São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004 |
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MÔNICA BERGAMO
Muito além do pretinho básico
Para não errar no figurino, o
pretinho básico [vestidos ou
ternos] é a melhor opção,
certo? Nem sempre. Diante de
80 futuros executivos que estudam na Escola de Administração de Empresas da Fundação
Getulio Vargas, a consultora de
estilo Claudia Matarazzo ensina
que nem só de MBAs vive um
profissional de sucesso. "Boas
maneiras podem ser um diferencial maior que um idioma",
exagera, vendendo seu peixe. Os alunos anotam entusiasmados as lições do primeiro curso de Etiqueta Empresarial da FGV, instituição por onde já passaram pesos pesados como Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, e José Ermírio de Moraes Neto, da Votorantim. O curso, de R$ 60, tem quatro aulas, cada uma com um tópico: comunicação pessoal, visual, mesa e etiqueta. A procura foi tão grande que deve haver outra turma neste mês. Na aula sobre visual, Claudia Matarazzo chega e, de preto dos pés à cabeça, comenta figurinos certos e errados projetados na lousa. A foto de um oriental com gravata comprida faz os alunos rirem. "Esse é o dono do Yahoo! [o empresário Jerry Yang]", diz ela. Os risos param. "O comprimento certo da gravata é com a ponta dela sobre a fivela do cinto", continua, tentando provar que a exceção -Yang se veste mal e é milionário- confirma sua regra da importância do bem-vestir. Os homens são minoria na classe, mas têm mais dúvidas. Rodrigo Fadel, 18, quer saber se, ao subir escadas com uma mulher de saias, deve ir na frente. "Atrás", ensina Claudia, "para protegê-la". Os calçados femininos são um dos pontos altos da aula. "Alguém aí está de mule?" pergunta Claudia. Silêncio. Mule é um sapato social aberto na parte de trás. Carolina Reis, 19, de mule, levanta a mão. "Fica de pé", diz a professora. "Se estivesse de calça, OK. De saia, não", detona. Carolina diz que só ficou encabulada. Aluna do terceiro ano, ela estagia na Rhodia e fez o curso por achar que a etiqueta empresarial pode deixá-la mais perto do sonho de "ser bem-sucedida e independente". A professora Marina Heck, coordenadora dos cursos extracurriculares da FGV -além deste há o de história da arte, por exemplo-, interrompe: "E os jeans?". Ela mesma responde: "Na Europa, jeans é só para trabalhadores braçais". Claudia concorda. "Jeans só até os 22 anos. E só para quem tem corpo de Gisele Bündchen." Na semana seguinte, na aula sobre mesa, os alunos fazem um teste. "Qual o momento certo de entregar cartões de visitas?" é uma das 20 perguntas. E "posso chegar atrasado a um jantar?", outra delas. Distribuir o cartão, só no fim do encontro. Chegar atrasado, óbvio, nem pensar. "Mesa é um terror. Cuidado ao escolher os pratos", diz a professora, em outro tópico. Macarrão, por exemplo, tira a atenção da conversa. O aluno André Rodrigues, 21, escalado para auxiliar Claudia, chega trazendo filé de frango e sopa. A professora pede voluntários. Ninguém se habilita, e o próprio André é escalado para cortar o frango. "Pedaços pequenos sempre. E jamais pegue com a mão", diz. "Quer ir ao banheiro durante o jantar?", diz Claudia. "Nada de levar a amiga!", diz, arrancando risos. "Parece coisa de prima do interior." Retocar batom na mesa "nun-ca", completa. Preserve a intimidade. E os homens? "Quando a mulher levanta, ele faz uma meia-levantada", explica. "Isso eu achei frescura", comenta o aluno Fadel. A aula continua: em jantares de negócios, nada de falar de doenças, intimidades ou fofoca. E os talheres? Devem ser usados de fora para dentro. Depois da refeição, coloque-os sobre o prato na posição que os ponteiros de relógio formam às "seis e meia". Ao falar de horas, Claudia vê que o fim da aula está perto. Os alunos se inquietam para sair. Entre eles, Carolina Reis, a do mule da semana anterior. Desta vez, de calça e de sapato sem salto. "Estou pensando em jogar a mule fora", brinca. @ - bergamo@folhasp.com.br COM ALVARO LEME (REPORTAGEM) e CLEO GUIMARÃES Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Embalada para viagem Índice |
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