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CRÍTICA
A novela que todos amam detestar
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Há uma espécie de campanha contra a novela das oito. A heroína é chata, dizem. A
malvada é ridícula, também dizem. A trama é cheia de falhas e
absurdos, afirmam. Gilberto
Braga está reciclando idéias desgastadas, acrescentam. Até aqui,
nenhuma novidade, pois não há
nada de muito específico nessas
alfinetadas.
Em qualquer novela, as personagens do bem tendem a ser
mais aborrecidas do que as do
mal, que, por sua vez, correm o
risco de parecerem caricatas a
certa altura da trama e, numa
obra seriada diária, a trama se esgarça com alguma facilidade para sustentar um roteiro que, afinal, gira em torno de algumas
constantes. Ou seja, aquilo que se
diz de Gilberto Braga e de "Celebridade" é o que se poderia dizer
de qualquer novela.
Apontar essa certa inespecificidade nos reparos feitos à novela
de Braga não significa deixar de
reconhecer que há lá algo que soa
irritante, quase impertinente.
Talvez nem tanto por parte da
audiência em geral -uma vez
que ela vai indo bem de ibope e,
na semana passada, atingiu picos
de 54 pontos no capítulo em que
nasce o bebê de Maria Clara (Malu Mader)- e mais da opinião
que vai se cristalizando em torno,
"Celebridade" é a novela que todos amam detestar.
O incômodo talvez venha do
fato que Braga se coloque numa
posição excessivamente "autoral", o que deixa o espectador à
mercê dos seus caprichos, sem o
menor domínio sobre a história.
É como se ele se arrogasse liberdade demais para manejar os elementos que compõem a trama
-o perfil psicológico dos personagens, os ardis, os equívocos, as
justificativas, as guinadas, os erros de julgamento-, sem muita
consideração ao que parece ser
"razoável".
Cobra-se da ficção que ela vá de
encontro a uma série de expectativas e que não exija muito da
imaginação. Há uma preguiça,
uma desconfiança e, por vezes,
uma certa dificuldade de compreensão em relação à ficção que
faz com que se estabeleça uma
fronteira algo rígida entre aquilo
que se permite ou não ao autor.
Em contraste com a invencionice
do noveleiro, a previsibilidade do
"reality show", que, ainda bem,
acaba logo, logo, é muito mais reconfortante.
Não que não haja problemas
em "Celebridade"; há os de sempre das novelas -a falta de originalidade, a canastrice dos atores,
a repetição de fórmulas-, acrescidos de alguns novos, como a
frouxidão na direção, que deixa
uma sensação de improviso e alguns tropeços no desenvolvimento de determinados personagens.
De alguma forma, o que torna
"Celebridade" uma novela menor, por exemplo, do que "Vale
Tudo", só para ficar no mesmo
autor, é menos a invencionice algo desmedida de Braga do que a
inadequação de seu estilo ao
atual "padrão de qualidade".
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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