São Paulo, terça, 4 de fevereiro de 1997.

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Maracatus escoltam corpo ao cemitério

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Um grupo de 12 cortadores de cana da Zona da Mata, vestidos de guerreiros do maracatu Piaba de Ouro, um dos mais tradicionais de Pernambuco, escoltou ontem o corpo do cantor e compositor Chico Science, do velório ao carro de bombeiros que o conduziu ao cemitério.
O caixão com o corpo do artista deixou o centro de convenções, na divisa de Olinda e Recife, onde estava sendo velado, às 15h30 (16h30 em Brasília), transportado por policiais da guarda de honra.
Até aquela hora, dez mil pessoas haviam passado pelo local para homenagear o cantor, segundo avaliação da PM. Cerca de mil pessoas permaneceram no prédio até a saída do corpo.
O escritor e secretário de Cultura do Estado, Ariano Suassuna, que tinha divergências quanto ao estilo musical de Chico Science -uma mistura de rock com o maracatu- foi ao velório e chorou em frente ao caixão.
O artista Antonio Nóbrega também homenageou o compositor e lembrou dos quatro encontros que mantiveram nos últimos 20 dias.
``Guardo de Chico uma lembrança afetivo-musical'', disse Nóbrega. Os dois tocariam juntos ontem e hoje, pela primeira vez sobre um trio elétrico, na praia de Boa Viagem. Para Nóbrega, o movimento mangue beat, criado por Chico Science, ``vai continuar por conta dos seguidores que o tinham como referência''. ``Foi uma perda trágica, brutal'', disse.
Apesar da presença de artistas e pessoas famosas no velório, foram os anônimos cortadores de cana dos maracatus da Zona da Mata quem mais emocionaram os fãs e os parentes do cantor.
Trajando roupas típicas, coloridas e com guizos presos às vestes, os caboclos-de-lança (nome do personagem do maracatu) foram saudados com gritos de ``Chico, Chico''. Os fãs cantavam músicas de seu ídolo, enquanto os maracatus dançavam em frente ao caixão.
A 25 quilômetros dali, Carlinhos Brown, que tocaria ontem à noite num trio elétrico, dizia que, se dependesse de sua vontade, não subiria ao palco.
``Chico Science trouxe a modernidade ao Estado e ao país, a morte dele só enfraquece a nossa geração'', afirmou.

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