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Aracy Balabanian vive escritora em conflito
Aos 66, a atriz protagoniza "Comendo entre as Refeições", de Donald Margulies
Texto dirigido por Walter Lima Jr., que estréia hoje no Teatro Folha, opõe veterana e sua aluna em apropriação de caso de amor do passado
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Aracy Balabanian não teve filhos. Assim como a escritora
consagrada e professora universitária que interpreta na peça "Comendo entre as Refeições", cuja temporada começa
hoje no Teatro Folha.
Muito do instinto materno a
atriz canalizou para sobrinhas
que ajudou a criar e, mais recentemente, para uma afilhada.
Isso para não dizer da variedade de personagens que há 43
anos acolhe no palco, na televisão e no cinema.
"Todos eles, dos quais aparentemente nos apropriamos
ao longo da carreira, nos ajudam a ser melhores como pessoa. Mesmo quando não tão
virtuosos, a gente acaba aprendendo muito", conta Aracy Balabanian, 66. "Sempre tive
preocupação em escolher meus
personagens: é isso que quero
dizer neste momento? É isso
que tenho vontade de trocar
com alguém?"
O conflito de gerações em
"Comendo entre as Refeições",
drama realista do americano
Donald Margulies, lhe interessa sobremaneira. Trata-se do
vínculo entre Ruth Steiner (Balabanian), professora da Universidade Columbia e dona de
obra prestigiada em Nova York,
e a estudante de letras Lisa
(Virginia Cavendish), sua aluna, estagiária e também aprendiz de escritora.
Num dos seus primeiros livros de ficção, sempre sob a tutela de Ruth, Lisa retrata uma
paixão secreta vivida pela professora nos anos 50, sem o consentimento desta -um affair
com o poeta nova-iorquino
pinçado por Margulies da vida
real, Delmore Schwartz (1913-1966), que influenciou artistas
como Lou Reed.
A intimidade tornada pública, ainda que sob o viés ficcional, vira o pomo da discórdia.
Ruth afirma que foi "roubada",
"violentada" em sua intimidade. Lisa contra-argumenta que
escreveu a história em sua homenagem, inclusive sob seus
preceitos de boa literatura.
"É um espetáculo extremamente oportuno, porque fala de
ética, aquela que o Mário Quintana dizia ser estética da alma,
muito importante em tempos
de individualismo absoluto",
diz Balabanian. Ela traça paralelo com sua geração, "de escrúpulos", com as seguintes, que
teriam regredido ao "se você
não fez o que devia, faço eu e
boto meu nome".
A produtora da peça e atriz
com quem contracena, Virginia
Cavendish, 35, diz que a montagem dirigida por Walter Lima
Jr. (segunda incursão do cineasta pelo teatro), que estreou
em fevereiro no Rio, cuida em
não prejulgar. A começar pelo
título original, "Collected Stories", que a tradutora Sueli Cavendish, sua mãe, optou por
"Comendo entre as Refeições"
a "Estórias Roubadas", da versão protagonizada por Beatriz
Segall em 2000, porque já denotaria juízo de valor.
Cavendish, a atriz, lembra
que o autor traz em epígrafe o
irlandês Oscar Wilde, para
quem todo discípulo rouba um
pouco do seu mestre. "No fundo, é quase uma história sobre a
morte e o nascimento de um escritor, narrada pelas duas",
afirma a intérprete da pupila.
COMENDO ENTRE AS REFEIÇÕES
Quando: estréia hoje, às 21h30; sex.,
às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h;
até 1º/10
Onde: Teatro Folha - shopping Pátio
Higienópolis (av. Higienópolis, 618, piso 2, tel. 3823-2323)
Quanto: R$ 35 e R$ 40 (sáb.)
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