São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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Televisão - Crítica

Pingüins são defesa para monogamia

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nem sempre o filme tem relação com seu resultado. Quando se poderia imaginar, por exemplo, que "A Marcha dos Pingüins" (HBO Plus, 14h30) seria usado como argumento para defender a monogamia?
Trata-se de um documentário competente, do francês Luc Jacquet, sobre a migração do pingüim imperador, que todo ano deixa a Antártica e parte em grupo para uma travessia sacrificada que conduz a uma região inóspita, local de acasalamento da espécie.
Todos acreditamos nas virtudes da adaptação, isto é, que os seres são aptos a viver nas condições em que vivem. Sabemos que os pingüins não sobrevivem no calor. No entanto, sua marcha tem um quê de militar. Ela nos lembra os infortúnios do exército em "Mortos que Caminham", de Samuel Fuller: a uma tarefa infernal seguia-se, imediatamente, outra pior. Pingüins são sobreviventes.
O absurdo de usá-los como argumento para a monogamia é óbvio: não somos pingüins. No entanto, a antropoformização da espécie é compreensível: o pingüim parece um humano (impossível não lembrar dos garçons às antigas), seu andar e sua luta para sobreviver lhe conferem uma dignidade que remete a destinos humanos.
No entanto, não é assim. Tanto os adeptos da monogamia como os capazes de admirar o coletivismo de certas espécies podem se encantar com seus hábitos.
Mas o homem é outra coisa, um ser de linguagem.


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