São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"LOOK INTO THE EYEBALL"

Byrne lembra ex-banda em disco globalizado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

À parte um tom algo arrogante, os Talking Heads eram uma das bandas pop mais bacanas que havia nos anos 80.
De lá para cá, seu ex-líder David Byrne passa por um processo contumaz de globalização, que vem culminar neste "Look Into the Eyeball".
É a globalização que movimenta o disco: "Desconocido Soy" é cantada em espanhol, tipo Manu Chao; "The Great Intoxication" tem percussão à baiana misturada com cordas que simulam a erudição de algum recanto austríaco; "The Moment of Conception" faz pseudotecno europeu com percussão; aqui e ali chovem pingos de mambos, rumbas, rhythm'n'blues, discothèque.
Como há muito tempo não acontecia, em várias passagens o novo disco lembra profundamente o trabalho dos Talking Heads, em especial na música de abertura, "UB Jesus", em "Neighborhood" e também em "Like Humans Do".
Essa última, algo do que há de melhor no CD, é bem pop e evoca sua ex-banda da fase "Naked" (88) ou, mais pelo nome da canção, da época do brilhante "Little Creatures" (85).
É forçoso notar que africanismos e outras excentricidades já acompanhavam os Talking Heads desde o início, ainda nos anos 70, mas "Like Humans Do" deixa na cabeça que Byrne nesse tempo todo talvez tivesse se globalizado a si próprio.
Identidade esfacelada, Byrne chega a extremos de soar como o experimental/cabeça Tom Waits (em "Broken Things") ou um disco-funkeiro (em "Neighborhood") ou um soul man da Motown ("Walk on Water"). É muita gente numa só, às vezes sufoca.
Bem, se globalização implica superficialidade (para dizer o mínimo), "Look Into the Eyeball" é, sim, um disco superficial. Mas nem é num sentido deletério. Seus discos colonialistas, como "Rei Momo" (89) ou "Uh-Oh" (92), de tão afetados, eram bem mais superficiais.
Aqui Byrne assume a superficialidade pela via do pop, coisa que já ensaiava em "Feelings" (97). O resultado é um disco leve e divertido, saído da cabeça de um cara cerebral demais.
É um feito, e não deixa de fazer jus ao legado dos Talking Heads -qualquer dia ele chega perto de sua ex-colega Tina Weymouth, que não está nem aí e continua se esbaldando no Tom Tom Club (o fofão "The Good, the Bad and the Funky", de 2000, também saiu há pouco no Brasil).



Look Into the Eyeball
   
Artista: David Byrne
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 25, em média




Texto Anterior: De olhos bem abertos
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.