São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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ANÁLISE

Radicalismo vai em direção oposta ao que o público brasileiro quer

RODRIGO RUSSO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS

Copiar ideias estrangeiras é algo que a televisão brasileira sempre soube fazer -e às vezes até aperfeiçoando os originais. Mas a proposta de radicalização dos reality shows não deve vingar em solo tupiniquim.
A relação do brasileiro com a programação de TV reflete alguns traços da nossa sociedade, dentre os quais a hipocrisia, um certo desejo de justiça social e uma vontade de se tornar celebridade. Misturar esses três ingredientes é sucesso garantido.
Morte ou maldade explícitas, pelo contrário, causam fuga da audiência e a caça aos responsáveis por tais atrocidades. Basta perceber a queda de audiência da última edição do "radical" "No Limite", da Globo.
Uma exceção deve ser feita ao final dos anos 90, quando programas como "Ratinho Livre" conseguiam liderar a audiência com um circo de bizarrices e horrores, mas não escapavam dos processos judiciais.
Atualmente, o grande filão é dar alguma coisa a desconhecidos: de fama instantânea -alguém sabe onde anda Zina, aquele do bordão "Ronaldo", ou mesmo a hoje bonita Gorete?- a bens materiais, como as casas oferecidas pelos programas de Gugu, Huck e Portiolli.
Mesmo em novelas, o desejo de justiça social se faz presente. Novela sem final feliz é coisa impensável, e os atores que interpretam vilões não raro são alvo de agressão verbal e até mesmo física por parte de pessoas que não sabem distinguir o campo ficcional da realidade.
Dessa forma, radicalizar os realities iria em direção oposta ao que o público brasileiro gosta de consumir na TV: as ilusões de que está tudo bem e de que tudo tem final feliz.


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