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Crítica/música/"É Tempo de Amar"
Zé Renato dá nova roupagem à jovem guarda
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Em seu novo disco, "É
Tempo de Amar", Zé
Renato dá a 13 canções
da jovem guarda um tratamento que boa parte delas nem merecia. A fragilidade de letras e
melodias é compensada por arranjos refinados e pela ótima
voz do cantor, que já fez discos
marcantes a partir das obras de
Zé Keti, Sílvio Caldas, Noel Rosa e Chico Buarque.
Com sete músicas já gravadas por Roberto Carlos -mas
nenhuma de autoria dele, o que
evitou obstáculos de autorização-, o CD tem um percurso
interessante. Começa, na faixa-título, na linha "um banquinho,
um violão e um órgão", conciliando roupagem de bossa nova
com um instrumento que marcou a sonoridade da jovem
guarda. Ao longo das faixas, os
arranjos vão perdendo as referências ao iê-iê-iê, até ficarem
livres delas nas cinco últimas.
Este último bloco começa
com "Quero Ter Você Perto de
Mim", cujo primeiro verso,
"Sem você", inspira a Zé Renato uma alusão explícita à bossa
nova, por causa da canção homônima de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A formação
acústica ganha escalação semelhante na faixa seguinte, "Ninguém Vai Tirar Você de Mim",
em que o piano acústico de
Marcos Valle e as percussões de
Marcelo Costa substituem com
qualidade o órgão e a bateria da
versão de 1968, de Roberto.
"Custe o que Custar" é só violão e acordeom. "O Tempo Vai
Apagar" tem muito mais peso,
mas são cordas, outra alternativa ao órgão da gravação sessentista. E "A Última Canção" é a
mais enxuta -e bonita- de todas, com Zé Renato valendo-se
apenas do próprio violão.
Na comparação com os registros de Roberto, o cantor perde
em "Lobo Mau", porque contém até demais a voz, anulando
a ironia, e em "Não Há Dinheiro que Pague", pois a versão de
68 de Roberto é espetacular.
"Nossa Canção" é um retrato
do que há de melhor no disco.
Em vez do pandeirinho maçante e do violão de aço da gravação de Roberto, a música ficou
com uma percussão discreta e
bonita, violão de nylon e a evocação dos anos 60 na guitarra
de 12 cordas e no hammond.
A simplicidade eficiente das
interpretações e dos arranjos
de "Coração de Papel" e "Com
Muito Amor e Carinho", os cellos de Jaques Morelenbaum e
a voz de Nina Becker em "Eu
Não Sabia que Você Existia", e o
registro bossa nova de "Por Você" são outros destaques nessa
empreitada inteligente de Zé
Renato.
É TEMPO DE AMAR
Artista: Zé Renato
Gravadora: MP,B
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: bom
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