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Ravi Coltrane encara a sombra do pai no jazz
Saxofonista se apresenta no Brasil e diz estar em busca de um estilo pessoal
Músico fala sobre o material que deve entrar nos shows no país e afirma que os artistas de hoje são mais realistas do que no passado
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não é fácil seguir a mesma
profissão do pai, ainda mais se
ele for um ídolo quase sagrado,
como o saxofonista John Coltrane (1926-1967). É com essa
sombra que o norte-americano
Ravi Coltrane, 41, vem lidando
desde o início dos anos 80,
quando decidiu encarar o mesmo instrumento do pai e se tornar músico de jazz.
Atração do festival Bourbon
Street Jazz Nights, amanhã, em
São Paulo, e do Rio das Ostras
Jazz & Blues Festival (Rio de
Janeiro), nos dias 8 e 9, Ravi
surpreende pela extrema humildade. Mesmo depois de tocar e gravar com diversos jazzistas de primeira linha, além
de já ter lançado quatro álbuns,
ele ainda não considera que já
desenvolveu um estilo pessoal.
"Não acho que já tenha encontrado minha própria voz,
realmente, na música", disse à
Folha, por telefone, de Nova
York, onde vive. "Sinto que ainda estou no caminho para essa
descoberta pessoal. Ainda tenho muito trabalho pela frente,
tenho muito para aprender."
Quem ouvir "In Flux", seu último álbum, ainda inédito por
aqui, vai estranhar essa afirmação. Mais maduro do que em
sua primeira aparição no Brasil
(no Free Jazz Festival, em
2000), Ravi mostra ter evoluído bastante. Seus improvisos
ganharam consistência. As
composições são mais originais. Seu fraseado e sonoridade
já não lembram tanto Joe Henderson ou Wayne Shorter.
Ravi fala pouco sobre o pai.
Tinha só dois anos quando ele
morreu, no auge da carreira,
em decorrência de um câncer
no fígado. Na verdade, sua primeira grande influência musical foi sua mãe, a pianista Alice
Coltrane, cuja morte, em janeiro último, ainda parece abatê-lo profundamente.
"Os últimos meses sem minha mãe foram muito difíceis e
confusos para mim. Ela era
uma pessoa muito forte que enfrentou grandes perdas na vida.
Perdeu os pais e o marido aos
30 anos. Perdeu meu irmão,
morto em um acidente de carro. Mesmo enfrentando tantas
perdas, ela seguiu em frente,
sempre com muita força", relembra o músico.
Ravi admite que, desde a
morte da mãe, não tem conseguido se concentrar como gostaria na preparação de seu novo
disco. Nessa gravação, vai contar com Luis Perdomo (piano),
Drew Gress (baixo) e E.J. Strickland (bateria), os mesmos músicos que participaram do álbum "In Flux" e vão acompanhá-lo em seus shows no Brasil.
"Temos tocado coisas de minha autoria, incluindo material
que ainda não foi gravado, além
de composições de outros músicos da banda", diz o saxofonista, avisando que não costuma tocar standards. "De vez em
quando, tocamos alguma coisa
de minha mãe ou de meu pai,
mas tentamos manter o foco
sobre nossa própria música."
Sobre a cena atual do jazz,
Ravi admite que não tem tido
muito tempo para acompanhar
o que acontece nos clubes de
Nova York, mas acha que os
músicos de hoje revelam um
senso de realidade maior do
que no passado.
"A ambição de virar astro do
jazz, de se ver em capas de revistas ou de conquistar garotas
contribuiu para que muitos
perdessem o rumo", comenta.
"Os músicos de hoje sabem que
o estrelato é uma fantasia. Você
tem que tocar porque ama a
música, não pelo que espera ganhar com ela. Hoje os músicos
tocam com mais sinceridade,
tentam ser mais pessoais, em
vez de copiar o que faz sucesso", conclui.
RAVI COLTRANE
Quando: amanhã, às 22h
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo;
tel. 0/xx/11/ 5095-6100)
Quanto: R$ 95 (antecipado); R$ 120
(no dia)
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