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"LOOK INTO THE EYEBALL"
Byrne lembra ex-banda em disco globalizado
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
À parte um tom algo arrogante, os Talking Heads
eram uma das bandas pop mais
bacanas que havia nos anos 80.
De lá para cá, seu ex-líder David
Byrne passa por um processo
contumaz de globalização, que
vem culminar neste "Look Into
the Eyeball".
É a globalização que movimenta
o disco: "Desconocido Soy" é cantada em espanhol, tipo Manu
Chao; "The Great Intoxication"
tem percussão à baiana misturada
com cordas que simulam a erudição de algum recanto austríaco;
"The Moment of Conception" faz
pseudotecno europeu com percussão; aqui e ali chovem pingos
de mambos, rumbas,
rhythm'n'blues, discothèque.
Como há muito tempo não
acontecia, em várias passagens o
novo disco lembra profundamente o trabalho dos Talking Heads,
em especial na música de abertura, "UB Jesus", em "Neighborhood" e também em "Like Humans Do".
Essa última, algo do que há de
melhor no CD, é bem pop e evoca
sua ex-banda da fase "Naked"
(88) ou, mais pelo nome da canção, da época do brilhante "Little
Creatures" (85).
É forçoso notar que africanismos e outras excentricidades já
acompanhavam os Talking
Heads desde o início, ainda nos
anos 70, mas "Like Humans Do"
deixa na cabeça que Byrne nesse
tempo todo talvez tivesse se globalizado a si próprio.
Identidade esfacelada, Byrne
chega a extremos de soar como o
experimental/cabeça Tom Waits
(em "Broken Things") ou um disco-funkeiro (em "Neighborhood") ou um soul man da Motown ("Walk on Water"). É muita
gente numa só, às vezes sufoca.
Bem, se globalização implica superficialidade (para dizer o mínimo), "Look Into the Eyeball" é,
sim, um disco superficial. Mas
nem é num sentido deletério.
Seus discos colonialistas, como
"Rei Momo" (89) ou "Uh-Oh"
(92), de tão afetados, eram bem
mais superficiais.
Aqui Byrne assume a superficialidade pela via do pop, coisa
que já ensaiava em "Feelings"
(97). O resultado é um disco leve e
divertido, saído da cabeça de um
cara cerebral demais.
É um feito, e não deixa de fazer
jus ao legado dos Talking Heads
-qualquer dia ele chega perto de
sua ex-colega Tina Weymouth,
que não está nem aí e continua se
esbaldando no Tom Tom Club (o
fofão "The Good, the Bad and the
Funky", de 2000, também saiu há
pouco no Brasil).
Look Into the Eyeball
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Artista: David Byrne
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 25, em média
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