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Aberta a temporada
Novos episódios das séries "Lost", "Grey's Anatomy" e "Desperate Housewives" reforçam a programação das TVs aberta e paga em ano com apostas mal-sucedidas
de noivado às amigas no primeiro episódio do 3º ano de "Desperate Housewives", em que a comédia
sela as pazes com a crítica
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
A crítica norte-americana
tem insistido em usar a expressão "era de ouro" para se referir
à atual safra de teledramaturgia. Os pilares do bom momento seriam a ousadia e a originalidade dos temas abordados, associadas à disposição de experimentar formatos.
Se a adjetivação laudatória
pode soar precipitada, três séries que reestréiam no Brasil
nesta semana -"Lost", "Grey's
Anatomy" e "Desperate Housewives" - provam que os ventos sopram mesmo a favor da ficção televisiva ianque. De quebra,
salvam um ano em que os canais pagos brasileiros fizeram
más apostas e quase só importaram "bombas", como "In Justice" e "Courting Alex", ambas
do Sony. A exceção é "Heroes",
grande sucesso nos EUA, que
estréia no Brasil em 2 de março.
"Lost", a mais festejada pelo
público brasileiro, tem sua segunda temporada (já vista no
canal pago AXN) apresentada
na Globo, em versão dublada, a
partir de amanhã. Em fevereiro
de 2006, a primeira marcou 16
pontos de média no Ibope, índice excelente para o horário.
Nos EUA, depois de um hiato
de três meses, o terceiro ano da
saga dos sobreviventes do desastre no vôo 815 da Oceanic
Air volta ao ar, nesta quarta,
com um desafio: elucidar mistérios suficientes para estancar
a sangria de audiência, sem entregar pontos-chave da trama.
O enigma que envolve o personagem de Rodrigo Santoro deve ser um dos primeiros da fila,
já que ele está de saída.
Para fugir do rastro de "American Idol" e da concorrência
de "Criminal Minds", o programa migra das 21h para as 22h,
nos EUA. Mas os rumos da história não mudarão segundo a
medição do ibope.
"Sempre buscamos um equilíbrio entre as duas principais
críticas dos fãs: a mitologia excessivamente complexa que
envolve a ilha e o fato de não
darmos muitas respostas. Não
há um balanço perfeito, mas
contamos com o público para
nos guiar de alguma forma",
disse o co-criador Damon Lindelof, em outubro passado, durante entrevista da qual a Folha participou, nos EUA.
A máxima do "nada em "Lost"
é o que parece" -que inspira,
no círculo de fãs, as mais estapafúrdias teorias sobre o simbolismo da ilha- é seguida pelos roteiristas desde o começo
de tudo, quando esboçavam
personagens como Sayid.
"Escrevemos o piloto em janeiro de 2004. Na época, fazia
cerca de seis meses que George
Bush anunciara a vitória americana no Iraque, e a América começava a sentir que aquilo [a
guerra] poderia durar mais do
que se imaginava. Achamos interessante apresentar um personagem heróico e cativante e
depois revelar que ele tinha sido da Guarda Republicana Iraquiana. A noção de que as coisas podem não ser o que aparentam nos parecia um comentário político interessante",
contou Lindelof.
Ambigüidade da guerra
Haveria, nas entrelinhas da
trama, mais acenos à política
externa dos EUA? "Não. O que
existe é a idéia de tentar entender o ponto de vista daqueles
que não se conhece", afirmou o
produtor Carlton Cuse.
Lindelof explicou melhor. "O
mais curioso da guerra é a ambigüidade. Sabemos que temos
tropas no Iraque mantendo algum tipo de paz, mas não estamos em guerra contra o país,
certo? Essa ambigüidade também perpassa "Lost". Quem são
Os Outros [habitantes da ilha
que não os sobreviventes do desastre aéreo]? Eles estão nos
atacando? Porque o fato é que
[os sobreviventes] matamos sete ou oito dos deles, e eles, só
um dos nossos. Ok, eles nos
atraem para dentro da floresta,
mas não seria porque querem
nos resgatar de algo?"
E completou: "É fácil dizer
que pessoas que cometem atos
terroristas, amarram bombas
na cintura e lançam aviões contra prédios são loucas, mas você
questiona isso se encara os fatos pela perspectiva delas. Isso
[questionar-se] é mergulhar na
consciência americana."
Mergulhar na consciência
dos roteiristas e emergir com a
solução dos enigmas é certamente a aspiração de muitos
fãs da série. Alguns temem que
os produtores não saibam desatar os nós e que o desfecho não
recompense a fidelidade à série. Cuse tranqüiliza a turma.
"Nas principais tramas, já sabemos o que irá acontecer. Não
criaríamos uma escotilha [que
é explorada pelos sobreviventes na 2ª temporada] sem saber
o que estaria ali", exemplificou.
Os autores, pelo visto, guardam as explicações para si. Os
scripts só são entregues aos
atores dois ou três dias antes
das gravações, o que deixa gente como Emilie de Ravin, intérprete de Claire, no escuro.
"Acho que estamos todos na
ilha para nos dar conta de algo,
independentemente de aquele
lugar ser real ou não", arriscou.
O sentimento de coletividade
que, na ficção, faz a turma se
agrupar para enfrentar Lostzilla, urso polar e afins, não encontra eco longe das câmeras.
"Não somos tão unidos. No início, saíamos juntos. Depois, por
causa do sucesso do programa
mundo afora e dos horários de
cada um, ficou difícil", diz Matthew Fox, o Jack Shepard, líder
involuntário do bando.
O repórter LUCAS NEVES viajou a convite da
Sony Pictures Television International
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