São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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"Solo" recria tragédias do Ocidente no século 20

Obra de Rana Dasgupta narra a vida de personagem búlgaro centenário

Autor inglês de origem indiana ganhou Prêmio Commonwealth de 2010 e tem primeiro livro lançado no Brasil

Sumeet Inder Singh/Getty Images
Rana Dasgupta, autor de "Solo"

GUILHERME BRENDLER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Só escrevo se for para fazer a Terra tremer." Assim Rana Dasgupta, 39, define seus objetivos na nova profissão. Pretensão? Talvez.
Mas o escritor nascido em Canterbury, na Inglaterra -e com nome, traços, sotaque e identidade indianos-, tem feito sucesso na Europa com a publicação do seu segundo romance, "Solo", o primeiro editado no Brasil.
Em 2010, o livro ganhou o Commonwealth Writer's Prize, prêmio literário de grande prestígio do Reino Unido.
A obra conta a vida de Ulrich, um búlgaro com quase cem anos que viveu boa parte do século 20 em sua terra natal. O autor diz que as tragédias políticas da Bulgária sempre o atraíram.
"Na Inglaterra, as pessoas costumavam dar risada quando ouviam o nome do país. Parecia representar algo sombrio, sem personalidade e sempre relacionado ao comunismo."
Segundo Dasgupta, "a Bulgária é um lugar de muita intensidade. A extraordinária vitalidade e generosidade de seu povo ainda se mantêm longe do modo de vida fútil do resto da Europa".
Rana Dasgupta trabalhou com marketing durante quatro anos em Londres e Nova York. "Aprendi muito", diz ele. "É ótimo para um escritor de ficção ser forçado a lidar com a "realidade"."
O autor começou a escrever seu primeiro livro, "Tóquio: Cancelado" (2005) -a ser publicado no Brasil também pela Benvirá-, aos finais de semana, enquanto trabalhava como consultor. "Essa experiência me fez pensar seriamente em levar a vida de escritor a sério."
Um dos motivos que levaram Dasgupta a produzir a obra era contar uma história de fracasso do Ocidente.
"O livro parece uma fábula absurda das ideias políticas do século passado. Quis criar um personagem que tivesse a vida influenciada por todas essas transações", conta.
"Com o tempo, Ulrich se tornou muito real para mim e me visitava nos meus sonhos para me contar como eu deveria escrever sobre ele."
Dasgupta foi embora de Nova York, onde teria mais acesso à mídia e às grandes editoras do mundo. Belo engano, segundo o escritor.
"Mudei para Nova Déli, na Índia, para ficar com Monica, a mulher que amava. Mas encontrei também um lugar ótimo para escrever."
Londres e Nova York são, para ele, cidades terríveis para escrever.
"Além de passar a maior parte do tempo pensando em como pagar as contas, você tem que se preocupar com a maneira de se vestir e em se tornar uma celebridade. Em Nova Déli, me encontro com a vida", explica.


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