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Filhos de Vicente Paiva e de Severino Araújo criam orquestra
Idéia é homenagear bons compositores e intérpretes hoje em segundo plano
DA SUCURSAL DO RIO
Muita gente pode não saber,
mas um dos autores de "Mamãe Eu Quero", "Disseram que
Voltei Americanizada" e outros
sucessos de Carmen Miranda
se chama Vicente Paiva (1908-1964). E o maestro da mais longeva orquestra de bailes do
país, a Orquestra Tabajara, é
Severino Araújo, 90.
Para não deixar que os nomes e as histórias de seus pais
caiam no esquecimento absoluto, Décio Paiva, 67, e Chiquinho Araújo, 65, estão criando
uma nova orquestra -ainda
sem nome. A idéia principal é
tocar músicas dos homenageados e de outros compositores
brasileiros importantes.
"A orquestra pode ser uma
chama da música brasileira de
qualidade, tocando Ataulfo [Alves], Noel [Rosa], [Dorival]
Caymmi, Cartola e outros. Não
dá para só ter "sai do chão" e
"abaixa a bundinha'", afirma
Paiva, ironizando a axé music.
Enquanto buscam patrocínio, os dois maestros articulam
uma orquestra de 25 pessoas,
com dois cantores. Podem participar intérpretes hoje em segundo plano, como Miltinho,
Tito Madi e Dóris Monteiro.
"Mas também tocaremos as
tradicionais de baile, norte-americanas. Não se pode comer
só feijão com arroz", diz Paiva.
O pianista, organista e vibrafonista preserva o piano em
que seu pai compunha, e onde
ele e sua irmã, Dayse Paiva,
aprenderam música. Preserva
também canções do pai que ficaram inéditas, como "É Bahia,
Sim Senhor".
"Nos EUA, pensam que sou
arquimilionário", diz, referindo-se ao sucesso internacional
de "Mamãe Eu Quero", que não
rende no Brasil, segundo ele,
tanto dinheiro em direitos autorais quanto deveria.
Araújo é baterista e comanda
a Orquestra Cuba Libre, dedicada principalmente a ritmos
caribenhos. Já integrou a Tabajara, mas preferiu trilhar um
caminho separado daquele
mantido por tios e pelo pai há
sete décadas -foi em 1938 que
Severino assumiu o comando
da orquestra, criada cinco anos
antes, na Paraíba, ainda sem o
nome que a tornaria famosa.
"A Tabajara vai continuar
com ou sem meu pai. Mas, infelizmente, ela já foi maior e mais
requisitada. Espero que nossa
orquestra ajude a despertar o
interesse por outras", diz.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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