São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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Crítica/música/"É Tempo de Amar"

Zé Renato dá nova roupagem à jovem guarda

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em seu novo disco, "É Tempo de Amar", Zé Renato dá a 13 canções da jovem guarda um tratamento que boa parte delas nem merecia. A fragilidade de letras e melodias é compensada por arranjos refinados e pela ótima voz do cantor, que já fez discos marcantes a partir das obras de Zé Keti, Sílvio Caldas, Noel Rosa e Chico Buarque.
Com sete músicas já gravadas por Roberto Carlos -mas nenhuma de autoria dele, o que evitou obstáculos de autorização-, o CD tem um percurso interessante. Começa, na faixa-título, na linha "um banquinho, um violão e um órgão", conciliando roupagem de bossa nova com um instrumento que marcou a sonoridade da jovem guarda. Ao longo das faixas, os arranjos vão perdendo as referências ao iê-iê-iê, até ficarem livres delas nas cinco últimas.
Este último bloco começa com "Quero Ter Você Perto de Mim", cujo primeiro verso, "Sem você", inspira a Zé Renato uma alusão explícita à bossa nova, por causa da canção homônima de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A formação acústica ganha escalação semelhante na faixa seguinte, "Ninguém Vai Tirar Você de Mim", em que o piano acústico de Marcos Valle e as percussões de Marcelo Costa substituem com qualidade o órgão e a bateria da versão de 1968, de Roberto.
"Custe o que Custar" é só violão e acordeom. "O Tempo Vai Apagar" tem muito mais peso, mas são cordas, outra alternativa ao órgão da gravação sessentista. E "A Última Canção" é a mais enxuta -e bonita- de todas, com Zé Renato valendo-se apenas do próprio violão. Na comparação com os registros de Roberto, o cantor perde em "Lobo Mau", porque contém até demais a voz, anulando a ironia, e em "Não Há Dinheiro que Pague", pois a versão de 68 de Roberto é espetacular.
"Nossa Canção" é um retrato do que há de melhor no disco. Em vez do pandeirinho maçante e do violão de aço da gravação de Roberto, a música ficou com uma percussão discreta e bonita, violão de nylon e a evocação dos anos 60 na guitarra de 12 cordas e no hammond. A simplicidade eficiente das interpretações e dos arranjos de "Coração de Papel" e "Com Muito Amor e Carinho", os cellos de Jaques Morelenbaum e a voz de Nina Becker em "Eu Não Sabia que Você Existia", e o registro bossa nova de "Por Você" são outros destaques nessa empreitada inteligente de Zé Renato.

É TEMPO DE AMAR
Artista: Zé Renato
Gravadora: MP,B
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: bom



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