São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

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É TUDO VERDADE

Filme experimental de Hoolboom reflete sobre a tristeza

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Se você espera um documentário que funcione como uma espécie de reportagem filmada, com informação sobre algum tema polêmico e de interesse geral, não inclua "À Luz Pública", de Mike Hoolboom, em suas prioridades.
Hoolboom é um dos principais nomes do cinema experimental canadense, e os sete episódios de "À Luz Pública" constituem ensaios poéticos de grande rebuscamento visual e ambiciosas pretensões filosóficas.
O título do filme foi inspirado num verso da poeta canadense Anne Carson: "Cada ferida emite sua própria luz". Diversos casos de sofrimento individual serão assim expostos, liberando um facho de "luz pública" que o filme tratará de seguir, de modo às vezes desnorteante. Uma virtuosística introdução, onde o tema da luz é tratado lindamente (reflexos, prismas, transparências), nos explica que o filme irá lidar com seis diferentes tipos de personalidade, o que significa "seis tipos de tristeza". Entre as personalidades enfocadas, encontraremos o compositor minimalista Philip Glass e a nada triste cantora Madonna.
A biografia de cada personagem é o que menos se destaca nos diversos episódios de "À Luz Pública". Num deles, ouvimos apenas a voz de um homem contando os diversos episódios de separação amorosa pelos quais passou, enquanto a câmera mostra, com oblíquas superposições em preto-e-branco, as fachadas dos restaurantes e bares onde as conversas de despedida se fizeram.
Em "Amy", ouvimos uma mulher americana comentando as fotos de si mesma quando era criança. O recurso a fotografias, documentários antigos, filmes domésticos e videoclipes, que se duplicam e se sobrepõem às falas, assegura vários momentos inquietantes e bonitos.
De um filme poético e experimental, o mais que se pode exigir é que fuja do óbvio e do clichê. Hoolboom permite-se, entretanto, alguns lances de escassa originalidade, como o de contrapor cenas de Hiroshima ao close de um cigarro sendo aceso, com o barulho exagerado do isqueiro e do fogo consumindo o tabaco. Também o uso embevecido da música de Philip Glass e uma certa fluorescência hiperestilizada, que domina o filme inteiro, terminam impondo a esta produção de 2004, premiada em Pyongiang e Montreal, o peso dos lugares-comuns estéticos dos anos 80.

À Luz Pública


   
Direção: Mike Hoolboom
Quando: hoje, às 15h, no MIS Multimídia, e às 20h, no MIS auditório


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