São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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"Testo os limites da música", diz Nakamura

MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO

O homem por trás do Gorillaz não poderia ser alguém mais indicado que o descendente de japoneses e havaianos Dan Nakamura. Também conhecido como The Automator, Nakamura é uma das figuras das quais o pop mais precisa nos anos 2000. Ousado, elegante, sarcástico e inteligente, esse produtor nascido e criado em San Francisco injeta frescor e enxerga o que a maioria não vê na música.
Originário do hip hop ("é o que amo fazer desde sempre"), Nakamura é um dos produtores do gênero mais respeitados no mundo, se o quesito respeito estiver ligado à originalidade, e não simplesmente a vendas de discos.
Nakamura passeia fácil por rock, "turntablism" (algo como excelência em manipular as picapes), eletrônica, o que for. Hip hop é o que ele adora, mas não se circunscreve a isso. "Sempre procuro fazer coisas diferentes, com pessoas interessantes das mais diversas áreas. Acho que é por aí. Vou testando os limites da música. É divertido", disse o produtor em entrevista exclusiva e inédita ao Brasil, da gravadora independente 75 Ark, onde "faço umas coisas, supervisiono a qualidade", completa, para soltar uma sonora gargalhada na sequência.
E quem teve a idéia de criar uma banda de cartum, como Gorillaz? "Deixa eu ver... As pessoas envolvidas nesse projeto estavam numa festa com Damon [Albarn, vocalista do Blur" e Jamie [Hewlett, criador do desenho cult "Tank Girl'", pensaram num disco e me chamaram para participar. Simples assim", diz, já engatando a risada peculiar.
"Nunca havia trabalhado com Albarn, mas nos encontrávamos socialmente. E eu sabia que ele era canhoto como eu e, de certa forma, o respeitava por isso... Ele também estudou violino, aprendeu a ler músicas, então temos um background em comum", afirmou, ainda mais irônico.
Os shows do Gorillaz são complicados, segundo Nakamura -até agora só houve um, em Londres. "Os personagens ganham forma tridimensional, que aparecem em telas gigantes no palco. Os equipamentos são sofisticados com projetores de 1,8 metro de altura, e a iluminação é especial, já que só dá para enxergar a "banda" de certos ângulos."
"Gorillaz" é o álbum mais recente no qual Nakamura está envolvido que está nas lojas (do Reino Unido por ora), mas ele anda fazendo vários outros trabalhos desde então e ao mesmo tempo -não sem motivo The Automator é seu apelido.
"Atualmente estou trabalhando em dois álbuns: "Music to Make Love to Your Old Lady Buy", meu álbum [dele próprio só há um EP lançado, "A Better Tomorrow", de 1996, e "A Much Better Tomorrow", um álbum de 2000 que revisita esse EP", e o segundo disco do Handsome Boy Modelling School [projeto estiloso em pareceria com o rapper Prince Paul, cuja estréia é "So... How's Your Girl?", de 1999, que debocha do glamour do mundo da moda e aparências"."
Também está produzindo faixas para o disco solo de Zack de la Rocha, ex-Rage Against the Machine, e finalizou a mixagem do próximo álbum do Prodigy, que deve sair neste ano.
Cornershop, Jon Spencer Blues Explosion, Sean Lennon, Q-Bert, Kid Koala e Money Mark são alguns dos artistas com quem Nakamura já trabalhou, seja mixando, produzindo ou participando de seus álbuns.
Violinista clássico, Nakamura começou sua carreira discotecando em festas colegiais de San Francisco, por volta de 1984. "O que faço hoje nada mais é do que o que Public Enemy, Mantronix, Whodini e grupos afins faziam há dez, 15 anos. Todos esses grupos são um grande background para mim. Sou uma versão anos 2000 do hip hop dos anos 80."
Em 1996, Nakamura ganhou o status que tem hoje com o álbum "Dr. Octagonecologyst", estréia de Dr. Octagon, um dos apelidos do rapper Kool Keith. E a música pop ganhou substância e ironia.


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