|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA/TONY RAMOS
Ator, que completa 30 anos na rede, será capitalista selvagem na nova novela das 8
Eterno mocinho, que a partir de amanhã está em "Paraíso Tropical", fala sobre carreira e rebate crítica de Lima Duarte a seu último personagem na TV
Eu não sou arauto nem porta-voz da TV Globo
LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Há três décadas na Globo,
Tony Ramos, 58, reúne características preciosas para servir
como porta-voz da rede: discreto, cara de boa pessoa, bem casado há 38 anos e avesso a polêmicas e badalações do universo
das celebridades.
Apesar de emprestar sua aura de bom-moço a campanhas
institucionais da rede, o ator
nega o rótulo: "Não sou um
arauto da TV Globo. Não tenho
vocação de porta-voz. Acredito
no que falo publicamente".
Tony estréia amanhã na novela das oito "Paraíso Tropical"
como o empresário Antenor
Cavalcanti, que não é mais um
de seus vários mocinhos, mas
está longe de ser um vilão.
Apesar desse currículo, rejeita a fama de bonzinho: "Você
não pode cumprir horário nem
ter postura ética na vida que já
vira certinho".
Reservado, é comedido ao falar de colegas. "Convivo bem
com todos, o que não significa
ser um bobinho de plantão."
Por isso, defendeu-se da polêmica crítica que recebeu de
Lima Duarte no ano passado. O
colega condenou, em entrevista à Folha, o sotaque do personagem grego de Tony em "Belíssima". "Acha que fiquei sem dormir por causa daquilo? É
ruim, hein. Era domingo, mandei um macarrão, tomei meu
vinho e ainda fui passear com
meus netos. Ele me pediu desculpas e eu disse "esquece", até
porque estava consciente do
sotaque que estava fazendo.
Era legítimo e foi elogiado."
Abaixo, entre outros assuntos, Tony fala de seus 43 anos
de TV, condena a classificação
de programas pelo governo e
comenta até as piadas sobre a
quantidade de pêlos que tem.
FOLHA - Qual a diferença entre a
TV Globo de 1977, quando foi contratado, e a de 2007?
TONY RAMOS - A tecnologia evoluiu muito. Saíram algumas
pessoas, entraram outras, mas
convivo bem com todos, o que
não significa ser um bobinho de
plantão, mas saber o que quero
e o que não quero. Então me
dou muito bem com a empresa.
FOLHA - Você é muitas vezes considerado um porta-voz da Globo...
TONY - [interrompendo] Por
quê? Então Milton Gonçalves
também é, ele fala muito pela
Globo, representa a emissora
em viagens, mais até do que eu.
FOLHA - A Globo te escolhe para representá-la em campanhas, como a
da defesa do conteúdo nacional, e
quando o enviou a Brasília (2000)
contra a proibição da participação
de crianças em "Laços de Família" e
a portaria de classificação da TV.
TONY - Na campanha do conteúdo nacional tinha Milton
Gonçalves, Silvio de Abreu e
outros. A Brasília fui com Vera
Fischer, Cláudio do "Casseta &
Planeta". Não sou um arauto da
TV Globo. Isso nasceu da sua
pergunta. Não tenho vocação
de porta-voz. Acredito no que
falo publicamente. Participo do
"Amigos da Escola" porque sonho com uma educação melhor. Ninguém aqui é obrigado
a fazer nada. Quando diz porta-voz, parece que sou aquele que
onde estiver, se tocar o telefone, venho correndo.
FOLHA - O que acha da nova portaria que classifica programas de TV
por faixas etárias e horários?
TONY - Uma das coisas mais
fantásticas é a conscientização
e a responsabilidade dos pais.
Eu me preocupo com as restrições da portaria. Os autores e a
TV têm consciência do que não
pode ser mostrado. É melhor
haver comitês nas TVs para cobrar quem pisar na bola.
FOLHA - A polêmica cena em que
seu personagem Clementino mata a
mulher e o amante com uma pá, em
"Torre de Babel" [1998], teria hoje o
mesmo impacto com o público?
TONY - Não. Além do fato de a
violência ter aumentado, Silvio
[de Abreu, autor de "Torre"]
me disse que ficou horrorizado
com as reações de telespectadores em "Belíssima" [também
de sua autoria]. O espectador
não se importava com o alpinismo social do personagem de
Marcello Antony nem com o fato de a vilã da Fernanda [Montenegro] fugir com o garotão.
