São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Kirchner intervém contra veto a Llosa Escritores simpáticos ao governo argentino pediram que Nobel fosse barrado em feira literária de Buenos Aires Pedido foi motivado por críticas à gestão de Cristina feitas pelo autor, que considerou a polêmica "lamentável" LUCAS FERRAZ DE BUENOS AIRES A tentativa de vetar a participação do escritor Mario Vargas Llosa na abertura da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires por divergências políticas e ideológicas abriu uma polêmica na Argentina só amenizada após intervenção da presidente Cristina Kirchner. Um grupo de escritores e intelectuais simpáticos ao governo pediu formalmente que o Nobel de literatura fosse barrado da inauguração do evento, em abril, por "não ser adepto da corrente de ideias que abriga a sociedade argentina". Vargas Llosa é crítico do peronismo e, em entrevistas, fez duras declarações contra os Kirchner, afirmando que o governo de Cristina é "um desastre total". O presidente da Biblioteca Nacional argentina, Horacio González, escreveu à Fundação do Livro, organizadora da feira, pedindo veto ao escritor peruano. González, na carta, diz que Vargas Llosa é um "autoritário messiânico", cuja presença na abertura da feira era "inoportuna". O comunicado recebeu o apoio do Carta Aberta, um grupo de intelectuais argentinos que considera política a escolha do escritor -o país terá eleições em outubro. Em entrevista ao diário espanhol "El País", ontem, Mario Vargas Llosa considerou "lamentável" a polêmica e disse que estará na abertura do evento, no próximo mês. "A única vez que me ocorreu isso foi durante a ditadura militar, quando um general proibiu meus livros", disse o escritor sobre a censura sofrida na Argentina nos anos 1970. FREIO Quem freou a polêmica foi a presidente Cristina Kirchner, que ligou para o presidente da Biblioteca Nacional, pedindo retratação. Ele acatou. Escreveu nova carta dizendo-se favorável à "livre expressão das ideais políticas" e "comprometido com toda discussão que sirva para dar mais qualidade à vida democrática". Indagado se seu gesto não era autoritário, González negou e disse à Folha que a discussão é "ampla". "Trata-se de um debate político-cultural que estamos desenvolvendo na Argentina, principalmente sobre o papel do intelectual na sociedade contemporânea", diz. Apesar de ressaltar que aprecia a literatura de Llosa, o presidente da Biblioteca Nacional fez questão de reafirmar que a escolha de seu nome foi "meramente política". "Preferíamos na abertura um escritor argentino", concorda Alejandro Vaccaro, presidente da Sociedade Argentina de Escritores. "Vargas Llosa é um político fracassado [ele concorreu à Presidência no Peru nos anos 1990] e tem ideais equivocados sobre a América Latina e a Argentina". Vários escritores condenaram a tentativa de vetar a presença do peruano no evento. Gustavo Canevaro, presidente da Fundação do Livro e organizador da feira, afirmou à Folha que a presença de Llosa está mantida. "Essas polêmicas são normais na Argentina", disse. "Claro que há sempre um componente político, mas não estamos interessados nisso. É mais rico o debate cultural e o prestígio de ter na abertura um prêmio Nobel". Texto Anterior: Brasil tem 58 orquestras, que dependem dos governos Próximo Texto: Carlos Heitor Cony: Se a canoa não virar Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |