São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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BIA ABRAMO

Falta graça aos novos humorísticos


Entre o popularesco e o pretensamente sofisticado, faltam às séries da Globo justamente a graça e a capacidade de fazer rir

O QUE há de errado com os programas de humor da Globo?
Nenhum dos três títulos que a emissora estreou em abril, "Casos e Acasos", "Dicas de Um Sedutor" e "Faça a Sua História", consegue mover o espectador muito além de um risinho amarelo.
Dos três, "Casos e Acasos" é o que tem mais potencial para decolar. A idéia até que é bem boa: a cada episódio, três histórias que iniciam aparentemente sem relação entre si acabam se tocando mais ou menos por acaso e tendo seu desfecho alterado por essa interferência. O problema é que as situações acabam apelando um pouco para o já ridículo, o que torna a piada muito óbvia.
Os diálogos, em geral bem fracos, dependem e muito do traquejo dos atores, o que nem sempre funciona. "Dicas de Um Sedutor" recicla idéias de "Minha Nada Mole Vida".
A série tem Luiz Fernando Guimarães no papel central, agora como um conselheiro sentimental que convive com uma filha adolescente e problemática e, claro, se envolve em uma série de casos amorosos. De novo, o argumento já antecipa (e tira a graça) das situações cômicas, todas elas, de cara, meio absurdas. Além disso, apesar de ter um talento inegável para a comédia, Luiz Fernando Guimarães parece estar preso sempre mais ou menos ao mesmo tipo, o bofe vaidoso e sem noção, desde "Os Normais".
"Faça a Sua História" já parte de um clichê, aquele que supõe o taxista como um observador da vida urbana, quase que um protagonista involuntário de uma série de dramas humanos. Nem o carisma de Wladimir Brichta, o Osvaldir (e por que é mesmo que os tipos populares têm de ter nomes considerados "engraçados" pela classe média?), nem o de Carla Marins, que interpreta a mulher ciumenta e controladora do motorista de táxi, salvam o programa dos roteiros mal-ajambrados, dos lugares-comuns e de uma concepção folclorizada, beirando o preconceituoso, dos tipos urbanos.
Se os novos não convencem, aqueles que estão há tempos no ar também carecem de renovação. O humor do "Casseta & Planeta" enfrenta -e perde- a concorrência tanto com o "Pânico" como com o "CQC"; "Zorra Total" insiste no humor popularesco e de fórmulas repetitivas.
Entre o popularesco e o pretensamente sofisticado, faltam às séries de humor da Globo justamente a graça e a capacidade de fazer rir. A exceção que confirma a regra é "A Grande Família", que, mesmo depois de tantos anos no ar (começou a ser exibida em 2001), mantém a qualidade e o frescor.

biabramo.tv@uol.com.br


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