O instrumentista Yann Tiersen mostra músicas de várias fases de sua carreira

Compositor de canções que estão nos filmes "Adeus, Lênin" e "Amélie Poulain", francês lança disco no Brasil em momento roqueiro

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Yann Tiersen não tem nenhum disco lançado no Brasil.
Nunca se apresentou no país. E, no entanto, não há mais ingressos para os dois shows que ele faz em São Paulo, no Sesc Vila Mariana (1.200 lugares).
Seria subestimar o público dizer que o compositor e multiinstrumentista francês é conhecido aqui somente por ser o responsável pela trilha sonora do filme "Adeus, Lênin" (2003) ou por ter diversas músicas de sua autoria no disco de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001).
Mas, certamente, a inspirada participação nos dois longas-metragens ajudou as pessoas a descobrirem Yann Tiersen, cuja obra é basicamente instrumental, muito longe do "hype" ou do pop.
Educado na música clássica e iniciado pelo rock, Tiersen, 37, aprendeu a tocar piano e violoncelo em conservatórios, além de guitarra, acordeão, banjo, piano de brinquedo... A combinação de tantos instrumentos é o motivo pelo qual muitas de suas músicas não têm vocais ou, quando os têm, são de convidados, como as cantoras Jane Birkin ou Elizabeth Fraser (Cocteau Twins).
"Sou um compositor e trabalho sozinho antes de chamar os músicos. Isso acaba influenciando e explicando minha preferência pelo instrumental", contou Tiersen à Folha em entrevista por e-mail.
"Apesar disso, há sempre uma ou duas músicas cantadas em meus discos. Hoje, gosto mais de cantar. Escrever e compor músicas com letras está se tornando mais natural para mim", afirma Tiersen.
No caso do francês, pouco importa se as canções têm ou não vocais. É a beleza da sonoridade o que chama a atenção em sua obra, composta por timbres delicados e sobreposição de sons de diversos instrumentos. A sensação é a de que ele está sempre pensando numa cena de cinema enquanto compõe.

Rock
Apesar das famosas trilhas sonoras, é no rock que Tiersen encontra sua principal influência. "Nos anos 80, escutava Bauhaus, Joy Division, The Stooges e Velvet Underground.
Esses foram os primeiros discos que comprei e que me deram vontade de escrever minha própria música", diz.
O instrumentista estreou tocando em bandas de rock, e, nos anos 90, passou a fazer um trabalho acústico. "Foi um processo normal, que eu e outros artistas vivemos, à medida que digeríamos a eletrônica dos anos 80", explica Tiersen. "Apesar desse caminho mais "natural", sempre conservei a energia de quando estava nos grupos de rock. Hoje, encontro mais facilmente esse vigor nos instrumentos elétricos."
Será esse novo momento de Yann Tiersen que os brasileiros irão conferir. "Atualmente, o que apresento no palco, com meus músicos, é muito elétrico, com conotação rock. Muita guitarra. Pouco violino e acordeão.
Nada de piano."
Tiersen mostrará composições de diversas fases de sua carreira registradas em seu CD mais recente, "On Tour", que sai no país nesta semana. O trabalho foi feito durante a turnê de seu último álbum de estúdio, "Les Retrouvailles" (2005).