São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÔNICA BERGAMO

Ana Ottoni/Folha Imagem
O rei mostrou bom humor quando vestiu-se de marinheiro para o show que realizou no Costa Victoria


"Liberei geral"

Roberto Carlos deixa o camarim montado para ele no navio italiano Costa Victoria às 3h da manhã da quinta-feira, depois de um show em que cantou, brincou e contou piadas por mais de duas horas. A embarcação, que partiu de Santos rumo a Búzios (RJ), na quarta-feira, levando 2.300 fãs do rei a bordo, chacoalha muito. Roberto faz força para se equilibrar. "Bebi muito hoje", brinca ele, abraçando Wanderléia para fazerem juntos uma foto. A coluna estava lá e conversou com o rei.

 

Folha - Você não fica tonto com tanto balanço?
Roberto Carlos -
Não. Eu sou do mar [Roberto tem um iate, o "Lady Laura"].

Folha - O seu show estava muito divertido, até com luzes roxas. Você não gostava dessa cor...
Roberto -
[rindo] Continuo não gostando. Mas o pessoal [de sua equipe] me engana e coloca. [Roberto começa a caminhar em direção ao Cassino Montecarlo, no 7º andar do navio.]

Folha - Você vai mesmo ao cassino? Sua assessoria disse que nos últimos anos nem na frente de bingo você passava.
Roberto -
Vou. Sempre gostei de cassino. Teve um tempo em que fiquei sem ir. Mas isso era no tempo em que eu estava fazendo curso para ser santo.

Folha - Não faz tanto tempo...
Roberto -
É. É recente. Mas agora liberei geral.

 

Roberto Carlos foi ao cassino e por lá ficou, animadamente, jogando na roleta até 5h. O rei mudou. E a viagem organizada por sua empresa, que alugou o navio Costa Victoria para lançá-lo em alto mar com os fãs, a um preço que variou de US$ 950 a US$ 2.300 a cabine, parece montada para mostrar isso ao grande público. Fotos eram proibidas no cassino, mas a assessoria do rei tratou de espalhar que ele daria uma passadinha por lá [o rei chegou tão tarde, porém, que poucos jornalistas se animaram a esperá-lo]. O cantor, que passou os últimos anos praticamente trancado em casa, concordou em passear rapidamente entre os convidados, programou visitar a cabine do navio para ser fotografado e anunciou uma entrevista coletiva, quebrando a regra de falar com jornalistas apenas em dezembro, quando lança o CD de Natal.
 

A diferença começou no embarque. Roberto chegou em grande estilo: num helicóptero, contrariando regras que não permitiam o pouso no porto, ao lado da embarcação. Mas Roberto é Roberto. "Falamos com um, com outro, e acabamos conseguindo autorização", diz Dodi Sirena, empresário do rei.
 

Quase 40 jornalistas aguardavam Roberto na entrada do navio. "Ele vai caminhar? Ele vai falar?", perguntavam os jornalistas a Ivone Kassu, assessora de Roberto. "Gente, ele anda, ele fala...", respondia Kassu. Roberto desceu do helicóptero, foi ao encontro da imprensa, falou das tantas emoções de viver aquele momento lindo. E embarcou.
 

Para a frustração das fãs, o rei foi direto à cabine 11.102, no lugar mais alto do navio. "Tem muita mulher revoltada por aqui", dizia a empresária Rosinha Goldfarb. "Esperavam que ele circulasse pela piscina, tomasse sorvete no meio delas", contava Rosinha, uma das melhores amigas de Hebe Camargo -que não viajou por causa de uma forte gripe. Xuxa, recuperando-se de uma plástica nas pálpebras, também não foi.
 

Na falta do rei, as fãs corriam atrás de personalidades como Luciana Vendramini, Glória Pires e Wanderléia. "Esta é a fila para tirar fotos com a Wanderléia?", perguntavam várias delas, confundindo-se com a longa fila do almoço.
 

A alagoana Diana Cabus, 56, dona de loja em Maceió, foi uma das que circulou por todos os 12 andares do navio em busca do rei. "Procuramos na piscina, nos restaurantes, e nada", dizia. Solteira, Diana mandou fazer dez roupas especialmente para a viagem e levou a mãe, Maria Cabus, 84, para viajar com o rei.
 

O ingresso de Diana dava direito ao primeiro show, na quarta. A apresentação era às 23h30, mas às 20h30 ela estava na fila. Ficou tanto tempo em pé, e o navio balançando, que ela até passou mal. Valeu a pena. À meia-noite, as cortinas douradas do palco subiram, e Roberto entregou a mercadoria. Uma farta mercadoria. Cantou, por três horas, hits como "Emoções" e "Detalhes". Apareceu ao lado de um cadillac inflável, com roupa de marinheiro. Contou piadas. "Quem espera que a vida seja feita de ilusão", cantava, quando interrompeu: "Tá ferrado, gente!". Risos. "Não adianta discutir: Tá ferrado".
 

Tudo isso iluminado por luzes roxas outrora evitadas. "Teve um tempo em que ficamos preocupados", dizia Wanderléia no camarim, referindo-se ao TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). "Mas ele agora está melhorando: pode roxo, pode marrom, pode tudo." Ela só ficou perplexa quando soube que Roberto iria ao cassino. "Gente, jura? É verdade?". Diante da confirmação, ela concluiu: "É, ele está mudando mesmo".

@ - bergamo@folhasp.com.br
COM JOÃO LUIZ VIEIRA, DANIEL BERGAMASCO E MARIA FERNANDA ERDELYI


Texto Anterior: Crítica: Longa atola no conformismo
Próximo Texto: Popload: "Srs. passageiros, vamos atravessar uma área de turbulência e..."
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.