São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coleção resgata vozes notáveis dos anos 50 e 60

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Com razão, Caetano Veloso sempre afirmou que João Gilberto não surgiu com a bossa nova, em 1959, como um contraponto aos principais cantores das décadas anteriores, e sim dentro de uma "linha evolutiva" da música brasileira.
Mas há uma série de intérpretes que fizeram sucesso nos anos 50 e 60 que foram ficando à margem dessa linha, como se, por não terem a maciez potente de Orlando Silva ou o balanço revolucionário de João, merecessem um segundo plano. A coleção "Grandes Vozes" tenta reduzir essa injustiça.
Como a idéia foi lançar as coletâneas a preços baixos, não há encartes minuciosos nos 15 CDs, mas o pesquisador Rodrigo Faour consegue resumir nas contracapas o estilo e a importância dos intérpretes.
Um dos que mais merecem atenção é o paulista Agostinho dos Santos, excelente cantor de sambas e sambas-canções que morreu tragicamente em 1973, num acidente aéreo. Esquecido hoje, ele brilhou cantando "A Felicidade" e "Manhã de Carnaval" no filme "Orfeu Negro". Elas estão no CD ao lado de "Canção da Volta", "Pra que Chorar", "Não Tem Solução" e outros clássicos.
A coleção ainda traz outros cinco ótimos cantores. Dick Farney podia até ser deslumbrado na sua americanofilia, mas sua voz doce e grave foi o melhor canal para sambas-canções como "Copacabana".
Outro craque dos sambas-canções, Tito Madi se diferenciava por gravar suas próprias composições: "Cansei de Ilusões", "Chove Lá Fora", "Não Diga Não" etc. Já Miltinho é, principalmente, o homem do samba sincopado, das divisões espertas, como em "Ri".
Com voz para cantar qualquer coisa, Jorge Goulart acabou notabilizado por marchinhas, como "Cabeleira do Zezé", e pelos sambas-enredo dos anos 70. Mas o CD também lembra seu lado suave, em "Laura". E Cauby Peixoto, o romântico sem medo de excessos, aparece em registros dos anos 70 e 80, como "Bastidores", "Flor de Lis" e "Conceição".
Das cantoras, a maior de todas é Elizeth Cardoso. Sua coletânea cobre 30 anos de carreira, reunindo "Canção de Amor", "Nossos Momentos", "Velho Piano" e outras belas músicas. A dor sincera de Maysa, a fossa grave de Nora Ney, o balanço intimista de Alaíde Costa e a força sem limite de Ângela Maria são outros destaques da série, que ilumina porção ampla e rica da música brasileira.

GRANDES VOZES


Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 12, em média
Avaliação: ótimo



Texto Anterior: Raio-x
Próximo Texto: Filhos de Vicente Paiva e de Severino Araújo criam orquestra
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.