São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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ENTREVISTA/TONY RAMOS

Ator, que completa 30 anos na rede, será capitalista selvagem na nova novela das 8

Eterno mocinho, que a partir de amanhã está em "Paraíso Tropical", fala sobre carreira e rebate crítica de Lima Duarte a seu último personagem na TV

Eu não sou arauto nem porta-voz da TV Globo

LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Há três décadas na Globo, Tony Ramos, 58, reúne características preciosas para servir como porta-voz da rede: discreto, cara de boa pessoa, bem casado há 38 anos e avesso a polêmicas e badalações do universo das celebridades.
Apesar de emprestar sua aura de bom-moço a campanhas institucionais da rede, o ator nega o rótulo: "Não sou um arauto da TV Globo. Não tenho vocação de porta-voz. Acredito no que falo publicamente".
Tony estréia amanhã na novela das oito "Paraíso Tropical" como o empresário Antenor Cavalcanti, que não é mais um de seus vários mocinhos, mas está longe de ser um vilão.
Apesar desse currículo, rejeita a fama de bonzinho: "Você não pode cumprir horário nem ter postura ética na vida que já vira certinho".
Reservado, é comedido ao falar de colegas. "Convivo bem com todos, o que não significa ser um bobinho de plantão."
Por isso, defendeu-se da polêmica crítica que recebeu de Lima Duarte no ano passado. O colega condenou, em entrevista à Folha, o sotaque do personagem grego de Tony em "Belíssima". "Acha que fiquei sem dormir por causa daquilo? É ruim, hein. Era domingo, mandei um macarrão, tomei meu vinho e ainda fui passear com meus netos. Ele me pediu desculpas e eu disse "esquece", até porque estava consciente do sotaque que estava fazendo.
Era legítimo e foi elogiado." Abaixo, entre outros assuntos, Tony fala de seus 43 anos de TV, condena a classificação de programas pelo governo e comenta até as piadas sobre a quantidade de pêlos que tem.  

FOLHA - Qual a diferença entre a TV Globo de 1977, quando foi contratado, e a de 2007?
TONY RAMOS
- A tecnologia evoluiu muito. Saíram algumas pessoas, entraram outras, mas convivo bem com todos, o que não significa ser um bobinho de plantão, mas saber o que quero e o que não quero. Então me dou muito bem com a empresa.

FOLHA - Você é muitas vezes considerado um porta-voz da Globo...
TONY
- [interrompendo] Por quê? Então Milton Gonçalves também é, ele fala muito pela Globo, representa a emissora em viagens, mais até do que eu.

FOLHA - A Globo te escolhe para representá-la em campanhas, como a da defesa do conteúdo nacional, e quando o enviou a Brasília (2000) contra a proibição da participação de crianças em "Laços de Família" e a portaria de classificação da TV.
TONY
- Na campanha do conteúdo nacional tinha Milton Gonçalves, Silvio de Abreu e outros. A Brasília fui com Vera Fischer, Cláudio do "Casseta & Planeta". Não sou um arauto da TV Globo. Isso nasceu da sua pergunta. Não tenho vocação de porta-voz. Acredito no que falo publicamente. Participo do "Amigos da Escola" porque sonho com uma educação melhor. Ninguém aqui é obrigado a fazer nada. Quando diz porta-voz, parece que sou aquele que onde estiver, se tocar o telefone, venho correndo.

FOLHA - O que acha da nova portaria que classifica programas de TV por faixas etárias e horários?
TONY
- Uma das coisas mais fantásticas é a conscientização e a responsabilidade dos pais. Eu me preocupo com as restrições da portaria. Os autores e a TV têm consciência do que não pode ser mostrado. É melhor haver comitês nas TVs para cobrar quem pisar na bola.

FOLHA - A polêmica cena em que seu personagem Clementino mata a mulher e o amante com uma pá, em "Torre de Babel" [1998], teria hoje o mesmo impacto com o público?
TONY
- Não. Além do fato de a violência ter aumentado, Silvio [de Abreu, autor de "Torre"] me disse que ficou horrorizado com as reações de telespectadores em "Belíssima" [também de sua autoria]. O espectador não se importava com o alpinismo social do personagem de Marcello Antony nem com o fato de a vilã da Fernanda [Montenegro] fugir com o garotão.

