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EVENTO
Parada gay cresce e ganha versão politizada
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Parada do Orgulho Gay de
São Paulo chegará à sua sétima
edição no próximo dia 22 crescida
-e politizada. O tema "Construindo Políticas Homossexuais"
norteará as discussões, que na
versão 2003 ocuparão todo o mês
de junho.
Começa hoje uma intensa programação cultural, que inclui, entre outros lances, a mostra "O Homoerotismo no Cinema Brasileiro", uma agenda de shows com
Chico César, Textículos de Mary e
outros, ciclo de leituras de peças
de jovens dramaturgos, exposições de artes plásticas e fotografia.
Tais eventos e uma programação de debates sobre políticas homossexuais se somam, neste ano,
às já habituais comemorações da
parada e do "Gay Day" no parque
de diversões Hopi Hari.
O investimento estimado pela
Associação da Parada do Orgulho
de Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros (APOGLBT) é de
R$ 650 mil. Fato novo, R$ 300 mil
desse orçamento virão de patrocínios da Volkswagen e da agência
de publicidade Almap.
Os eventos do "mês do orgulho
gay" contam ainda com apoio
institucional da Prefeitura de São
Paulo e dos ministérios da Saúde e
da Cultura. A APOGLBT afirma
que convidará o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva para participar da parada.
Para o coordenador de educação, cultura e eventos da associação, Renato Baldin, a conquista de
patrocínios pode significar uma
quebra de tabu, mas ainda parcial. "Ainda existe um tabu muito
grande, o preconceito ainda supera iniciativas como essa", diz.
A guinada rumo à politização é
menos intensa do que parece,
afirma Baldin. "O tom de festa é
dado mais pela mídia e pelas pessoas. O tema deste ano casa com o
que a associação vem pretendendo desde a primeira parada."
Ele completa: "Todo tipo de
evento é político, sempre, e a política não precisa ser necessariamente chata. Ela pode estar relacionada com o orgulho, com os
direitos humanos, com o ganho
de auto-estima que a parada significa para muitas pessoas".
Militante histórico ds direitos
homossexuais no Brasil, o escritor
João Silvério Trevisan cita o amadurecimento do movimento nos
últimos anos, com ápice na reunião de 500 mil pessoas na parada
paulistana de 2002. E defende a
inserção de linguagem política esboçada neste ano.
"Por incrível que pareça, ainda é
nova no Brasil a idéia de que precisamos de políticas homossexuais, tanto quanto existem políticas de mulheres, de negros, de
adolescente, de índios etc.", diz.
Na mesma direção, Baldin critica a situação ainda vigente: "Ainda nos falta o olhar político, dos
governantes, para a questão homossexual. Ainda faltam ao Brasil
mecanismos legais para promover a igualdade a esses cidadãos".
Mencionando o ciclo de debates
(que começa na próxima segunda, na biblioteca Mário de Andrade) e o show do grupo punk-gay pernambucano Textículos de
Mary como destaques da programação, Trevisan estabelece uma
ponte entre o mês do orgulho gay
e a história da arte em São Paulo.
Refere-se à entrega, no domingo passado, no Teatro Municipal,
do prêmio Cidadania pela Diversidade, instituído pela APOGLBT.
"No mesmo local onde ocorreu
a transgressiva Semana de Arte
Moderna, em 1922, foi delicioso
ver, ao lado da população homossexual mais comportada, um espetáculo de bom humor e subversão, com fadinhas, drag queens
vestidas à moda do século 18, travestis e dragões", descreve.
Baldin afirma que o foco político não colocará a perigo o caráter
festivo da parada. "Ela é muito rápida, mas seus efeitos não se realizam num dia. É um evento de visibilidade instantânea e de auto-estima, que pode fazer com que as pessoas estendam a militância daquele dia às suas próprias vidas."
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