São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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VISUAIS

Dos 1.566 trabalhos da Cid Collection que a Justiça decidiu depositar no museu paulistano, 1.427 são fotografias

MAC quer mostrar obras da coleção no segundo semestre

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1974, duas exposições de fotógrafos franceses, Brassaï e Henri Cartier-Bresson, foram organizadas no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC), pelo seu então diretor, Walter Zanini, para introduzir a fotografia no museu.
A mostra, que teve apoio do Museu de Arte Moderna de Nova York, primeira instituição a incluir fotografia como arte em seu acervo, deixou como legado uma única foto de Cartier-Bresson, doada pelo fotógrafo. Desde então, o MAC passou a colecionar também fotografia, com um núcleo significativo -50 0 obras fotográficas num total de cerca de 8.000 obras do acervo.
Mas no final do ano passado, seis fotos de Brassaï (algumas das quais exibidas há 32 anos pela instituição) chegaram ao museu acompanhadas de outras 1.421 imagens. Isso ocorreu graças à decisão do juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal, que, no dia 6 de dezembro, fez com que o ex-proprietário do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, deixasse de ser o "depositário judicial" de sua coleção, distribuindo por museus públicos da cidade, como depositários, obras compatíveis com seus acervos. Ao MAC coube todo o conjunto de arte contemporânea.
"Eu passei a acreditar em Papai Noel ", brinca a pesquisadora do MAC e responsável pelo setor de fotografia do museu, Helouise Costa. "De repente minha vida mudou; com esse acervo aumentou muito a possibilidade de pesquisa e exposições no museu", conta Costa.
Até então, apenas o próprio colecionador e os funcionários da Cid Collection conheciam de fato seu conteúdo, especialmente as obras de arte contemporâneas, que nunca haviam sido exibidas. A primeira mostra de fotos estava prevista para 2005, na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, por ocasião do ano do Brasil na França -evento cancelado após a falência do banco.
Com exclusividade, a Folha obteve a lista das 1.566 obras de arte contemporânea da Cid Collection em depósito no MAC. Desse total, 91%, ou seja, 1.427 são fotografias.
Há ainda 93 pinturas, 44 gravuras, uma instalação e um objeto. "O MAC passou a ter a melhor coleção de fotografias do Brasil", comemora Costa, que, entretanto, evita estimar um valor do conjunto: "Ainda precisamos identificar se as imagens são "vintage", isto é, ampliadas pelo próprio artista, cinco anos após a realização da foto, ou simples ampliações, o que mudaria muito os valores."
Fora as fotografias, o acervo fica ainda enriquecido por obras como uma pintura do inglês Damien Hirst, com bolas coloridas, que vale mais de US$ 500 mil, e o famoso painel de Frank Stella, que já se encontra em exposição na sede do MAC, na USP.
Foram precisos dois meses para o museu realizar o levantamento das obras, com a condição de não se recorrer a listas do ex-banqueiro ou mesmo ex-funcionários.
"Depois de terminados os trabalhos, e comparando com uma lista apreendida pela Justiça, percebemos que há obras lá que não localizamos, mas como nem tudo foi identificado, é melhor aguardar um pouco para dar detalhes desse nível", diz Costa.
A pesquisadora dividiu a coleção em sete núcleos: fotografia do século 19, fotografia humanista francesa das décadas de 30 e 40, fotografia japonesa, fotografia moderna, de moda, documental e contemporânea (veja destaques ao lado). "Se há uma questão temática que alinhe todos esses núcleos é a nudez feminina, conteúdo gritante na coleção. Só de Marilyn Monroe há uma quantidade imensa de imagens ", afirma.
Apenas no segundo semestre parte da nova coleção começará a ser exibida. Segundo Costa, "a previsão é que a primeira mostra trate da fotografia moderna e a tensão entre foto experimental e foto documental, mostrando que ambas não são excludentes".
A permanência do acervo no MAC ainda depende de decisão judicial, mas é vista com esperança pela pesquisadora. "Foi um ato exemplar que o juiz passasse uma coleção desse nível para um museu público; espero que essa decisão seja mantida", conclui Costa.


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