
gosta vai adorar mais ainda,
porque terá, de quebra, o prazer do inesperado, da surpresa.
DON GIOVANNI
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 55
Classificação: não informada
Avaliação: ótimo
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