São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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Mondrian à brasileira

Obra do holandês serve de guia para universo pop de Raymundo Colares

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu ainda vou entender esse cara como ninguém nunca entendeu", escreveu o artista plástico Raymundo Colares (1944-1986), numa colagem de 1972, que mistura desenhos seus a um postal com uma imagem de uma pintura do pintor holandês Piet Mondrian (1872-1944).
Nos anos 70, o mineiro Colares passa a usar como referência mais importante de sua obra a simplicidade de linhas e formas, inspirada em conceitos metafísicos, de Mondrian, que também servia de parâmetro para outro brasileiro naquele período, o carioca Hélio Oiticica (1937 -1980).
A partir de hoje, o Centro Universitário Mariantonia (Ceuma) apresenta uma pequena retrospectiva de Colares, com 15 obras, "a primeira individual do artista na cidade", segundo o curador Lorenzo Mammi, também diretor do Ceuma.
Com um carreira abreviada de forma trágica, Colares morreu aos 42 anos, queimado, amarrado em um colchão de uma clínica psiquiátrica, o artista foi um dos destaques da período pop brasileiro, nos anos 60, e seguiu por uma incursão que tinha Mondrian por guia, mas ampliando a palheta de cores -que para o holandês se resumia às cores primárias.
"Ele é um dos artistas esquecidos, mas está num momento que pode ser melhor compreendido, pois já trabalhava com a manipulação de imagens", conta Mammi. De seu período pop, Colares tem um caráter bastante particular, que o afasta da maioria dos brasileiros da época, que usavam o pop com mensagens políticas. "Ele possuía um viés mais existencial", explica o curador.
Além de Colares, o Ceuma apresenta outras quatro individuais e mais uma coletiva de artistas estrangeiros que vivem em Bruxelas. Cassio Michalany transfere suas pinturas para as paredes, transformando a maior sala de exposição do Ceuma em um "site especific". De um lado da sala, domina a cor laranja, do outro o verde e azul, com os incômodos pilares do local funcionando como cortes na visão do espectador. "Fazer arte é saber lidar com situações adversas", conta Michalany.
Patrícia Furlong utiliza parte da fachada externa do Ceuma, recoberta de tinta preta, à espera que transeuntes raspem a pintura, que cobre frases "clichês de rua", selecionadas pela artista. Panfletos serão distribuídos estimulando a participação do público. "Não sei o que vai acontecer de fato", diz Furlong, que irá registrar todo o processo de transformação do trabalho.
Já Ana Luiza Dias Batista apresenta três esculturas com plantas, que deslocam situações de rua para o cubo branco. "Busco tratar do uso hipócrita da jardinagem neoliberal na cidade", diz Batista, que apresenta ainda quatro colagens com a mesma temática. Finalmente, Vanderlei Lopes expõe o vídeo "Powerhead", uma seqüência de imagens do próprio artista, que cobriu sua cabeça com talco.


INDIVIDUAIS.
Mostra com os artistas Ana Luiza Dias Batista, Cassio Michalany, Patrícia Furlong, Vanderlei Lopes, Raymundo Colares e The Invisible Meeting. Onde: Ceuma (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3257 2760). Quando: abertura hoje, 20h; de seg. a sex., das 12h às 21h, sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 18/4. Quanto: entrada franca.



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