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"Testo os limites da música", diz Nakamura
MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO
O homem por trás do Gorillaz
não poderia ser alguém mais indicado que o descendente de japoneses e havaianos Dan Nakamura. Também conhecido como The
Automator, Nakamura é uma das
figuras das quais o pop mais precisa nos anos 2000. Ousado, elegante, sarcástico e inteligente, esse
produtor nascido e criado em San
Francisco injeta frescor e enxerga
o que a maioria não vê na música.
Originário do hip hop ("é o que
amo fazer desde sempre"), Nakamura é um dos produtores do gênero mais respeitados no mundo,
se o quesito respeito estiver ligado
à originalidade, e não simplesmente a vendas de discos.
Nakamura passeia fácil por
rock, "turntablism" (algo como
excelência em manipular as picapes), eletrônica, o que for. Hip
hop é o que ele adora, mas não se
circunscreve a isso. "Sempre procuro fazer coisas diferentes, com
pessoas interessantes das mais diversas áreas. Acho que é por aí.
Vou testando os limites da música. É divertido", disse o produtor
em entrevista exclusiva e inédita
ao Brasil, da gravadora independente 75 Ark, onde "faço umas
coisas, supervisiono a qualidade",
completa, para soltar uma sonora
gargalhada na sequência.
E quem teve a idéia de criar uma
banda de cartum, como Gorillaz?
"Deixa eu ver... As pessoas envolvidas nesse projeto estavam numa festa com Damon [Albarn, vocalista do Blur" e Jamie [Hewlett,
criador do desenho cult "Tank
Girl'", pensaram num disco e me
chamaram para participar. Simples assim", diz, já engatando a risada peculiar.
"Nunca havia trabalhado com
Albarn, mas nos encontrávamos
socialmente. E eu sabia que ele era
canhoto como eu e, de certa forma, o respeitava por isso... Ele
também estudou violino, aprendeu a ler músicas, então temos
um background em comum",
afirmou, ainda mais irônico.
Os shows do Gorillaz são complicados, segundo Nakamura
-até agora só houve um, em
Londres. "Os personagens ganham forma tridimensional, que
aparecem em telas gigantes no
palco. Os equipamentos são sofisticados com projetores de 1,8 metro de altura, e a iluminação é especial, já que só dá para enxergar
a "banda" de certos ângulos."
"Gorillaz" é o álbum mais recente no qual Nakamura está envolvido que está nas lojas (do Reino Unido por ora), mas ele anda
fazendo vários outros trabalhos
desde então e ao mesmo tempo
-não sem motivo The Automator é seu apelido.
"Atualmente estou trabalhando
em dois álbuns: "Music to Make
Love to Your Old Lady Buy", meu
álbum [dele próprio só há um EP
lançado, "A Better Tomorrow", de
1996, e "A Much Better Tomorrow", um álbum de 2000 que revisita esse EP", e o segundo disco do
Handsome Boy Modelling School
[projeto estiloso em pareceria
com o rapper Prince Paul, cuja estréia é "So... How's Your Girl?", de
1999, que debocha do glamour do
mundo da moda e aparências"."
Também está produzindo faixas para o disco solo de Zack de la
Rocha, ex-Rage Against the Machine, e finalizou a mixagem do
próximo álbum do Prodigy, que
deve sair neste ano.
Cornershop, Jon Spencer Blues
Explosion, Sean Lennon, Q-Bert,
Kid Koala e Money Mark são alguns dos artistas com quem Nakamura já trabalhou, seja mixando, produzindo ou participando
de seus álbuns.
Violinista clássico, Nakamura
começou sua carreira discotecando em festas colegiais de San
Francisco, por volta de 1984. "O
que faço hoje nada mais é do que
o que Public Enemy, Mantronix,
Whodini e grupos afins faziam há
dez, 15 anos. Todos esses grupos
são um grande background para
mim. Sou uma versão anos 2000
do hip hop dos anos 80."
Em 1996, Nakamura ganhou o
status que tem hoje com o álbum
"Dr. Octagonecologyst", estréia
de Dr. Octagon, um dos apelidos
do rapper Kool Keith. E a música
pop ganhou substância e ironia.
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