São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2011 |
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CRÍTICA DRAMA Estilo acadêmico dilui força passional do protagonista
RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA Não são muitos os diretores brasileiros que conseguiriam coordenar uma grande produção internacional de época com equipe e elenco de centenas de pessoas falando uma língua estrangeira e fazê-las trabalhar em conjunto para chegar a um resultado digno. Portanto, é preciso registrar esse mérito de Andrucha Waddington em "Lope", coprodução Espanha/Brasil sobre a juventude do dramaturgo e poeta espanhol Félix Lope de Vega (1562-1635). Na Madri do século 16, o aventureiro e sedutor Lope (Alberto Ammann) desiste de um posto na Armada Espanhola para trabalhar como copista na maior trupe de teatro da cidade, com a esperança de se tornar dramaturgo em pouco tempo. Ele se apaixona por Elena (Pilar López de Ayala), filha do dono da trupe, sem saber que esta já era casada. E, ao mesmo tempo, torna-se alvo do amor de Isabel (Leonor Watling), amiga de infância. Além de mais uma vez dirigir muito bem seus atores, Waddington narra com competência e correção a história de um ser capaz de nutrir e despertar grandes paixões. Mas não impregna o filme com esse sentimento. "Lope" confirma uma impressão deixada pelos longas anteriores de Waddington ("Gêmeas", "Eu Tu Eles", "Casa de Areia"): trata-se de um cineasta clássico, ou, sob um olhar severo, acadêmico. De um diretor que começou muito jovem na publicidade, seria natural (ou naturalmente preconceituoso?) esperar certos tiques da atividade, como a edição nervosa. Waddington opta por um estilo limpo e direto. Isso é clássico -e, em geral, positivo. O problema é que seus filmes mudam muito pouco de tom ao longo da projeção e raramente se nota a visão do diretor. Aí vira acadêmico. É por isso que em "Casa de Areia" os personagens viviam em um deserto sob sol escaldante, mas o filme passava uma sensação de frieza. Algo parecido ocorre em "Lope": um filme sobre um homem passional que nunca consegue sê-lo. A mudança de língua, de paisagem e de escala de produção não alteraram o classicismo de Waddington (talvez o tenham reforçado). Para se tornar um cineasta moderno, é preciso ter um certo gosto pelo risco, até pelo erro. LOPE DIREÇÃO Andrucha Waddington PRODUÇÃO Espanha/Brasil, 2010 COM Alberto Ammann, Pilar López de Ayala ONDE nos cines Bristol, Reserva Cultural e circuito CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Cinema: Argentino vive Lope de Vega em drama histórico Próximo Texto: Crítica/Comédia: Longa pobre não convence nem diverte Índice | Comunicar Erros |
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