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Televisão - Crítica
Pingüins são defesa para monogamia
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nem sempre o filme tem relação com seu resultado. Quando se poderia imaginar, por
exemplo, que "A Marcha dos
Pingüins" (HBO Plus, 14h30)
seria usado como argumento
para defender a monogamia?
Trata-se de um documentário competente, do francês Luc
Jacquet, sobre a migração do
pingüim imperador, que todo
ano deixa a Antártica e parte
em grupo para uma travessia
sacrificada que conduz a uma
região inóspita, local de acasalamento da espécie.
Todos acreditamos nas virtudes da adaptação, isto é, que os
seres são aptos a viver nas condições em que vivem. Sabemos
que os pingüins não sobrevivem no calor. No entanto, sua
marcha tem um quê de militar.
Ela nos lembra os infortúnios
do exército em "Mortos que
Caminham", de Samuel Fuller:
a uma tarefa infernal seguia-se,
imediatamente, outra pior.
Pingüins são sobreviventes.
O absurdo de usá-los como
argumento para a monogamia
é óbvio: não somos pingüins.
No entanto, a antropoformização da espécie é compreensível:
o pingüim parece um humano
(impossível não lembrar dos
garçons às antigas), seu andar e
sua luta para sobreviver lhe
conferem uma dignidade que
remete a destinos humanos.
No entanto, não é assim.
Tanto os adeptos da monogamia como os capazes de admirar o coletivismo de certas espécies podem se encantar com
seus hábitos.
Mas o homem é outra coisa,
um ser de linguagem.
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