São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De olhos bem abertos

Novo CD de David Byrne, "Look Into the Eyeball", tem lançamento mundial no próximo dia 8; turnê deve passar pelo Brasil

Divulgação
O cantor david Byrne, que lança "Look Into the Eyeball"


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

De olhos arregalados e cabeleira branca. É assim que o escocês David Byrne, 48, se reapresenta ao mundo pop. "Cansei de pintar o cabelo. Decidi ver o que havia debaixo da tintura", disse.
A decisão de deixar à mostra as marcas da passagem do tempo não aparece só em seu visual. "Look Into the Eyeball", seu mais novo CD, que tem lançamento mundial dia 8, traz um pouco dos diversos caminhos trilhados por Byrne desde o fim dos Talking Heads, no começo dos anos 90.
O álbum evoca o new wave que orientou a banda, mas traz também toques de percussão africana, música brasileira, pop, funk e dos diversos gêneros latinos pelos quais o cantor passeou.
Byrne começa a mostrar "Look Into the Eyeball" em uma turnê que passa, a princípio, pela América do Norte e Europa, mas que deve incluir o Brasil no segundo semestre. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Byrne concedeu à Folha, de Nova York.

Folha - Você vive um personagem novo a cada disco. Em "Look Into the Eyeball", esse personagem é um brasileiro?
David Byrne -
A influência que a música brasileira tem sobre meu trabalho já se tornou parte de mim, e por isso ela é muito sutil. Em geral, eu digo que a sonoridade latina está em toda a minha música. Eu não preciso fazer um samba ou um cha-cha-cha para mostrar que ela é uma referência.

Folha - Caetano Veloso parece bastante presente no disco.
Byrne -
É verdade. Eu gosto muito dele e de seus discos.

Folha - Como foi a participação de Rubén Albarrán, do Café Tacuba, em "Desconocido Soy"?
Byrne -
Nós tínhamos gravado uma música juntos para uma coletânea de rock latino ("Silêncio = Muerte"). Chamei Rubén porque não queria parecer bobo ao cantar uma música inteira em espanhol.

Folha - Você tem lido nossa literatura, escutado nossa música. Acha que pode definir a América Latina?
Byrne -
O Norte sempre teve uma visão romântica do Sul. Por que não ouvimos poetas da Colômbia chorando de saudades dos longos dias de inverno do Norte? Acho o Sul mais romântico.

Folha - Você já vive há muito tempo nos EUA, tem acompanhado o que se passa na Escócia?
Byrne -
A política anda muito devagar. Há dois anos, o país ganhou mais autonomia e foi criado um Parlamento, mas não apareceu nada para discutir lá.

Folha - Alguns grupos políticos falam em separá-la do Reino Unido? Você votaria pela separação?
Byrne -
Não. É preciso encontrar um meio-termo. Não sei o que poderiam fazer com a Escócia livre. É um lugar bonito, mas quando penso no que se faz lá... Uísque, clonar ovelhas, o que mais?

Folha - Você gosta de ser identificado como americano?
Byrne -
Estou aqui há muito tempo. Mas não falo mais sobre shopping centers, parei com isso.

Folha - O que está fazendo agora?
Byrne -
Um livro de arte, que se chamará "Los Nuevos Pecados". Meu papel é explicar para as pessoas quais são os novos pecados.

Folha - E quais são?
Byrne -
Um deles é a esperança. Mas a explicação eu darei no livro.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: "Look Into the Eyeball": Byrne lembra ex-banda em disco globalizado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.