FOLHA - Clementino, algo mais
próximo de um vilão que já fez, depois se regenerou. Após tantos papéis de mocinho, tem vontade de interpretar alguém bem sangue ruim?
TONY - Não, mas, se um dia
pintar, vou lá e vou tentar fazer.
É importante dizer que o que é
adequado a um ator pode não
ser a outro. Se me derem um
grande assassino para fazer, teria que sofrer transformações
até de caracterização, por ter
ainda traços muito, digamos,
suaves. Teria que interpretar
aquele assassino dos quais as
pessoas jamais desconfiam.
FOLHA - Lima Duarte criticou o sotaque grego que você fazia em "Belíssima", o que causou constrangimento na Globo. O que sentiu?
TONY - Nada, no dia seguinte
estávamos nos abraçando. Ele
me pediu desculpas e disse que
falou outra coisa na entrevista.
FOLHA - Eu deveria ter trazido a fita
da entrevista, que foi gravada...
TONY - Tudo bem. Mesmo que
tenha dito o que saiu na Folha,
ele não me ofendeu. Temos que
aprender a conviver com opiniões divergentes. Depois, ele
me disse que estava preocupado com o que eu ia pensar. Respondi: "Esquece". Até porque
estava consciente do sotaque.
Era verdadeiro, legítimo, foi
elogiado pelo consulado grego.
Mas acha que fiquei sem dormir por causa daquilo? É ruim,
hein. Era domingo, mandei um
macarrão, tomei vinho e fui
passear com os meus netos.
FOLHA - Você também parece encarar numa boa piadas sobre a
quantidade de pêlos de seu corpo,
como as feitas pelo "Casseta".
TONY - Claro, fui lá no "Casseta", sentei em um cenário cheio
de pêlos. Um ator não pode ter
amarras, preconceitos. Não tenho problema com isso. Se tiver que raspar, aparar os pêlos
por um personagem, vamos lá.
FOLHA - O sr. apresentou uma cerimônia na visita de João Paulo 2º ao
Brasil, em 1997. Como é a sua ligação com a Igreja Católica?
TONY - É de fé. As demonstrações para que tenha essa fé, que
não vou citar, são muitas, até físicas e orgânicas. A missas, vou
pouco. Uma vez, começaram a
me pedir autógrafos na missa,
achei um desrespeito com o local, o momento. Então evito.
FOLHA - Quantos convites já recusou para posar para a "Caras"?
TONY - Não recuso. Seria preconceito. A diferença é que não
faço reportagens sobre a vida
pessoal, não mostro a minha
casa, ela não está aberta à visitação pública. Não gosto disso.
FOLHA - Você e sua mulher, Lidiane, casados há 38 anos, conseguem
ter casais amigos nesse universo artístico em que há tanta separação?
TONY - Claro. O problema é
que nós, artistas, estamos muito expostos, mas separações
acontecem em todos os meios.
Qual é o problema de se casar
quatro, cinco, dez vezes? Minha mãe se casou três vezes, e
fez muito bem. Não é porque o
meu casamento deu certo que
sou a avis rara. A atitude preconceituosa é quando olham
para a Lidiane, que é a minha
amada de toda a vida, e para
mim e dizem: ""Square" [quadrados], o casal certinho".
FOLHA - Você já teve até uma dupla musical chamada Tom e Tony...
TONY - Foram duas apresentações no "Jovem Guarda", da
Record, cantando músicas em
inglês das quais Roberto Carlos fazia versão em português.
FOLHA - Como foi a sua experiência como jornalista de futebol?
TONY - Na TV Tupi, o grande
narrador Walter Abraão me
chamou para dar uma "bossa"
à transmissão do campeonato
dos aspirantes. O Dennis Carvalho, que sempre teve uma
voz maravilhosa, topou ser o
narrador, e eu, com a minha
voz que tinha um timbre de
adolescente querendo crescer,
ia lá para o campo, com capa de
chuva, entrevistar jogadores.
FOLHA - Qual é o seu time?
FOLHA - Deus, veja meu olhar
tranqüilo. Eu sou são-paulino!
Texto Anterior: Nas lojas Próximo Texto: A trama: "Paraíso" de Braga é antro de ganância Índice
|