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É TUDO VERDADE
Filme experimental de Hoolboom reflete sobre a tristeza
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Se você espera um documentário que funcione como uma espécie de reportagem filmada, com
informação sobre algum tema polêmico e de interesse geral, não inclua "À Luz Pública", de Mike
Hoolboom, em suas prioridades.
Hoolboom é um dos principais
nomes do cinema experimental
canadense, e os sete episódios de
"À Luz Pública" constituem ensaios poéticos de grande rebuscamento visual e ambiciosas pretensões filosóficas.
O título do filme foi inspirado
num verso da poeta canadense
Anne Carson: "Cada ferida emite
sua própria luz". Diversos casos
de sofrimento individual serão assim expostos, liberando um facho
de "luz pública" que o filme tratará de seguir, de modo às vezes
desnorteante. Uma virtuosística
introdução, onde o tema da luz é
tratado lindamente (reflexos,
prismas, transparências), nos explica que o filme irá lidar com seis
diferentes tipos de personalidade,
o que significa "seis tipos de tristeza". Entre as personalidades enfocadas, encontraremos o compositor minimalista Philip Glass e a
nada triste cantora Madonna.
A biografia de cada personagem
é o que menos se destaca nos diversos episódios de "À Luz Pública". Num deles, ouvimos apenas a
voz de um homem contando os
diversos episódios de separação
amorosa pelos quais passou, enquanto a câmera mostra, com
oblíquas superposições em preto-e-branco, as fachadas dos restaurantes e bares onde as conversas
de despedida se fizeram.
Em "Amy", ouvimos uma mulher americana comentando as
fotos de si mesma quando era
criança. O recurso a fotografias,
documentários antigos, filmes
domésticos e videoclipes, que se
duplicam e se sobrepõem às falas,
assegura vários momentos inquietantes e bonitos.
De um filme poético e experimental, o mais que se pode exigir
é que fuja do óbvio e do clichê.
Hoolboom permite-se, entretanto, alguns lances de escassa originalidade, como o de contrapor cenas de Hiroshima ao close de um
cigarro sendo aceso, com o barulho exagerado do isqueiro e do fogo consumindo o tabaco. Também o uso embevecido da música
de Philip Glass e uma certa fluorescência hiperestilizada, que domina o filme inteiro, terminam
impondo a esta produção de
2004, premiada em Pyongiang e
Montreal, o peso dos lugares-comuns estéticos dos anos 80.
À Luz Pública
Direção: Mike Hoolboom
Quando: hoje, às 15h, no MIS
Multimídia, e às 20h, no MIS auditório
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