VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Certo dia, os homens tentaram construir uma torre para alcançar Deus nas alturas. Por causa da ambição desmedida, eles foram castigados. O criador disseminou várias línguas (falava-se apenas uma) e o desentendimento provocou confusão e quedas.
A passagem bíblica do livro do "Gênesis" inspira o novo espetáculo da Cia. Circo Mínimo. "Babel" estréia amanhã no teatro da Cultura Inglesa, em São Paulo.
"O roteiro acompanha o surgimento da humanidade, sua evolução e procura por relações que geraram crescimento, civilização e conflitos", afirma o ator e diretor Rodrigo Matheus, 40. Ele concebeu o espetáculo a partir da colaboração do elenco. Os atores Ana Luíza Leão, Geraldo Filet, Ricardo Rodrigues e Ziza Brisola acrescentaram depoimentos pessoais ao texto que inclui citações dos dramaturgos Georg Büchner, Harold Pinter e Peter Handke.
A montagem traça paralelo da Torre de Babel com a globalização: a busca solitária pelo aprimoramento, sobretudo material, em detrimento do coletivo. "Cada um quer propagar sua idéia, mas poucos se permitem ouvir e aprender com a do outro", diz Matheus.
Euforia pela ascensão, angústia pela queda, ensimesmamentos, tudo se dá por meio da movimentação dos atores, de imagens sugeridas em interpretação calcada no circo e no teatro físico.
Os atores ora ocupam o espaço aéreo, dependurados em tecidos, ora vão ao chão. A cenografia de Luciana Bueno e a luz de Wagner Freire exploram a verticalidade das cenas, sugerindo edifícios. A Circo Mínimo completa 15 anos em 2003 e colhe maturidade pela linguagem singular e por repertório pontuado por temas míticos.