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Peruanos são atração em festival de teatro
Grupo Yuyachkani abre hoje evento que acontece até domingo no CCSP
Coletivo dá sua versão a passagens históricas no Peru do século 20, em peça de tom documental; o Galpão mostra obra em progresso
VALMIR SANTOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LIMA
Alberto Fujimori e o grupo
guerrilheiro Sendero Luminoso viraram sinônimos de violência e autoritarismo no Peru
contemporâneo. A condenação
do ex-presidente a 25 anos de
cadeia, no mês passado, e a vitória do filme "La Teta Asustada" (sobre filhas de mulheres
estupradas durante o conflito
com a guerrilha) no Festival de
Berlim deste ano põem a revisão histórica na ordem do dia.
Quem dá a sua versão teatral
para essas e outras passagens
do século 20 peruano é o Grupo
Cultural Yuyachkani, coletivo
surgido há 38 anos e batizado
com a expressão do idioma
quéchua, que significa "estou
pensando, estou recordando".
O Yuyachkani abre hoje a 4ª
Mostra Latino-Americana de
Teatro de Grupo com seu espetáculo mais recente, "El Último
Ensayo" (2008). Durante uma
semana, o evento gratuito da
Cooperativa Paulista de Teatro
reúne, no Centro Cultural São
Paulo, 12 produções de seis países, sete nacionais e cinco estrangeiras (veja destaques em
quadro nesta página).
No enredo, sete artistas preparam homenagem a uma diva
legendária do canto lírico. São
cantores, instrumentistas e
dançarinos sob a batuta de uma
maestrina. Enquanto aguardam, partitura à parte, desfilam
idiossincrasias pessoais ou profissionais que terminam por dizer mais a respeito do país onde
vivem: a bandeira peruana ziguezagueia o tempo todo em
busca de um lugar.
Arte e vida
A ação transcorre num velho
teatro, outrora uma sala de cinema. "El Último Ensayo" deseja colocar em xeque noções
de representação e de presença. A criação colaborativa dirigida por Miguel Rubio Zapata e
escrita por Peter Elmore é alinhada ao teatro documento,
que ganha corpo no repertório
do grupo nesta década.
Segundo Zapata, a ideia é diluir fronteiras entre arte/vida,
ficção/realidade em peças, instalações, performances ou intervenções. Conhecido pelo
ativismo na celebração da cultura popular andina, o Yuyachkani desenvolveu ações em várias cidades durante audiências
públicas de uma comissão que
rastreou 69 mil crimes e violações aos direitos humanos entre 1980 e 2000.
O tom documental é emoldurado em alguns momentos com
a projeção de imagens em preto
e branco de figuras representativas do poder político. Desfilam Fujimori, George W. Bush,
Fidel Castro, Lula etc.
Sob o tema "Tradição e Atualidade", a mostra traz ainda o
uruguaio El Galpón, que completa 60 anos em setembro e
monta "Un Hombre Es un
Hombre" (2008), texto de Bertolt Brecht, com direção de María Azambuya.
O xará brasileiro Galpão, de
Belo Horizonte, que também já
montou "Um Homem É Um
Homem" (2006), agora compartilha um espetáculo em progresso, previsto para junho,
"Till Eulenspiegel" -com texto
de Luis Alberto de Abreu e direção de Júlio Maciel.
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