São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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Diretora pornô quer virar deputada

Cineasta de filmes pornográficos do Reino Unido deixa a carreira de lado para candidatar-se a uma vaga no legislativo

Anna Arrowsmith é considerada pioneira do pornô britânico, ao trazer o ponto de vista feminino para os filmes do gênero

MARIANNE PIEMONTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

"Da pornografia ao Parlamento, aqui vou eu!" Foi assim que Anna Arrowsmith se despediu, no Twitter, de sua vida pregressa. Aos 38, ela é -ou era- a primeira e mais importante diretora de filmes pornô do Reino Unido.
A inglesa já ganhou os prêmios de melhor diretora da indústria britânica de filmes adultos -duas vezes consecutivas- e de "pioneira do pornô independente", no Festival Internacional de Pornô Feminino, além de ser presidente da Adult Industry Trade Association, na Inglaterra.
Sob o pseudônimo de Anna Span, ela dirigiu filmes como "Abaixe as Calças!", escreveu e fotografou um livro que ensina casais a fazer vídeos pornô caseiros e, com o auxilio do marido, administra sua própria sex shop.
Agora, ela planeja mudar de área. Em março, Anna foi indicada pelo partido Liberal Democrata para concorrer a uma vaga no Parlamento pelo distrito de Gravesham, em Kent, sudoeste da Inglaterra. As eleições inglesas serão em junho.
"Eu me lembro de quando tinha sete anos e vi Margaret Thatcher em campanha. Fiquei desesperada para que ela ganhasse, não por causa dos conservadores, porque minha família é trabalhista, mas porque ela seria a primeira primeira-ministra mulher", disse a diretora, que desde os anos 1990 também é militante feminista.
Apesar de ter um estilo menos austero do que a Dama de Ferro, Anna diz que Thatcher foi sua inspiração. Mas o que a fez cair de boca na política foi o escândalo de malversação de verbas dos parlamentares britânicos que houve no ano passado, quando o jornal "Daily Telegraph" denunciou que políticos de todos os partidos usaram dinheiro público para mimos pessoais, como afinação de piano e compra de móveis.
Para participar de comícios regionais, Anna não aderiu ao colar de pérolas, adereço-símbolo de Thatcher e das clássicas senhoras inglesas, mas adotou um corte de cabelo curto e terninhos -no lugar de suas echarpes coloridas.

Ponto de vista feminino
Anna diz que quer fazer política como faz pornografia há 12 anos: "Do jeito feminino e com entusiasmo. No mais, as mulheres continuam sub-representadas no Parlamento".
Sua luta na indústria pornô, que segundo ela se transformou após sua passagem, era para que as mulheres tivessem mais liberdade de expressão e de consumo.
Considerada a primeira diretora britânica do segmento, ela privilegia em sua obra o ponto de vista feminino, colocando os homens em foco por mais tempo do que a média dos filmes do gênero. Há cenas à venda no site annaspansdiary.com.
Se for eleita, além de levantar as bandeiras de seu partido -como taxas justas, escolas com menos alunos por turma e combate à corrupção-, ela quer batalhar para evitar que os jovens usem drogas e cometam crimes.
"Eles fazem isso porque estão entediados", diz. Quando questionada se a pornografia vai atrapalhá-la nessa nova jornada, ela diz que não.
"Esse é um gênero estabelecido hoje. Até as clínicas de fertilização do NHS (Sistema Nacional de Saúde) usam. Além do mais, não é ilegal, certo?"


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