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Maracatus escoltam corpo ao cemitério
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife
Um grupo de 12 cortadores de
cana da Zona da Mata, vestidos de
guerreiros do maracatu Piaba de
Ouro, um dos mais tradicionais de
Pernambuco, escoltou ontem o
corpo do cantor e compositor Chico Science, do velório ao carro de
bombeiros que o conduziu ao cemitério.
O caixão com o corpo do artista
deixou o centro de convenções, na
divisa de Olinda e Recife, onde estava sendo velado, às 15h30 (16h30
em Brasília), transportado por policiais da guarda de honra.
Até aquela hora, dez mil pessoas
haviam passado pelo local para
homenagear o cantor, segundo
avaliação da PM. Cerca de mil pessoas permaneceram no prédio até
a saída do corpo.
O escritor e secretário de Cultura
do Estado, Ariano Suassuna, que
tinha divergências quanto ao estilo
musical de Chico Science -uma
mistura de rock com o maracatu- foi ao velório e chorou em
frente ao caixão.
O artista Antonio Nóbrega também homenageou o compositor e
lembrou dos quatro encontros que
mantiveram nos últimos 20 dias.
``Guardo de Chico uma lembrança afetivo-musical'', disse Nóbrega. Os dois tocariam juntos ontem e hoje, pela primeira vez sobre
um trio elétrico, na praia de Boa
Viagem. Para Nóbrega, o movimento mangue beat, criado por
Chico Science, ``vai continuar por
conta dos seguidores que o tinham
como referência''. ``Foi uma perda
trágica, brutal'', disse.
Apesar da presença de artistas e
pessoas famosas no velório, foram
os anônimos cortadores de cana
dos maracatus da Zona da Mata
quem mais emocionaram os fãs e
os parentes do cantor.
Trajando roupas típicas, coloridas e com guizos presos às vestes,
os caboclos-de-lança (nome do
personagem do maracatu) foram
saudados com gritos de ``Chico,
Chico''. Os fãs cantavam músicas
de seu ídolo, enquanto os maracatus dançavam em frente ao caixão.
A 25 quilômetros dali, Carlinhos
Brown, que tocaria ontem à noite
num trio elétrico, dizia que, se dependesse de sua vontade, não subiria ao palco.
``Chico Science trouxe a modernidade ao Estado e ao país, a morte
dele só enfraquece a nossa geração'', afirmou.
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