São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

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Técnicas de degustação e safras de qualidade embebedam espectador

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

O vinho é o pano de fundo sobre o qual se movimentam os personagens principais de "Sideways". Para Miles (Paul Giamatti), o mundo de Baco é uma espécie de universo paralelo no qual mergulha para se afastar das mágoas de sua tediosa vida de professor secundário, do seu recente divórcio e de seus fracassos como escritor.
O vinho também motiva o convite que faz a um amigo: realizar uma viagem percorrendo vinhedos e vinícolas de Santa Barbara, condado que ocupa o extremo meridional de uma enorme área vinícola da Califórnia, a Costa Central, uma longa faixa de terra que beira o Pacífico entre as cidades de San Francisco, ao norte, e Los Angeles, ao sul.
Menos famoso que os vales de Napa ou Sonoma -berço da maioria dos grandes vinhos norte-americanos-, o condado, porém, é lar de belos exemplares (especialmente de Chardonnay, Pinot Noir e Syrah), oriundos de casas como Byron, Au Bon Climat, Cambria ou Sandford.
As andanças do quarteto pela região vêm acompanhadas por boas imagens, em que não faltam, naturalmente, vinhedos, cenas da colheita de uvas, de vinícolas (numa delas, a Firestone, o diretor consegue até criar um ambiente cálido e romântico na sala de barricas, uma das partes mais frias e monótonas de uma adega) e de restaurantes daqueles que dão vontade de visitar, como o Los Olivos Café, onde os quatro regam um jantar com uma boa coleção de tintos e brancos.
Há momentos dedicados a dar dicas básicas em torno do como apreciar um vinho, combinadas com lances de humor. Num deles Miles tenta ensinar a Jack o bê-á-bá da degustação de um vinho, analisando (demoradamente) a sua cor e descrevendo (longamente) o seu aroma, mas sem muito sucesso, já que o amigo, impaciente (e mais preocupado com a farra do que com tecnicismos), acaba bebendo o vinho todo de uma tacada só, tipo caubói (e, pior ainda, sem tirar da boca a goma de mascar).


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