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VISUAIS
Dos 1.566 trabalhos da Cid Collection que a Justiça
decidiu depositar no museu paulistano, 1.427 são fotografias
MAC quer mostrar obras da coleção no segundo semestre
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1974, duas exposições de fotógrafos franceses, Brassaï e Henri Cartier-Bresson, foram organizadas no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de
São Paulo (MAC), pelo seu então
diretor, Walter Zanini, para introduzir a fotografia no museu.
A mostra, que teve apoio do
Museu de Arte Moderna de Nova
York, primeira instituição a incluir fotografia como arte em seu
acervo, deixou como legado uma
única foto de Cartier-Bresson,
doada pelo fotógrafo. Desde então, o MAC passou a colecionar
também fotografia, com um núcleo significativo -50 0 obras fotográficas num total de cerca de
8.000 obras do acervo.
Mas no final do ano passado,
seis fotos de Brassaï (algumas das
quais exibidas há 32 anos pela instituição) chegaram ao museu
acompanhadas de outras 1.421
imagens. Isso ocorreu graças à decisão do juiz Fausto Martin de
Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal, que, no dia 6 de dezembro, fez
com que o ex-proprietário do
Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, deixasse de ser o "depositário
judicial" de sua coleção, distribuindo por museus públicos da
cidade, como depositários, obras
compatíveis com seus acervos. Ao
MAC coube todo o conjunto de
arte contemporânea.
"Eu passei a acreditar em Papai
Noel ", brinca a pesquisadora do
MAC e responsável pelo setor de
fotografia do museu, Helouise
Costa. "De repente minha vida
mudou; com esse acervo aumentou muito a possibilidade de pesquisa e exposições no museu",
conta Costa.
Até então, apenas o próprio colecionador e os funcionários da
Cid Collection conheciam de fato
seu conteúdo, especialmente as
obras de arte contemporâneas,
que nunca haviam sido exibidas.
A primeira mostra de fotos estava
prevista para 2005, na Maison Européenne de la Photographie, em
Paris, por ocasião do ano do Brasil na França -evento cancelado
após a falência do banco.
Com exclusividade, a Folha obteve a lista das 1.566 obras de arte
contemporânea da Cid Collection
em depósito no MAC. Desse total,
91%, ou seja, 1.427 são fotografias.
Há ainda 93 pinturas, 44 gravuras, uma instalação e um objeto.
"O MAC passou a ter a melhor coleção de fotografias do Brasil", comemora Costa, que, entretanto,
evita estimar um valor do conjunto: "Ainda precisamos identificar
se as imagens são "vintage", isto é,
ampliadas pelo próprio artista,
cinco anos após a realização da foto, ou simples ampliações, o que
mudaria muito os valores."
Fora as fotografias, o acervo fica
ainda enriquecido por obras como uma pintura do inglês Damien Hirst, com bolas coloridas,
que vale mais de US$ 500 mil, e o
famoso painel de Frank Stella, que
já se encontra em exposição na sede do MAC, na USP.
Foram precisos dois meses para
o museu realizar o levantamento
das obras, com a condição de não
se recorrer a listas do ex-banqueiro ou mesmo ex-funcionários.
"Depois de terminados os trabalhos, e comparando com uma
lista apreendida pela Justiça, percebemos que há obras lá que não
localizamos, mas como nem tudo
foi identificado, é melhor aguardar um pouco para dar detalhes
desse nível", diz Costa.
A pesquisadora dividiu a coleção em sete núcleos: fotografia do
século 19, fotografia humanista
francesa das décadas de 30 e 40,
fotografia japonesa, fotografia
moderna, de moda, documental e
contemporânea (veja destaques
ao lado). "Se há uma questão temática que alinhe todos esses núcleos é a nudez feminina, conteúdo gritante na coleção. Só de Marilyn Monroe há uma quantidade
imensa de imagens ", afirma.
Apenas no segundo semestre
parte da nova coleção começará a
ser exibida. Segundo Costa, "a
previsão é que a primeira mostra
trate da fotografia moderna e a
tensão entre foto experimental e
foto documental, mostrando que
ambas não são excludentes".
A permanência do acervo no
MAC ainda depende de decisão
judicial, mas é vista com esperança pela pesquisadora. "Foi um ato
exemplar que o juiz passasse uma
coleção desse nível para um museu público; espero que essa decisão seja mantida", conclui Costa.
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