FOLHA - Clementino, algo mais próximo de um vilão que já fez, depois se regenerou. Após tantos papéis de mocinho, tem vontade de interpretar alguém bem sangue ruim?
TONY
- Não, mas, se um dia pintar, vou lá e vou tentar fazer. É importante dizer que o que é adequado a um ator pode não ser a outro. Se me derem um grande assassino para fazer, teria que sofrer transformações até de caracterização, por ter ainda traços muito, digamos, suaves. Teria que interpretar aquele assassino dos quais as pessoas jamais desconfiam.

FOLHA - Lima Duarte criticou o sotaque grego que você fazia em "Belíssima", o que causou constrangimento na Globo. O que sentiu?
TONY
- Nada, no dia seguinte estávamos nos abraçando. Ele me pediu desculpas e disse que falou outra coisa na entrevista.

FOLHA - Eu deveria ter trazido a fita da entrevista, que foi gravada...
TONY
- Tudo bem. Mesmo que tenha dito o que saiu na Folha, ele não me ofendeu. Temos que aprender a conviver com opiniões divergentes. Depois, ele me disse que estava preocupado com o que eu ia pensar. Respondi: "Esquece". Até porque estava consciente do sotaque. Era verdadeiro, legítimo, foi elogiado pelo consulado grego. Mas acha que fiquei sem dormir por causa daquilo? É ruim, hein. Era domingo, mandei um macarrão, tomei vinho e fui passear com os meus netos.

FOLHA - Você também parece encarar numa boa piadas sobre a quantidade de pêlos de seu corpo, como as feitas pelo "Casseta".
TONY
- Claro, fui lá no "Casseta", sentei em um cenário cheio de pêlos. Um ator não pode ter amarras, preconceitos. Não tenho problema com isso. Se tiver que raspar, aparar os pêlos por um personagem, vamos lá.

FOLHA - O sr. apresentou uma cerimônia na visita de João Paulo 2º ao Brasil, em 1997. Como é a sua ligação com a Igreja Católica?
TONY
- É de fé. As demonstrações para que tenha essa fé, que não vou citar, são muitas, até físicas e orgânicas. A missas, vou pouco. Uma vez, começaram a me pedir autógrafos na missa, achei um desrespeito com o local, o momento. Então evito.

FOLHA - Quantos convites já recusou para posar para a "Caras"?
TONY
- Não recuso. Seria preconceito. A diferença é que não faço reportagens sobre a vida pessoal, não mostro a minha casa, ela não está aberta à visitação pública. Não gosto disso.

FOLHA - Você e sua mulher, Lidiane, casados há 38 anos, conseguem ter casais amigos nesse universo artístico em que há tanta separação?
TONY
- Claro. O problema é que nós, artistas, estamos muito expostos, mas separações acontecem em todos os meios. Qual é o problema de se casar quatro, cinco, dez vezes? Minha mãe se casou três vezes, e fez muito bem. Não é porque o meu casamento deu certo que sou a avis rara. A atitude preconceituosa é quando olham para a Lidiane, que é a minha amada de toda a vida, e para mim e dizem: ""Square" [quadrados], o casal certinho".

FOLHA - Você já teve até uma dupla musical chamada Tom e Tony...
TONY
- Foram duas apresentações no "Jovem Guarda", da Record, cantando músicas em inglês das quais Roberto Carlos fazia versão em português.

FOLHA - Como foi a sua experiência como jornalista de futebol?
TONY
- Na TV Tupi, o grande narrador Walter Abraão me chamou para dar uma "bossa" à transmissão do campeonato dos aspirantes. O Dennis Carvalho, que sempre teve uma voz maravilhosa, topou ser o narrador, e eu, com a minha voz que tinha um timbre de adolescente querendo crescer, ia lá para o campo, com capa de chuva, entrevistar jogadores.

FOLHA - Qual é o seu time?
FOLHA
- Deus, veja meu olhar tranqüilo. Eu sou são-paulino!


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