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Mondrian à brasileira
Obra do holandês serve de guia para universo pop de Raymundo Colares
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu ainda vou entender esse cara como ninguém nunca entendeu", escreveu o artista plástico
Raymundo Colares (1944-1986),
numa colagem de 1972, que mistura desenhos seus a um postal
com uma imagem de uma pintura do pintor holandês Piet Mondrian (1872-1944).
Nos anos 70, o mineiro Colares
passa a usar como referência mais
importante de sua obra a simplicidade de linhas e formas, inspirada em conceitos metafísicos, de
Mondrian, que também servia de
parâmetro para outro brasileiro
naquele período, o carioca Hélio
Oiticica (1937 -1980).
A partir de hoje, o Centro Universitário Mariantonia (Ceuma)
apresenta uma pequena retrospectiva de Colares, com 15 obras,
"a primeira individual do artista
na cidade", segundo o curador
Lorenzo Mammi, também diretor
do Ceuma.
Com um carreira abreviada de
forma trágica, Colares morreu aos
42 anos, queimado, amarrado em
um colchão de uma clínica psiquiátrica, o artista foi um dos destaques da período pop brasileiro,
nos anos 60, e seguiu por uma incursão que tinha Mondrian por
guia, mas ampliando a palheta de
cores -que para o holandês se
resumia às cores primárias.
"Ele é um dos artistas esquecidos, mas está num momento que
pode ser melhor compreendido,
pois já trabalhava com a manipulação de imagens", conta Mammi.
De seu período pop, Colares tem
um caráter bastante particular,
que o afasta da maioria dos brasileiros da época, que usavam o pop
com mensagens políticas. "Ele
possuía um viés mais existencial",
explica o curador.
Além de Colares, o Ceuma apresenta outras quatro individuais e
mais uma coletiva de artistas estrangeiros que vivem em Bruxelas. Cassio Michalany transfere suas pinturas para
as paredes, transformando a
maior sala de exposição do Ceuma em um "site especific". De um
lado da sala, domina a cor laranja,
do outro o verde e azul, com os incômodos pilares do local funcionando como cortes na visão do
espectador. "Fazer arte é saber lidar com situações adversas", conta Michalany.
Patrícia Furlong utiliza parte da
fachada externa do Ceuma, recoberta de tinta preta, à espera que
transeuntes raspem a pintura, que
cobre frases "clichês de rua", selecionadas pela artista. Panfletos serão distribuídos estimulando a
participação do público. "Não sei
o que vai acontecer de fato", diz
Furlong, que irá registrar todo o
processo de transformação do
trabalho.
Já Ana Luiza Dias Batista apresenta três esculturas com plantas,
que deslocam situações de rua para o cubo branco. "Busco tratar
do uso hipócrita da jardinagem
neoliberal na cidade", diz Batista,
que apresenta ainda quatro colagens com a mesma temática. Finalmente, Vanderlei Lopes expõe
o vídeo "Powerhead", uma seqüência de imagens do próprio
artista, que cobriu sua cabeça com
talco.
INDIVIDUAIS.
Mostra com os artistas Ana
Luiza Dias Batista, Cassio Michalany,
Patrícia Furlong, Vanderlei Lopes,
Raymundo Colares e The Invisible
Meeting. Onde: Ceuma (r. Maria Antonia,
294, tel. 0/xx/11/3257 2760). Quando:
abertura hoje, 20h; de seg. a sex., das 12h
às 21h, sáb. e dom., das 10h às 18h. Até
18/4. Quanto: entrada franca.
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